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Franceses têm dúvidas sobre possibilidade de identificar corpos do AF 447

Os investigadores franceses tentarão resgatar todos os corpos das vítimas do voo AF 447 da Air France que forem localizados, mas não sabem ainda se será possível identificá-los, disse à BBC Brasil o coronel François Daust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar francesa.
Segundo ele, podem existir dificuldades técnicas para extrair o material genético dos ossos das vítimas do voo da Air France, que caiu no Atlântico em 2009 e matou 228 pessoas.
"Os corpos estão há quase dois anos submersos a 3.900 metros de profundidade. Faremos testes para tentar extrair o DNA dos ossos, mas não sabemos se isso será possível e quais resultados vamos obter", afirma o militar.
"Preferimos manter muita prudência em relação à identificação das vítimas porque há muitos elementos desconhecidos", diz Daust.
Nesta quinta-feira, a polícia militar francesa anunciou o resgate do primeiro corpo içado dos destroços do avião, que estava preso no assento do avião.
O comunicado da Polícia Militar francesa informa ainda que foi realizada uma coleta de material dos restos mortais dessa vítima "para determinar a possibilidade de uma identificação por meio de testes de DNA", diz o texto.
Essa coleta será enviada a um laboratório francês na próxima semana para exames de DNA.

"OLHO NU"
 
De acordo com Daust, "é impossível saber a olho nu" se o corpo seria de um homem ou mulher, em razão do estado de decomposição.
Apenas análises posteriores mais detalhadas dos ossos poderão definir essas características, afirma o diretor do Instituto de Pesquisas Criminais (IRCGN, na sigla em francês).
Quatro especialistas desse instituto (entre eles, um médico legista em um especialista em dentição) estão a bordo do navio Île de Sein, que realiza a quinta fase de buscas dos destroços e corpos do avião.
Daust afirma também que as operações para trazer a superfície os cadáveres que forem achados devem durar cerca de um mês.
Segundo Daust, haveria "dezenas de corpos" na área dos destroços.
Ele garantiu que a equipe de resgate não vai desistir de recuperá-los, já que, após "uma primeira tentativa infrutífera", como diz o comunicado da polícia militar, a segunda tentativa de içar um corpo foi bem sucedida.
"A partir do momento que conseguimos ter sucesso em uma operação, vamos continuar tentando resgatar todos os corpos encontrados", afirma.
"Isso não quer dizer, no entanto, que vamos conseguir em cada uma das vezes. É muito difícil içar um corpo a quase 4 mil metros de profundidade em estado de decomposição", diz Daust.
Segundo ele, os corpos podem não resistir às manipulações do robô Remora 6000 ou às mudanças de temperatura da água durante o içamento até o navio.
Antes desse primeiro resgate nessa quinta-feira, apenas 50 corpos de vítimas do voo AF 447 haviam sido encontrados, logo após a catástrofe, sendo 20 deles de brasileiros.
O coronel afirma ainda que, neste momento, as operações de busca tentam resgatar outras peças do avião consideradas importantes para as investigações sobre as causas do acidente.
"O resgate de peças e dos corpos será realizado de maneira alternada", diz o militar.

Por Folha