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EUA dizem que Líbia viola cessar-fogo; França prevê ação neste sábado

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU (Organização das Nações Unidas), Susan Rice, afirmou nesta sexta-feira que as forças do ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, violam o cessar-fogo previsto na resolução do Conselho de Segurança, que permite o uso de força militar para proteger os civis líbios.
Já o embaixador francês nas Nações Unidas, Gerard Araud, afirmou esperar uma intervenção militar no país do norte da África horas depois de uma reunião, marcada para este sábado em Paris, entre os principais participantes de uma possível operação.
Durante uma entrevista à rede de TV americana CNN, Rice foi questionada se Gaddafi estava violando o cessar-fogo imposto pela resolução 1.973, aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança. A embaixadora americana respondeu: "Sim, ele está".
"A resolução 1,973 exige um cessar-fogo imediato e o fim de todas as operações ofensivas. Ela também proíbe todos os voos sobre a Líbia", destacou Rice.
Em caso da violação desta resolução, o Conselho de Segurança autorizou o emprego "de todas as medidas necessárias" para proteger os civis, incluindo o uso da força.
As declarações de Rice foram feitas após um ultimato dado pelo presidente Barack Obama. Em discurso na Casa Branca, ele afirmou que, caso Gaddafi não obedeça a resolução da ONU, a comunidade internacional poderá impor consequências ao regime líbio.
"Todos os ataques contra todos os civis devem parar", afirmou.
Para Obama, Gaddafi recebeu diversos alertas para interromper os ataques contra seu próprio povo, mas tem ignorado os pedidos da comunidade internacional. Se nada for feito, há muitas razões para acreditar que o ditador cometerá atrocidades e que milhares de pessoas podem morrer, ele disse.
"Os EUA não procuraram por esse resultado. Nossas decisões têm sido movidas pela recusa de Gaddafi de respeitar os direitos de seu povo e o potencial de mortes em massa de civis inocentes."
O presidente americano disse que, caso Gaddafi não cumpra com os pontos da resolução, os EUA poderão se juntar a uma ação militar. O país atuará como "parte de uma coalizão" para fazer cumprir uma zona de exclusão aérea na Líbia se as ações militares não forem interrompidas imediatamente. Ele afirmou, no entanto, que os EUA não irão enviar tropas para o país do norte da África.
Um comunicado divulgado na sequência pela Presidência francesa seguiu a mesma linha das palavras de Obama.
Segundo o texto, França, EUA, Reino Unido e alguns países árabes exigem que o regime do ditador líbio cesse imediatamente os ataques contra civis no país do norte da África.
O texto diz que os países "estimam que um cessar fogo deve ser aplicado imediatamente, ou seja, que terminem todos os ataques contra civis".
As exigências não são negociáveis, diz o texto, que adverte que, se Gaddafi "não se ajudar à resolução [do Conselho de Segurança da ONU], a comunidade internacional o fará sofrer as consequências e a resolução será imposta por meios militares".
O texto, que não detalha quais países árabes apoiam o ultimato, ressalta que "a resolução 1.973 adotada pelo Conselho de Segurança [das Nações Unidas] impõe obrigações muito claras que devem ser respeitadas".
"Gaddafi deve pôr fim ao avanço de suas tropas até Benghazi [no leste do país, fortaleza dos rebeldes] e retirá-las de Adjabiya, Misrata e Zawiyah", prossegue o comunicado, que exige que o "fornecimento de água, eletricidade e gás seja restabelecido em todas as regiões".
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, viajará neste sábado para Paris para participar de uma reunião internacional sobre a crise líbia, na qual serão discutidos os próximos passos após a aprovação da resolução da ONU. 

REUNIÃO E AÇÃO

Nesse encontro, pode ser decidida uma intervenção militar na Líbia, disse o embaixador francês na ONU, Gerard Araud.
"Amanhã [sábado] teremos uma reunião em Paris com todos os grandes participantes nas operações e no esforço diplomático. Então acredito que seria um bom momento para mandar um último sinal [ao regime de Gaddafi]", afirmou durante entrevista ao programa "Newsnight" da rede britânica BBC.
"Isso significa que os EUA, o Reino Unido e a França [...] lançaram o ultimato sobre o cessar-fogo [...] e estabelecemos as condições. Então eu acho que após essa reunião, acho que nas próximas horas, [...] iremos lançar a intervenção militar."
Participarão da reunião, além de Hillary, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Líderes árabes também estarão presentes. 

ATAQUES
 
A rede de TV árabe Al Jazeera informou nesta sexta, citando relatos de testemunhas, que forças leais a Gaddafi continuam a atacar cidades rebeldes, apesar do anúncio de cessar-fogo em obediência à resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Segundo a rede de TV Al Jazeera, forças pró-Gaddafi bombarderam a cidade rebelde de Misrata, no oeste do país, de acordo com relato de testemunhas.
Abdulbasid Abu Muzairik, morador da cidade, disse à Al Jazeera que houve disparos de artilharia e tanques de guerra. "As tropas de Gaddafi estão nos arredores da cidade, mas continuam a se mover em direção ao centro. O cessar-fogo não está sendo obedecido, ele [Gaddafi] continua a atacar o povo", disse.
Também houve relatos sobre forças do governo realizando ataques e cercando a cidade de Benghazi, outro reduto rebelde no leste do país.
No entanto, o ministério líbio do Exterior nega que a presença das forças do governo líbio na região e ao redor de outras cidades, como Benghazi, viole as regras do cessar-fogo. Segundo ele, o Exército não tem planos de atacar o reduto rebelde no leste do país. "Quanto à presença do Exército nas cidades líbias, consideramos importante para a segurança dos cidadãos. Isso não viola o cessar-fogo", afirmou a repórteres o vice-chanceler, Khaled Kaim.
"O cessar-fogo significa nenhuma operação militar, pequena ou grande. As forças armadas estão agora fora de Benghazi e não têm intenção de entrar na cidade." 
Ele disse ainda que, desde o anúncio da trégua, na manhã de sexta-feira, as forças do governo não realizaram nenhuma ação militar. "Não tivemos bombardeios de quaisquer tipos desde que o cessar-fogo foi declarado", afirmou ele quando questionado sobre notícias de operações das tropas leais ao líder líbio, Muammar Gaddafi, em Misrata e outras partes do país.
Mais cedo, em um comunicado na TV, o ministro líbio de Relações Exteriores, Moussa Koussa, disse que seu governo está interessado em proteger "todos os civis e estrangeiros'. 'Nós decidimos adotar um cessar-fogo imediato, e dar fim às operações militares. A Líbia tem grande interesse em proteger os civis".
Segundo ele, por seu país ser membro da ONU, "tem a obrigação de aceitar todas as resoluções do Conselho de Segurança".

 Por Folha