Em ano sem eleições, políticos mínguam no Anhembi
Não fosse o copo de cerveja na mão de Gilberto Kassab, ninguém diria que ele estava no sambódromo de São Paulo, na abertura do carnaval. De sapato social, camisa de botão branca e jaqueta azul marinho, o prefeito bebeu meio copo, em uma cabine alugada por um jornal da capital, ao lado de amigos, entre eles a cantora Leci Brandão. O prefeito dividiu as quatro horas que permaneceu no sambódromo entre cabines de imprensa, corredores do lado de trás das arquibancadas e o camarote oficial da prefeitura – bem longe do público de cerca de 30 mil pessoas.
Anos sem eleição, como 2011, esvaziam o carnaval dos políticos. Foi assim nesta primeira noite dos desfiles das escolas de samba de São Paulo. Ano passado, dezenas de pretendentes a candidatos – como o depois assumido presidenciável José Serra – circularam pelo camarote da prefeitura. Neste ano, as presenças foram apenas oficias: o prefeito Gilberto Kassab, o governador Geraldo Alckmin, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em uma campanha pelo uso da camisinha, e o primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana Gusmão, de passagem pelo Brasil.
José Serra jantou com Alckmin e Xanana Gusmão no Palácio dos Bandeirantes antes dos desfiles. Pretendia ir ao sambódromo. À 1 hora da manhã, no entanto, telefonou para o presidente da SPTuris, Caio Carvalho, responsável pelo carnaval paulistano, e avisou: uma gripe o prenderia em casa.
Se o assunto é saúde, lá estava Padilha. O ministro fez uma passagem relâmpago pela cidade. Ainda visitará Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro até o final da folia para divulgar uma campanha de prevenção à Aids: “Sem camisinha não dá.” A mensagem estava estampada na camisa de Padilha. “Tem que ser literal mesmo”, explicou. A expectativa de distribuição de 85 milhões de preservativos em todo o país impressionou Kassab. “É importante este otimismo do ministério”, disse o prefeito, rindo.
Carnavalesco – Entre as autoridades, o mais animado era o primeiro-ministro do Timor Leste. Impressionado com os carros alegóricos, achegou-se à grade do camarote, a menos de um metro da avenida, onde desfilava a Unidos do Peruche. De lá, acenou para Alckmin, que estava debaixo de um toldo, mais para dentro do camarote. A passos miúdos, o governador e a primeira-dama, Lu Alckmin, juntaram-se a ele. Kassab tomou o caminho oposto. Subiu para o mezanino do camarote.
Desde 2009, quando foi vaiado ao passar pela pista do sambódromo antes do início dos desfiles, o prefeito evita o trajeto. Este ano, o único contato com o público se deu ao passar por trás das arquibancadas, para acessar as cabines de rádios que cobrem os desfiles. Tirou fotografia com três populares que lhe pediram.
Com a imprensa, Kassab escapou o quanto pode da pergunta de um milhão de dólares: sairá do DEM? “Minha prioridade é administrar a cidade de São Paulo”, respondeu à exaustão. “A democracia precisa de partidos. Tenho conversado com meus aliados dentro do DEM, em busca de uma solução, que pode ser ficar no DEM ou fundar um novo partido”, disse, após muita insistência.
Apesar do despiste, a fundação, por Kassab, do Partido da Democracia Brasileira (PDB), foi citado por correligionários em conversas informais com o prefeito durante a noite. A intenção deles era parabenizar Kassab pela iniciativa. Um aliado chegou a cumprimentar o vice-governador, Guilherme Afif Domingos, pela criação do “Partido Do Bem”. Afif, parceiro de Kassab na empreitada, apenas sorriu.
O único a falar abertamente sobre o assunto foi o ministro Alexandre Padilha, animado com a possibilidade. “Já tenho uma ótima relação com o Kassab sendo ele da oposição. Se ele vier para a base aliada, melhor ainda.”
Vestimenta – Enquanto isso, na beira da avenida, Alckmin e Lu se deixavam levar pela animação de Xanana Gusmão. A cada carro alegórico, o primeiro-ministro abria a boca e apontava para o alto. “A imaginação, a originalidade, a música… já não falo mais”, suspirou o timorense. Alckmin alertou que a escola perderia pontos, pela demora de alguns carros em entrar na avenida. “Ai, que judiação”, comentou Lu, a mais carnavalesca do grupo, de calça jeans branca e blusa de um ombro só amarela. De paletó escuro, Alckmin brincou: “Xanana e eu somos da escola de samba dos Unidos do Terno.”
Por Vejaje