|

Samba, cravo e canela

A Imperatriz Leopoldinense, a terceira escola a pisar na Marquês de Sapucaí neste domingo, desfilou um enredo sobre o escritor baiano Jorge Amado. Com carros alegóricos muito grandes, a escola enfrentou uma série de problemas desde o início, o que prejudicou - e muito - a evolução da escola de Ramos.O abre-alas teve dificuldades para se posicionar na entrada da passarela do samba, porque era mais largo que a pista da Avenida Presidente Vargas. O carro entalava a cada poste, o que danificou um pouco a alegoria. Na entrada do segundo carro, novo problema. A ala das baianas teve que passar correndo para não deixar buraco na avenida.
O diretor artístico da agremiação, Edvar Moraes, justificou:
- O carro é muito grande. A diretoria ficou um pouco tensa, pois precisou puxar as alas.
Já o terceiro carro ficou ficou parado no meio da Sapucaí por cerca de cinco minutos, quando a escola já batia os 50 minutos de desfile. A correria dos componentes das alas seguintes acabou tirando um pouco do brilho do desfile, que alternou momentos de correria com longas paradas na Marquês de Sapucaí.
A parte superior do sétimo e último carro, que leva a família do escritor Jorge Amado (sua filha, Paloma, e sobrinhos) desabou na concentração. A alegoria trazia uma figura de Jorge sentado num banquinho e cercado de personagens criados por ele. Mesmo quebrado, o carro entrou na avenida. O destaque Nil Iemanjá, no entanto, foi impedido de desfilar. Choroso, ele se queixava que gostaria de desfilar em meio aos outros integrantes do carro ou no chão,
- Os dirigentes da escola não permitiram, pois disseram que ficaria evidente o problema do carro. Mas todo mundo está vendo que o carro está quebrado - reclamou Nil.
Já Paloma Amado minimizou o problema na alegoria:
- O enredo falando do meu pai já está na avenida. Isso é um detalhe.
Também por causa de falhas na evolução, a comissão de frente da Imperatriz teve que ficar dez minutos a mais, no final da Apoteose, entre os setores 13 e 12:
- Conseguimos passar a ideia do livro "Capitães de Areia". Acabou que as "crianças" - representadas pelos bailarinos - ajudaram a resolver o problema da escola - disse o coreógrafo Alex Neoral, sobre o trabalho dos 15 bailarinos que representaram os personagens do livro de Jorge Amado.
Outro problema foi a desistência de Stella Caymi, neta de Dorival, de sair na Imperatriz Leopoldinense após uma amiga sua desmaiar na concentração. Convidada pela família de Jorge Amado, ela sairia na ala "A Bahia em festa". Segundo Stella, o Corpo de Bombeiros não prestou socorro.
- Minha amiga desmaiou devido ao forte calor e ao peso das fantasias e não pudemos desfilar. Ficamos paradas na calçada por mais de 40 minutos, e o Corpo de Bombeiros não veio socorrer. É um absurdo! Dois agentes de controle de trânsito da concentração que tiveram que nos ajudar. Estamos pegando um táxi para ir para casa.
Quem também passou mal foi a rainha de bateria da verde e branco, Luiza Brunet. Ainda na concentração, a pressão de Luiza caiu e ela teve de ir ao posto médico. Apesar disso, a bela conseguiu levantar a arquibancada, que nada percebeu.
A bateria da escola, aliás, também não fez feio. Com paradinhas ao som de batuques, mestre Noca arrepiou o público. Ele assumiu o cargo há poucos meses do carnaval, e disse que fez poucas mudanças, como colocar mais ritmistas com agogôs:
- Eu coloquei a bateria alegre, solta e com uma boa afinação.
O carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense, Max Lopes, defendeu o enredo da escola e disse que não é igual ao da Portela, que também homenageia a Bahia. O mesmo fez o cantor Elymar Santos, que há 26 anos desfila na escola. Segundo ele, as interpretações sobre o estado baiano são diferentes, já que a Imperatriz entra na Avenida falando sobre o centenário do escritor Jorge Amado. Elymar este ano veio representando o malandro do Pelourinho.
- A minha Bahia tem Jorge Amado, essa aí (a da Portela) não tem - declarou Max, que foi o primeiro carnavalesco a vencer no sambódromo da Marquês de Sapucaí. - Eu não estou falando de um estado, estou falando de um escritor, um dos melhores do mundo.
O carnavalesco não deixou por menos e mostrou sua maior característica na Sapucaí: o luxo. Com muitas penas e paetês, Lopes transformou a Avenida na Salvador de Jorge, com direito a grandes alegorias e muitos orixás. A coroa da escola, toda feita de aluminío, que veio no carro abre-alas, chamou a atenção do público pelo brilho.
A atriz Desirée Oliveira, do programa humorístico "Zorra Total", representou Gabriela no desfile. Ela, que iria reproduzir a cena que a Gabriela sobe no telhado para pegar uma pipa, decidiu não mais escalar o carro alegórico porque seria muito perigoso. A atriz, no entanto, saiu em cima do carro, mas sem fazer a subida.
Na concentração da Imperatriz, Emílio Branco, 85 anos de idade, um dos fundadores da escola, impressionou o neto de Jorge Amado pela sua semelhança com o escritor.

Por O Globo