EUA pressionam Gaddafi a sair e alertam para risco de guerra civil
A Líbia pode entrar em guerra civil caso Muammar Gaddafi não saia do poder, alertou o governo dos EUA nesta terça-feira, enquanto cresce a pressão para que o ditador -- que está há 42 anos à frente do governo-- renuncie.
Apesar da pressão internacional, Gaddafi se recusa a deixar o poder e mandou soldados para a área da fronteira, fazendo aumentar os receios de que a revolta no país se torne mais sangrenta e cause uma crise humanitária.
Guardas da fronteira com a Tunísia atiraram para o alto tentando controlar uma multidão que tentava escapar da violência. Ao menos 70 mil pessoas passaram pela entrada de Ras Jdir nas últimas duas semanas, e centenas de milhares de trabalhadores na Líbia devem tentar sair do país nos próximos dias.
Dois navios militares americanos -- o USS Kearsarge, que pode carregar 2.000 soldados, e o USS Ponce-- passaram pelo canal de Suez, aproximando-se da costa da Líbia, onde milhares de manifestantes pedem a saída de Gaddafi, informaram autoridades egípcias nesta terça-feira.
O reposicionamento dos navios de guerra e aeronaves dos EUA, que se deslocam em direção à Líbia, é visto por enquanto como uma demonstração simbólica de força, já que nem os EUA nem seus aliados da Otan indicaram ter a intenção de realizar uma intervenção militar direta no país norte-africano.
Ontem, o destróier USS Barry se movimentou pelo canal de Suez, e agora se encontra no sudoeste do Mediterrâneo. A tripulação anfíbia do USS Kearsarge conta com 800 fuzileiros navais, uma frota de helicópteros e unidades médicas, que é útil tanto em ações humanitárias quanto em operações militares.
De acordo com a Casa Branca, as embarcações estão sendo destacadas em preparação para possíveis "esforços humanitários". No entanto, o governo americano deixou claro que "nenhuma opção foi descartada", o que em linguagem diplomática significa que uma ação militar é vista como possibilidade.
Chefes militares americanos também estão preparando uma série de opções para o presidente Barack Obama, ao mesmo tempo em que discutem a situação com seus pares europeus. Entretanto, as chances de uma intervenção militar na Líbia permanecem nebulosas, disseram oficiais americanos à Franca Presse.
"Acho que [as sugestões para Obama] incluem tudo, de uma demonstração de força a algo com maior envolvimento", estimou uma das fontes. "O presidente ainda não tomou nenhuma decisão sobre o uso das forças armadas".
RESISTÊNCIA
Saif al Islam, um dos filhos de Gaddafi, negou que o regime de seu pai tenha atacado civis, em uma entrevista à rede de TV britânica Sky News transmitida nesta terça-feira. Questionado sobre se negava categoricamente que o governo líbio atacou a população, ele respondeu: "Sim, negamos".
"Desafio todos a me mostrar a prova do contrário", acrescentou o filho mais novo do ditador, de 38 anos, durante entrevista gravada em Trípoli, dizendo ainda que os jornalistas "têm liberdade para ir a qualquer parte da Líbia".
Saif al Islam reconheceu, por sua vez, que já não havia um "Exército organizado" no leste do país, mas negou que o regime tenha perdido o controle desta região.
"A autoridade civil ainda está lá e está em contato com Trípoli. Há um problema no leste, é preciso admitir. Mas o leste só representa 20% do país. O resto está bem", relativizou, quando a revolta entra em sua terceira semana.
"Há alguns grupos terroristas, um número pequeno, em duas cidades. Querem criar seus próprios Estados. Têm uma emissora de rádio, uma pequena milícia, mas não é grande coisa", disse.
"O resto da população, os outros 2 milhões de pessoas, não está com eles", insistiu Saif al Islam nesta entrevista realizada em inglês.
ONU
A Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) suspendeu por unanimidade nesta terça-feira a Líbia como país membro do Conselho de Direitos Humanos da entidade devido ao uso da violência pelo governo líbio na repressão aos protestos antigoverno. O país vive há duas semanas sob intensos confrontos entre as forças leais ao ditador Muammar Gaddafi e rebeldes da oposição, que exigem sua queda.
A resolução foi adotada pelos 192 países-membros da Assembleia, seguindo a recomendação feita pelo próprio conselho, sediado em Genebra.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, comemorou a suspensão, a decisão do conselho de abrir um inquérito para investigar abusos de direitos humanos na Líbia, assim como o encaminhamento do país do norte da África ao Tribunal Penal Internacional pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"Essas ações enviam uma forte e importante mensagem --uma mensagem de grande consequência na região e ao redor-- de que não há impunidade, de que aqueles que cometem crimes contra a humanidade serão punidos, que os princípios fundamentais de justiça e responsabilidade devem prevalecer", afirmou Ban.
No sábado, os 15 integrantes do Conselho de Segurança da ONU aprovaram por unanimidade sanções contra a Líbia que preveem embargo à venda de armas para o país, congelamento de bens e proibição de viagens para Gaddafi e seus parentes. A resolução também solicita que o ataque das forças pró-Gaddafi aos manifestantes --que, segundo estimativas, deixou mais de mil mortos-- seja investigado no Tribunal Penal Internacional, por crime contra a humanidade.
Já os EUA tornaram efetivo um pacote de sanções unilaterais contra a Líbia e congelar US$ 30 bilhões de ativos líbios.
Na segunda-feira, foi a vez da União Europeia aprovar sanções unilaterais contra o ditador líbio, incluindo embargo de armas, congelamento de seus bens e proibição de viajar aos países do bloco.
HILLARY
A recomendação pela suspensão da Líbia foi adotada pelo órgão em reunião da qual participou a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Durante seu discurso, ela afirmou que todas as opções estão sendo consideradas para encerrar a violência na Líbia.
Hillary fez um longo discurso sobre a importância dos movimentos pedindo a mudança democrático nos países árabes, também como um "imperativo estratégico" para os Estados Unidos.
"Continuaremos a coordenar as ações com os aliados", disse Hillary, que citou as sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU e pelos Estados Unidos no fim de semana.
"Muammar Gaddafi e aqueles ao seu redor precisam ser responsabilizados por seus atos que violam leis internacionais e o bom senso. Por suas ações, eles perderam direito de governar. O povo decretou que é hora de eles irem. Agora, sem atraso", afirmou a secretária de Estado americana.
"Estas violações de direitos universais são inaceitáveis e não serão toleradas", continuou, dizendo que trabalha com a comunidade internacional e ONGs por uma "resposta humanitária" à crise.
Por Folha