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Dilma fala em efetivar interino e cúpula do PR diz não

Consumada a queda de Alfredo Nascimento, Dilma Rousseff sinalizou a intenção de alçar ao posto de ministro dos Transportes o segundo da pasta, Paulo Sérgio Passos.
Informada sobre os planos da presidente, a cúpula do PR mandou dizer que não aceita. O partido considera-se no “direito” de indicar o sucessor de Nascimento.
Porém, sob intensa disputa interna, o partido de Nascimento não produziu um nome de consenso. Chegaram aos ouvidos de Dilma quatro opções. Nenhuma agradou.
No início da noite, a presidente oficializou a interinidade de Paulo Passos, secretário-geral dos Transportes. Reunira-se com ele à tarde.
Nos próximos dias, segundo disse em privado, Dilma tentará “criar condições políticas” para efetivar o interino.
Embora tenha se filiado ao PR no ano passado, Paulo Passos é um técnico. Graduou-se economista na Universidade Federal da Bahia. Pós-graduou-se na FGV.
Egresso do Planejamento, é considerado um especialista no setor de Transportes. Ganhou visibilidade sob FHC e foi aproveitado sob Lula.
Dilma gosta de Paulo Passos. Considera-o discreto e eficiente. Enxerga nele a perspectiva de retomar o controle da pasta, higienizando-a.
Pelas mesmas razões, o PR torce o nariz para Paulo Passos. Não se dispõe, por ora, a avalizá-lo. O partido divide-se entre quatro opções.
Os dois nomes que emergiram com mais força foram o do ex-senador César Borges (PR-BA) e o do senador Blairo Maggi (PR-MF). Ambos já governaram seus Estados.
César Borges é cristão novo no condomínio governista. Nasceu para a política como cria de Antonio Carlos Magalhães, o morubixaba pefelê morto em 2007.
Eleito senador em 2002, César integrava as fileiras do DEM, sucedâneo do PFL. Antes de migrar para o PR, ajudou a enterrar no Senado a CPMF.
Foi às eleições de 2010 como um neogovernista. Mas distanciou-se de Dilma ao disputar a reeleição ao Senado na chapa de Geddel Vieira Lima (PMDB), derrotado por Jaques Wagner (PT) na briga pelo governo baiano.
Contra Blairo Maggi, pesa o fato de ser o padrinho político de Luiz Antonio Pagot, o diretor-geral do Dnit que acaba de cair em desgraça.
Entre todos os personagens da atual crise, Pagot foi o que mais tirou Dilma do sério. Para driblar a decisão da presidente de afastá-lo do cargo, saiu em férias.
Nas palavras de um auxiliar de Dilma, acomodar Blairo na cadeira que Nascimento acaba de desocupar seria o mesmo que “trocar seis por meia dúzia”.
O terceiro nome é o do senador Clésio Andrade (PR-MG), presidente da Confederação Nacional dos Transportes. Além de não ser do agrado de Dilma, não une o partido.
O quarto é o deputado Luciano Castro (PR-RR). Ex-líder do partido na Câmara, achega-se à disputa como preferido de Valdemar Costa Neto (PR-SP).
O mesmo Valdemar a quem se atribui o comando do esquema que trocava obras por propinas sob Nascimento. Dilma quer distância de Valdemar, réu no processo do mensalão.
De volta ao Senado, Alfredo Nascimento retomará a presidência do PR, posto do qual estava licenciado.
Em diálogos com seus correligionários, Nascimento avisou: não abre mão de coordenar a própria sucessão no Ministério dos Transportes.
É contra essa pano de fundo conflagrado que Dilma opera. Tenta consolidar Paulo Passos sem perder os votos do PR: 40 na Câmara e seis no Senado.

Por Josias de Souza, da Folha