Mais da metade da Linha Vermelha tem buracos e iluminação precária
Principal ligação entre o Centro do Rio e a Baixada Fluminense, os 22,9 quilômetros da Linha Vermelha estão divididos em duas partes distintas. Um trecho, com cerca de sete quilômetros entre o Caju e o acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, tem asfalto liso, guard-rail, boa iluminação e sinalização. A outra, das imediações do terminal até a Baixada, passando pelos municípios de Duque de Caxias e São João de Meriti, tem buracos, ondulações, iluminação precária e placas perfuradas por tiros, principalmente as que indicam os limites de velocidade e a existência de pardais. Em comum, apenas o fato de os dois opostos serem administrados pela prefeitura, que assumiu a manutenção da autoestrada, de ponta a ponta, em 2007.
Repórteres do GLOBO percorreram toda a via nas noites de domingo e de sábado. Do acesso à Ilha do Governador até a Rodovia Presidente Dutra, havia pelo menos 196 lâmpadas apagadas em ambos os sentidos. Já no trecho entre o Caju e a Ilha, 29 estavam apagadas, a maioria na altura da Maré.
Um dos trechos mais críticos fica próximo aos acessos da Rodovia Washington Luís: no sentido Centro, são cerca de 1.300 metros mergulhados na escuridão. Placas de trânsito apresentam sinais de tiros; duas delas, inclusive, ficam próximas a uma cabine da PM.
Obrigada a passar diariamente pela Linha Vermelha para ir ao trabalho, a secretária Andréa Ramalho, de 40 anos, moradora do Jardim América, diz que o trecho próximo à Baixada é muito ruim e que os desníveis danificam o carro:
- Acho que é mais interessante mostrar coisas bonitas (do Caju) até o aeroporto Tom Jobim. Depois, para que fazer obra na Linha Vermelha? Ninguém vai ver.
Se por um lado as favelas do Complexo da Maré, no trecho carioca, ganharam tapumes decorativos para protegê-las do barulho, a comunidade de Manágua, em Duque de Caxias, também às margens da Linha Vermelha, não conta sequer com muretas. Dali, saem pedestres que diariamente se arriscam ao atravessar a autopista. Nos fins de semana, é comum ver crianças jogando bola ou soltando pipa bem próximo às pistas.
Em alguns trechos, já fora do município do Rio, o mato invade o acostamento. Também em Manágua, cavalos pastam às margens da rodovia. A cor diferente no asfalto e o balanço dos carros denunciam os pontos em que foram feitos recapeamentos, principalmente nos acessos para a Via Dutra e a Washington Luís. Mas nas proximidades da Favela da Maré, há coqueiros plantados e painéis da CET-Rio informando o tempo de viagem do Fundão até o Centro.
Nas imediações de São João de Meriti, os guarda-corpos de ferro que dividem as pistas estão deformados por colisões. O lixo também se acumula às margens da rodovia, perto de comunidades carentes da Baixada Fluminense.
Prefeitura promete melhorias no asfalto
O secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, reconhece que as diferenças existem. Ele ressaltou que a prefeitura concentrou investimentos do programa Asfalto Liso no trecho de maior movimento. Mas promete, num prazo de 30 dias, iniciar um plano de recuperação do asfalto nos trechos mais danificados entre a Ilha e a Baixada.
- Não temos prazo para a recuperação completa da pavimentação porque o programa Asfalto Liso hoje se concentra nos principais corredores de tráfego. Mas faremos recuperações pontuais. Os trabalhos deverão durar pelo menos 90 dias porque, para não prejudicar o trânsito, terão que ser feitos sobretudo à noite - disse Osório.
O secretário acrescentou que a prefeitura está reforçando a sinalização com a implantação de novas placas. Além disso, funcionários da Comlurb estão aparando a vegetação da via - atualmente as equipes estão na altura da Ilha.
Sobre as falhas de iluminação, Osório admite que vários problemas contribuem para a escuridão:
- A infraestrutura está envelhecida. Os equipamentos existentes são os mesmos desde a época em que a Linha Vermelha foi inaugurada. Também enfrentamos problemas com vandalismo. Em número de ocorrências de furtos de cabos, a Linha Vermelha superou os túneis. Foi o que aconteceu, inclusive, nesse trecho perto da Washington Luís.
Osório acrescentou que já alertou a Secretaria de Segurança Pública e a PM para o problema.
Enquanto as melhorias não chegam, sobram reclamações. Para a médica Yagnes Lima Mattos, de 40 anos, trafegar na Linha Vermelha é o mesmo que andar por duas vias diferentes.
- É notório que, ao chegar à Baixada, o número de buracos aumenta. Depois do aeroporto, a Linha Vermelha é outra.
O prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, diz-se indignado com a manutenção precária no trecho da via expressa que passa na cidade.
- Não quero imaginar que seja falta de respeito por se tratar da Baixada. Mas que a Linha Vermelha está toda estruturada da Ilha até o Centro, isso está. Prefiro crer que foi uma desatenção ou falta de oportunidade - disse Zito.
Já o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos, fez coro com motoristas insatisfeitos. No entanto, disse ter sido informado pelo prefeito Eduardo Paes de que melhorias estão previstas em toda a via.
Um dos acessos à BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e à Rodovia Presidente Dutra, a Linha Vermelha (oficialmente chamada de Via Presidente João Goulart) é operada pela prefeitura do Rio desde fevereiro de 2007, quando, a pedido do então prefeito Cesar Maia, o governador Sérgio Cabral transferiu para o município a sua administração, que ficava sob responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Passados mais de quatro anos, mesmo parte dos maiores investimentos em conservação realizados no trecho entre o Caju e a Ilha, na verdade, não foi totalmente pública. No ano passado, a prefeitura assinou um contrato com a Lamsa antecipando a renovação da concessão da Linha Amarela, que só venceria em 2022. A concessionária ganhou mais 15 anos (até 2037) em troca de investimentos, incluindo em áreas do seu entorno, para melhorar o trânsito entre a Ilha e a Barra.
As primeiras melhorias aconteceram justamente no trecho Caju-Ilha da Linha Vermelha, no qual foram gastos cerca de R$ 50 milhões. Os investimentos totais chegam a R$ 241,5 milhões. Nesse pacote, estão outras obras já concluídas, como o reordenamento dos pontos de ônibus em frente à Fiocruz, em Manguinhos; e na pista lateral da Avenida Brasil (sentido Caju), que desafogou a saída da Linha Vermelha. Outros projetos da parceria ainda estão em andamento, como o alargamento da Avenida Ayrton Senna, sentido Barra, e a construção de novo viaduto para facilitar a saída do Engenho de Dentro para a via.
De acordo com a CET-Rio, cerca de 140 mil veículos passam diariamente pela Linha Vermelha no trecho entre o Caju e o Aeroporto Tom Jobim. No outro trecho, circulam de 60 mil a 65 mil veículos.
O primeiro trecho da Linha Vermelha, entre o Caju e o Fundão, foi inaugurado em 30 de abril de 1992, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), que reuniu 117 chefes de estado e governo.
Projetada nos anos 60 pelo grego Constantino Doxiadis, a via expressa foi construída com o objetivo de melhorar o acesso ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, já que a Avenida Brasil se encontrava saturada. A segunda etapa da obra - a ligação com a Baixada Fluminense - foi entregue em setembro de 1994.
Repórteres do GLOBO percorreram toda a via nas noites de domingo e de sábado. Do acesso à Ilha do Governador até a Rodovia Presidente Dutra, havia pelo menos 196 lâmpadas apagadas em ambos os sentidos. Já no trecho entre o Caju e a Ilha, 29 estavam apagadas, a maioria na altura da Maré.
Um dos trechos mais críticos fica próximo aos acessos da Rodovia Washington Luís: no sentido Centro, são cerca de 1.300 metros mergulhados na escuridão. Placas de trânsito apresentam sinais de tiros; duas delas, inclusive, ficam próximas a uma cabine da PM.
Obrigada a passar diariamente pela Linha Vermelha para ir ao trabalho, a secretária Andréa Ramalho, de 40 anos, moradora do Jardim América, diz que o trecho próximo à Baixada é muito ruim e que os desníveis danificam o carro:
- Acho que é mais interessante mostrar coisas bonitas (do Caju) até o aeroporto Tom Jobim. Depois, para que fazer obra na Linha Vermelha? Ninguém vai ver.
Se por um lado as favelas do Complexo da Maré, no trecho carioca, ganharam tapumes decorativos para protegê-las do barulho, a comunidade de Manágua, em Duque de Caxias, também às margens da Linha Vermelha, não conta sequer com muretas. Dali, saem pedestres que diariamente se arriscam ao atravessar a autopista. Nos fins de semana, é comum ver crianças jogando bola ou soltando pipa bem próximo às pistas.
Em alguns trechos, já fora do município do Rio, o mato invade o acostamento. Também em Manágua, cavalos pastam às margens da rodovia. A cor diferente no asfalto e o balanço dos carros denunciam os pontos em que foram feitos recapeamentos, principalmente nos acessos para a Via Dutra e a Washington Luís. Mas nas proximidades da Favela da Maré, há coqueiros plantados e painéis da CET-Rio informando o tempo de viagem do Fundão até o Centro.
Nas imediações de São João de Meriti, os guarda-corpos de ferro que dividem as pistas estão deformados por colisões. O lixo também se acumula às margens da rodovia, perto de comunidades carentes da Baixada Fluminense.
Prefeitura promete melhorias no asfalto
O secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, reconhece que as diferenças existem. Ele ressaltou que a prefeitura concentrou investimentos do programa Asfalto Liso no trecho de maior movimento. Mas promete, num prazo de 30 dias, iniciar um plano de recuperação do asfalto nos trechos mais danificados entre a Ilha e a Baixada.
- Não temos prazo para a recuperação completa da pavimentação porque o programa Asfalto Liso hoje se concentra nos principais corredores de tráfego. Mas faremos recuperações pontuais. Os trabalhos deverão durar pelo menos 90 dias porque, para não prejudicar o trânsito, terão que ser feitos sobretudo à noite - disse Osório.
O secretário acrescentou que a prefeitura está reforçando a sinalização com a implantação de novas placas. Além disso, funcionários da Comlurb estão aparando a vegetação da via - atualmente as equipes estão na altura da Ilha.
Sobre as falhas de iluminação, Osório admite que vários problemas contribuem para a escuridão:
- A infraestrutura está envelhecida. Os equipamentos existentes são os mesmos desde a época em que a Linha Vermelha foi inaugurada. Também enfrentamos problemas com vandalismo. Em número de ocorrências de furtos de cabos, a Linha Vermelha superou os túneis. Foi o que aconteceu, inclusive, nesse trecho perto da Washington Luís.
Osório acrescentou que já alertou a Secretaria de Segurança Pública e a PM para o problema.
Enquanto as melhorias não chegam, sobram reclamações. Para a médica Yagnes Lima Mattos, de 40 anos, trafegar na Linha Vermelha é o mesmo que andar por duas vias diferentes.
- É notório que, ao chegar à Baixada, o número de buracos aumenta. Depois do aeroporto, a Linha Vermelha é outra.
O prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, diz-se indignado com a manutenção precária no trecho da via expressa que passa na cidade.
- Não quero imaginar que seja falta de respeito por se tratar da Baixada. Mas que a Linha Vermelha está toda estruturada da Ilha até o Centro, isso está. Prefiro crer que foi uma desatenção ou falta de oportunidade - disse Zito.
Já o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos, fez coro com motoristas insatisfeitos. No entanto, disse ter sido informado pelo prefeito Eduardo Paes de que melhorias estão previstas em toda a via.
Um dos acessos à BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e à Rodovia Presidente Dutra, a Linha Vermelha (oficialmente chamada de Via Presidente João Goulart) é operada pela prefeitura do Rio desde fevereiro de 2007, quando, a pedido do então prefeito Cesar Maia, o governador Sérgio Cabral transferiu para o município a sua administração, que ficava sob responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Passados mais de quatro anos, mesmo parte dos maiores investimentos em conservação realizados no trecho entre o Caju e a Ilha, na verdade, não foi totalmente pública. No ano passado, a prefeitura assinou um contrato com a Lamsa antecipando a renovação da concessão da Linha Amarela, que só venceria em 2022. A concessionária ganhou mais 15 anos (até 2037) em troca de investimentos, incluindo em áreas do seu entorno, para melhorar o trânsito entre a Ilha e a Barra.
As primeiras melhorias aconteceram justamente no trecho Caju-Ilha da Linha Vermelha, no qual foram gastos cerca de R$ 50 milhões. Os investimentos totais chegam a R$ 241,5 milhões. Nesse pacote, estão outras obras já concluídas, como o reordenamento dos pontos de ônibus em frente à Fiocruz, em Manguinhos; e na pista lateral da Avenida Brasil (sentido Caju), que desafogou a saída da Linha Vermelha. Outros projetos da parceria ainda estão em andamento, como o alargamento da Avenida Ayrton Senna, sentido Barra, e a construção de novo viaduto para facilitar a saída do Engenho de Dentro para a via.
De acordo com a CET-Rio, cerca de 140 mil veículos passam diariamente pela Linha Vermelha no trecho entre o Caju e o Aeroporto Tom Jobim. No outro trecho, circulam de 60 mil a 65 mil veículos.
O primeiro trecho da Linha Vermelha, entre o Caju e o Fundão, foi inaugurado em 30 de abril de 1992, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), que reuniu 117 chefes de estado e governo.
Projetada nos anos 60 pelo grego Constantino Doxiadis, a via expressa foi construída com o objetivo de melhorar o acesso ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, já que a Avenida Brasil se encontrava saturada. A segunda etapa da obra - a ligação com a Baixada Fluminense - foi entregue em setembro de 1994.