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Com piora externa, Bolsa desaba e dólar se aproxima de R$ 2

O principal índice da Bolsa paulista fechou o pregão desta segunda-feira com a maior queda em quase oito meses e atingiu o menor patamar de fechamento do ano, com temor sobre o impacto de eventual saída da Grécia da zona do euro para a crise da região.
O Ibovespa fechou em queda de 3,21%, a 57.539 pontos. Esse é o menor patamar de fechamento desde 29 de dezembro, de 56.754 pontos. Foi também a maior queda diária desde 22 de setembro, quando caiu 4,83%. O giro financeiro do pregão foi de R$ 6,32 bilhões.
O dólar, por sua vez, disparou 1,73% e fechou a R$ 1,99 (leia mais abaixo).
"Na Europa, além da Grécia em si, o que preocupa é o possível contágio da situação grega para outros países como Espanha", afirmou Marc Sauerman, que ajuda a gerir R$ 650 milhões na JMalucelli Investimentos.
O presidente grego dará continuidade aos esforços para formar um governo de coalizão na terça-feira, na tentativa de evitar novas eleições no país, após o pleito inconclusivo realizado no último dia 6.
No entanto, o partido radical de esquerda Syriza disse que manterá posição contra o resgate internacional.
Também na terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, se reunirá com o novo presidente da França, François Hollande, crítico das políticas de austeridade defendidas por Merkel e defensor de medidas expansionistas para lidar com a crise.
No fim de semana, o partido de Merkel sofreu "amarga" derrota em eleição em um Estado crucial para os rumos políticos da Alemanha.
"A política europeia não é mais tão clara como era antes das eleições na França, agora você tem a Merkel de um lado e Hollande do outro, e ainda não está claro para os investidores qual vai ser a posição do Hollande", disse Sauerman. "Essa será uma semana de alta volatilidade, com tendência de queda."
Pela manhã, o dado de produção industrial na Europa mostrou recuo inesperado em março, em mais um sinal de que a recessão na zona do euro pode não ser tão branda como esperada. Investidores aguardam agora o PIB do primeiro trimestre da região, que será divulgado na terça-feira.
O clima de elevada aversão ao risco levou investidores a fugirem dos mercados acionários no mundo todo. Nos Estados Unidos, o Dow Jones recuou 0,98%. Mais cedo, o principal índice dos mercados europeus fechou em baixa de 1,79%.
No Ibovespa, o dia foi de perdas generalizadas, com apenas dois --Ambev e Souza Cruz-- dos 68 ativos que compõem o índice fechando no campo positivo.
Entre as blue chips, a preferencial da Vale recuou 1,68%, a R$ 37,36, enquanto a preferencial da Petrobras caiu 2,22%, a R$ 18,90 reais. OGX teve queda de 3,97%, a R$ 13,05 reais.
A ação da Brookfield derreteu na sessão e fechou em queda de 14,87%, a R$ 4,18. Esse é o menor preço desde julho de 2009, após a incorporadora ter reportado queda de 94% no lucro do primeiro trimestre, com revisão de custos de obras.
PDG Realty foi a segunda maior baixa da sessão, com queda de 10,15%, a R$ 4,07. Na última sexta-feira, a companhia informou a renúncia de dois diretores.
 
DÓLAR
 
A moeda americana chegou a superar a linha dos R$ 2,00 nesta segunda-feira, pela primeira vez desde o começo de julho de 2009.
O ministro Guido Mantega afirmou na tarde desta segunda-feira (14) que o aumento do preço do dólar não preocupa o governo. Segundo o ministro, "o dólar alto beneficia a economia brasileira porque dá mais competitividade para os produtos brasileiros. A indústria brasileira pode competir melhor com os importados que ficam mais caro e pode exportar mais barato."
Ele disse ainda que a moeda vai flutuar de acordo com o mercado e que o governo "nunca estabeleceu nenhum parâmetro para o dólar".
A moeda americana que já operava em firme alta em função da piora de humor externo, tomou mais fôlego depois que o ministro falou que valorização da moeda americana beneficia a economia e não preocupa o governo.
Segundo operadores, o mercado repercutia o impasse político na Grécia, gerando maior aversão ao risco e detonando compras da moeda norte-americana, com investidores com medo de ficar sem dólares.
O movimento de alta ainda foi impulsionado por especulações. O receio do mercado agora é que o Banco Central possa entrar no mercado vendendo dólares de alguma forma, para evitar uma valorização excessiva da moeda.
"O movimento de alta começou com o cenário ruim lá fora e houve um efeito manada, todo mundo quer comprar, não quer ficar sem dólar", disse o gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel.
Para ele, o dólar pode até subir um pouco mais, mas esse receio de que o BC atue para conter a alta pode limitar a alta da moeda. Ele destacou que, logo depois de atingir R$ 2, o dólar já havia voltado ao patamar de R$ 1,99.
"Tem essa possibilidade [do BC vender dólar], talvez não no pronto, mas no mercado futuro, usando um swap cambial. Talvez até o medo que ele entre pode segurar um pouco a moeda", afirmou o gerente.
Um operador de câmbio, que prefere não ser identificado, ainda destacou a piora generalizada vista nos mercados, o que pode ter se somado a um movimento especulativo.
"O mercado internacional está todo em queda, todas as bolsas na europa fecharam com quedas acentuadas. Temos o problema da Grécia que a cada dia se complica mais politicamente. Tudo está assustando o mercado e podemos adicionar o resto aos especuladores de plantão", afirmou.

Por Folha