|

Khadafi tenta negociar com rebeldes

Muammar Khadafi tentou negociar com os rebeldes que tomaram Trípoli na semana passada. Na noite de sábado (27), o porta-voz do ditador, Ibrahim Moussa, telefonou para a agência de notícias americana AP em Nova York para propor uma negociação. A sugestão era para que o filho de Khadafi Saadi comandasse o diálogo com o Conselho Nacional de Transição (CNT).
A oferta foi rejeitada rapidamente. "Nenhuma negociação está sendo feita com Khadafi", afirmou Ali Tarhouni, o membro do CNT responsável pelas questões financeiras e relacionadas ao petróleo. Tarhouni disse à Reuters: "Se ele se render, nós vamos negociar e capturá-lo".

Moussa afirmou no telefonema que está em Trípoli e que Khadafi continua na Líbia. O paradeiro de Khadafi e seus filhos ainda é desconhecido, mas é possível que sua fracassada tentativa de negociação seja um sinal de sua precária situação. Especula-se que o ditador possa estar em algum dos últimos redutos organizados de resistência, a cerca de 40 quilômetros ao sul da capital. Outras possibilidades menos possíveis seriam algum refúgio nas canalizações subterrâneas do rio artificial que abastece a capital; em Sirte, sua cidade natal, ou ainda uma fuga à Argélia.
Além da tentativa frustrada de negociação, o regime de Khadafi teria tentado outra saída para a crise: a ativação de uma plataforma de lançamento móvel de mísseis balísticos Frog 7. A ação foi neutralizada pelas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo o general britânico Nick Pope, aviões britânicos atingiram a plataforma de lançamento com sistema de guia Paveway que, de acordo com o militar, representava uma "significativa ameaça para a população civil de Trípoli".
Neste domingo, navios descarregavam o primeiro lote de ajuda humanitária a Trípoli. No porto da capital Líbia, quatro navios descarregavam água e outras provisões básicas, enquanto a Organização Internacional para as Migrações (OIM) preparava a evacuação de mil de imigrantes da região nesta noite. Outros 16 navios aguardavam sua vez de descarregar, apesar de o ritmo ser muito lento, visto que os píeres não dispõem de estivadores suficientes e os guindastes ainda não funcionam normalmente.
Os porta-vozes do CNT, que concederam neste domingo uma entrevista coletiva, disseram que contavam com água, combustível e remédios suficientes para abastecer a população.
Nas ruas de Trípoli, os cidadãos tentavam retomar a normalidade após mais de seis meses de guerra, abastecendo-se de água e comida e com o fim do Ramadã à vista, o primeiro em 42 anos sem a figura de Khadafi à frente do país.
A realidade do conflito continua presente, não apenas pelas negociações em curso com as tribos em Sirte, a cidade natal de Khadafi e principal reduto do que resta de seu poder, mas pela difícil tarefa de assistência aos feridos, a ameaça dos franco-atiradores e a identificação dos corpos que se amontoam nos necrotérios e cujo número exato ninguém divulga. Os responsáveis do comitê de saúde afirmaram que os corpos serão fotografados e incinerados, embora só tenham confirmado a existência de 75 mortos no hospital de Abu Salim e outros 35 no de Yarmouk.
Muitos desses mortos são mercenários estrangeiros empregados por Kadafi para combater os milicianos do CNT, cujas baixas também não foram quantificadas.
Os rebeldes anunciaram que tomaram o controle total de Ben Jawad (leste da Líbia) e afirmaram que estão a pouco mais de 100 quilômetros ao leste de Sirte, dominada pelas tropas do regime, às quais Shaman advertiu que o tempo está se esgotando.
Apesar da precariedade da situação, as novas autoridades manifestaram confiança em restabelecer em breve os serviços básicos como o fornecimento de água, cortado por problemas de abastecimento de combustível para o bombeamento, embora a rede elétrica e de telecomunicações não tenham sido seriamente afetadas.

Por Época