Líbia pede fim das sanções da ONU; confrontos aumentam no oeste
Na primeira reação oficial da Líbia às recentes medidas punitivas impostas pela ONU e os EUA, o regime do ditador Muammar Gaddafi mostrou-se surpreso e pediu, em carta, a suspensão das sanções aprovadas após sua violenta repressão aos protestos de opositores. Na região oeste do país, tropas leais ao governo retomaram parte de seus territórios em Zawiyah, enquanto no leste também houve confrontos em Ras Lanuf.
A carta afirma que apenas "uma quantia módica" de força foi utilizada contra os manifestantes da oposição, e que o governo foi "surpreendido" com as sanções ordenadas na última semana.
O regime pediu que a proibição de viajar e o congelamento dos bens de Gaddafi e sua comitiva "sejam suspensos até o momento em que a verdade seja estabelecida".
A carta datada de 2 de março foi enviada ao Conselho de Segurança da ONU pelo chanceler líbio Musa Mohammed Kusa.
NOVO REPRESENTANTE NA ONU
A posição do regime chega no mesmo dia em que o ex-chanceler Ali Abdussalam Treki foi nomeado como novo embaixador da Líbia perante as Nações Unidas, após a renúncia de seu predecessor.
"O secretário-geral da ONU recebeu correspondência das autoridades líbias e tal correspondência nomeia Dr. Treki como a pessoa que eles desejam ter como representante permanente do país deles", disse o porta-voz Martin Nesirsky.
Analistas ainda divergem, no entanto, se a ONU empossará o indicado, embora Nesirsky tenha sido categórico ao responder aos jornalistas.
"A Líbia é um membro reconhecido das Nações Unidas. Quando qualquer país envia uma carta nomeando um representante permanente, esta é a pessoa que será reconhecida como seu representante permanente", disse o porta-voz.
JUSTIFICATIVAS
Organizações de direitos humanos sustentam que em torno de 6.000 pessoas morreram desde o início dos protestos contra Kadhafi em 15 de fevereiro. A ONU afirma que as vítimas são mais de mil.
O regime líbio diz na carta enviada ao Conselho de Segurança que "não levantou nenhuma oposição aos manifestantes pacíficos desarmados", e que as forças de segurança apenas atuaram contra "atos subversivos".
"Quando a mínima força foi utilizada, foi contra infratores da lei que incluíram elementos extremistas que exploraram outros para cometer atos de destruição e terrorismo", afirma o texto.
O chefe da diplomacia líbia disse também que os opositores queriam "expandir a anarquia e atacar e queimar postos de segurança e delegacias de polícia, capturar armamento e matar soldados e civis".
BATALHAS NO OESTE E NO LESTE
As forças do ditador líbio avançaram nesta sexta-feira em direção a uma cidade dominada por rebeldes no oeste do país, enquanto a oposição afirmou ter capturado a localidade petrolífera de Ras Lanuf, ampliando seu domínio sobre o leste do país.
Em Zawiyah, cidade que fica 50 quilômetros a oeste Trípoli, pelo menos 30 civis foram mortos e dezenas de outros ficaram feridos na ofensiva governamental, segundo um morador. A cidade havia chegado a cair nas mãos dos rebeldes, causando um constrangimento para Gaddafi, que enfrenta a pior rebelião nos seus 41 anos no poder.
Um morador, que se identificou como Mohamed, relatou que as forças governistas usaram lançadores de granadas, metralhadoras pesadas e franco-atiradores no telhado de um hotel para alvejar manifestantes que fizeram um protesto contra Gaddafi após a prece de sexta-feira.
Uma força rebelde improvisada recuou para a praça dos Mártires, no centro da cidade, e as tropas do governo estavam a cerca de quatro quilômetros dali, segundo um porta-voz rebelde.
Um funcionário do governo líbio disse que a cidade "foi liberada, (mas) talvez ainda existam alguns bolsões (de resistência rebelde)".
No leste, os rebeldes disseram que suas forças tomaram Ras Lanuf, que fica em uma estratégica estrada litorânea. Horas antes, eles haviam anunciado a captura do aeroporto local.
"Dominamos Ras Lanuf 100%, as forças de Gaddafi foram todas embora", disse o soldado amotinado Hafez Ibrahim. Ele não disse quem está no controle da base militar e do terminal petrolífero que ficam próximos da cidade.
Em Trípoli, um vice-chanceler disse a jornalistas que as forças do governo ainda controlam Ras Lanuf.
BOMBARDEIO EM BENGHAZI
Os rebeldes já dominam grande parte do leste da Líbia, inclusive Benghazi, segunda maior cidade do país e epicentro da revolta contra Gaddafi.
Um porta-voz das forças rebeldes disse que forças governistas bombardearam na sexta-feira um depósito de armas nos arredores de Benghazi.
"Muita gente morreu. Há muitos hospitalizados. Ninguém pode se aproximar, ainda está muito perigoso", disse um morador que se identificou apenas como Saleh.
As forças de segurança isolaram a área, e uma testemunha da Reuters disse que pelo menos oito ambulâncias foram vistas retirando feridos. Vidraças se romperam num raio de vários quilômetros do ataque, segundo moradores.
Mais cedo, voluntários rebeldes disseram que um bombardeio aéreo do governo por pouco não atingiu um quartel controlado por militares rebeldes na cidade de Ajdabiyah, no leste.
Por Folha