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Roberto Carlos canta em hebraico para 5.000 pessoas em Jerusalém

A caminho do anfiteatro Sultan's Pool, no Vale do Hinnon, em Jerusalém, um grupo de fãs brasileiros de Roberto Carlos debatia no ônibus com qual música o Rei iria abrir a apresentação para 5.000 pessoas, que aconteceu hoje. "Nossa Senhora", "O Portão", "Ave Maria"? Quem venceu o desafio foi o veterinário Gustavo Costa, 34, de Jaboticabal, acompanhado da mulher, dos pais e do irmão. "Vai ser 'Emoções'! Já fui a mais de 30 shows dele", sentenciou.
"Roberto, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!", grita a turma do fundão do anfiteatro. Às 20h40, ao som dos primeiros acordes de "Emoções", o Rei entra no palco que reproduz a Cidade Velha de Jerusalém. Abre os braços e emenda o famoso verso "Quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo...". Na sequência, afirma que gostaria de "dizer muitas coisas neste momento, mas vou dizer cantando, que é o que eu sei fazer". E ataca com "Além do Horizonte" e "Como Vai Você" --esta última, começa em espanhol.
Roberto começa a apresentação falante. Diz que gosta de cantar o amor. "O amor é algo sublime. Amor de irmão, de pai, de amigo, de fé, de alma. Toda forma de amor vale. O amor é fonte inesgotável." E começa "Como É Grande o Meu Amor por Você". Canta, ao violão, "Detalhes" em português, inglês, italiano e espanhol. Erra as duas primeiras entradas da música e se desculpa. Segue com "Outros Casos" e pede a participação do público no refrão final.
Na primeira fila da apresentação estão jornalistas, publicitários e empresários. A única celebridade global é Regina Casé, acompanhada do marido, Estêvão Ciavatta. Os filhos do Rei, Dudu, Luciana e Rafael, ficam na segunda fila, na direção do microfone, a pedido do pai. Assim como ficava Maria Rita, sua mulher, que morreu em 1999.
Roberto Carlos faz uma pausa para água. Também dá um gole em uma outra bebida que parece uísque. Uma fã grita: "Isso, Robeeeerto! Bebe muita água pra cantar bastante ainda!". Ele inicia "Eu Sei que Vou Te Amar" com direito à recitação do "Soneto da Fidelidade", de Vinicius de Moraes ("De tudo ao meu amor serei atento/Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto").
"Roberto, eu vou sempre te amar!", "Te amo!", "Viva o Rei!", gritam algumas brasileiras na plateia formada por cadeiras em estilo de arquibancada, de acrílico, na cor azul, colocadas sobre uma cobertura de grama sintética.
Depois de "Pensamentos", música que, diz, "fiz há muito tempo com o Erasmo", o Rei discursa: "A força da fé nos ajuda a prosseguir". E entoa, em italiano, "Ave Maria". É aplaudidíssimo, mas, duas palavras depois, pede desculpas por um problema técnico e recomeça. É a hora em que mulheres e homens do público sacam seus lenços para enxugar as lágrimas.

SE O BEM E O MAL EXISTEM
 
A homenagem a sua mãe, Lady Laura, que morreu no ano passado, não fica de fora. Ao final da canção com o nome dela, manda um beijo em direção ao céu. Canta depois "Olha" e "Proposta" e leva a mão ao rosto para enxugar as lágrimas. Anuncia que cantará outra música em inglês. "Poucas vezes me atrevo a cantar em inglês, porque acho que meu inglês é cais do porto. Mas essa música não tem como." E entoa os versos de "Unforgetable".
O Rei fala: "Aqui, muçulmanos, judeus e cristãos se unem em busca de uma força maior. Cada cor tem sua importância, mas quando ficam juntas é muito mais alegre". O cenário então fica todo iluminado e ele pode cantar "Eu Quero Apenas", com o verso "Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar". A plateia vibra e o cantor prossegue com "O Portão". A música o leva às lágrimas e ele as enxuga discretamente ao final.
Canta novamente em italiano, agora, "Caruso", de Lucio Dalla. "Sempre quis cantar essa canção, mas nunca tive atrevimento, porque é uma canção para quem tem voz aguda, que canta alto, como Pavarotti, Lucio Dalla e o Zezé Di Camargo. Mas me atrevi a cantar do meu jeito." E emenda "Aquarela do Brasil", para homenagear o país no Dia da Independência.
É chegada então a hora do número especial da noite com "Jerusalém de Ouro", cantada metade em hebraico com um coral israelense ao fundo. É aplaudido de pé. "Sei que foi um atrevimento muito grande."
Pra encerrar o quesito ousadia, Roberto Carlos decide deixar de lado a superstição que o acompanhava havia anos e não lhe permitia pronunciar a palavra mal em "É Preciso Saber Viver". Ele, que dizia "se o bem e o bem existem, você pode escolher", canta o verso original "se o bem e o mal existem".
Duas horas depois, encerra o show com a tradicional "Jesus Cristo" e a distribuição de dúzias e dúzias de rosas vermelhas e brancas. "Obrigado por essa noite. Obrigado, Jerusalém! Amém!"

Por Folha