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Strauss-Kahn não pode dirigir FMI, diz secretário do Tesouro dos EUA

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse nesta terça-feira, em Nova York, que é "evidente" que Dominique Strauss-Kahn "não está em posição de dirigir" o FMI (Fundo Monetário Internacional), informou a agência Dow Jones Newswires.
Segundo Geithner, "por isso é importante que o FMI estabeleça um plano que lhe permita obter uma posição permanente".
Dominique Strauss-Kahn foi preso no sábado, em Nova York, acusado de agressão sexual. O diretor do FMI se diz inocente em relação às acusações e por isso não apresentou sua renúncia.
Como maior acionista do FMI, os Estados Unidos possuem uma influência considerável sobre o que se passa com a instituição multilateral, na qual não se faz nada sem um acordo.
O Conselho de Administração do FMI se reuniu de maneira informal na segunda-feira para discutir a situação criada pela prisão de Strauss-Kahn, dois dias antes.
Sobre esta reunião, a instituição declarou simplesmente que irá "seguir os acontecimentos".
Contudo, uma fonte próxima ao órgão indicou à agência France Presse após a reunião que a decisão da Justiça de manter Strauss-Kahn preso "surpreendeu" os diretores do FMI.

DEFESA
 
A posição dos EUA chega no mesmo dia em que os advogados de defesa do francês indicaram que a camareira do hotel Sofitel de Nova York que acusa Strauss-Kahn consentiu a relação sexual mantida entre os dois, de acordo com uma reportagem publicada pelo jornal "New York Post".
"As provas, a nosso ver, não apontam para um encontro realizado pela força", disse ao jornal o famoso criminalista Benjamin Brafman, conhecido por ter representado estrelas da música nos Estados Unidos, como Michael Jackson e o rapper Jay-Z.
Segundo uma fonte anônima próxima à defesa de Strauss-Kahn e citada pelo jornal nova-iorquino, "pode ter havido consentimento" da camareira, da qual a única coisa que se sabe é que se trata de uma imigrante africana de 32 anos.
A versão da defesa destoa significativamente da apresentada pela Promotoria de Manhattan, que afirma que o francês "fechou a porta do quarto de seu hotel para evitar que a vítima, uma empregada de limpeza do estabelecimento, pudesse escapar".
"Ele pegou sua vítima pelo peito sem seu consentimento e tentou tirar sua roupa íntima e, além disso, manuseou sua região vaginal", declarou a Promotoria, que acrescentou que Strauss-Kahn "tentou duas vezes introduzir seu pênis na boca da vítima à força".

TRAUMATIZADA
 
Já o advogado da camareira disse também nesta terça-feira que ela está traumatizada e que não sabia que o homem que está acusando de tentativa de estupro era o diretor-gerente do FMI no momento da suposta agressão.
"Para ela, o mundo virou de cabeça para baixo", disse à CNN o advogado Jeff Shapiro, que falou à emissora depois que sua cliente foi supostamente agredida.
"Ela é uma pessoa trabalhadora, uma mãe solteira que sustenta uma jovem de 15 anos. Elas vivem juntas e ela estava feliz por ter um emprego, com o qual era capaz de garantir abrigo e comida para ambas", disse Shapiro.
"Desde que isto aconteceu, ela não tem conseguido ir para casa. Ela não consegue voltar ao trabalho e não tem ideia de como será seu futuro", afirmou, acrescentando: "além do que aconteceu no quarto de hotel, o trauma que tomou conta de sua vida é extraordinário", acrescentou.
A suposta vítima é descrita por pessoas próximas como uma trabalhadora, uma mãe simples e residente no Bronx.
Funcionário de um café no Harlem, um homem que se identificou como o suposto irmão da vítima disse que a irmã, a quem descreveu como uma "boa muçulmana", chora inconsolavelmente.
"Ela não para de chorar. Eu disse a ela, 'não se magoe'. Eu queria arrumar um advogado para ela. Nunca a vi assim antes. Ela está totalmente arrasada", afirmou.

PRESO ATÉ SEXTA-FEIRA
 
Na segunda-feira a juíza do tribunal nova-iorquino responsável pelo caso, Melissa Jackson, negou o pedido de liberdade mediante fiança de US$ 1 milhão solicitada pelo advogado de defesa do francês ao estimar que havia a possibilidade de fuga do país, visto que a França não tem tratado de extradição com os Estados Unidos.
Enquanto a Justiça americana delibera sobre o caso, Strauss-Kahn já passou uma noite em uma cela individual na prisão de Rikers Island em Nova York, um enorme complexo localizado em uma ilha no East River que já foi cenário de inúmeros filmes e séries de televisão como "Law & Order".
Ele permanecerá em prisão preventiva pelo menos até sexta-feira, quando está fixada a data de sua próxima audiência. Neste dia, um júri popular decidirá se o acusa formalmente dos crimes de abuso sexual e tentativa de estupro.
Em Rikers Island, ele é mantido sob um esquema de vigilância especial contra suicídio. A cada período de 30 minutos um guarda checa sua cela, diz Stephen Morello, porta-voz da penitenciária em Nova York.
"O histórico médico dos reclusos é confidencial, mas o Departamento Penitenciário de Nova York segue sempre os mesmos protocolos de proteção e segurança em relação a qualquer um que apresente risco de fazer dano a si mesmo ou aos demais", disse o porta-voz.
Segundo a rede de televisão NBC, as autoridades médicas do presídio de Rikers Island recomendaram que Strauss-Khan fosse submetido a essa vigilância especial devido a "seu estado de ânimo e à natureza do caso".

Por Folha