|

Berlusconi confirma que renunciará ao cargo de premiê da Itália

Cedendo a crescentes pressões políticas, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, confirmou nesta terça-feira que renunciará ao cargo após a aplicação das medidas de austeridade para reduzir o deficit público do país exigidas pela União Europeia.
"Depois da aprovação da Lei de Estabilidade, apresentarei minha demissão, de modo que o chefe de Estado possa abrir as consultas e decidir sobre o futuro", disse, acrescentando que essa decisão "não me diz respeito".
"Eu vejo só a possibilidade de novas eleições. O Parlamento está paralisado", acrescentou.
A pressão política pela saída de Berlusconi aumentou com a votação da revisão das contas fiscais de 2010. O projeto passou, mas sem maioria parlamentar. Isso porque a oposição do país, em vez de votar contra, não votou para não atrapalhar a já combalida situação econômica do país.
Do total de 630 parlamentares, 308 votaram a favor do projeto fiscal, um se absteve e 321 não votaram. Assim, o projeto foi aprovado mas o premiê ficou sem a maioria de 316.
A votação desta terça-feira era considerada um voto de confiança informal no atual governo. Sem a maioria, já era previsto que o primeiro-ministro sairia.
O anúncio chega após uma reunião do premiê com o presidente italiano, Giorgio Napolitano, no palácio do Quirinale, sede da Presidência da Itália, junto a lideranças do partido direitista Liga Norte, da base do governo.
Segundo o comunicado da Presidência, Berlusconi teria dito que tem consciência das implicações da votação de hoje e expressou preocupação com a necessidade de dar respostas aos parceiros europeus.
Logo após a votação, o ministro da Defesa, Ignazio La Russa, afirmou que, independente do resultado, os números teriam que ser levados para o chefe de Estado do país.
 
ALIADOS RETIRAM APOIO

Além das crescentes pressões das lideranças da zona do euro e da oposição, nesta terça-feira o premiê recebeu um pedido de renúncia de sua própria base governista.
"Pedimos que ele se afastasse", afirmou o chefe da Liga Norte, Humberto Bossi, aliado de Berlusconi na coalizão de centro-direita no poder.
Bossi também afirmou que seu partido irá apoiar Angelino Alfano, considerado "herdeiro político" de Berlusconi, para a chefia de um novo governo.
Alfano, ex-ministro da Justiça do governo de Silvio Berlusconi, é atualmente secretário-geral do PDL (Povo da Liberdade --partido de Berlusconi), e seu nome poderia receber um apoio relativamente grande para liderar um governo de transição no qual entraria a oposição centrista.
 
"SITUAÇÃO PREOCUPANTE"

Mais cedo, o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn, disse após o fim de uma reunião de ministros de Finanças da União Europeia que a situação na Itália é "muito preocupante".
"A Itália tem registrado vários movimentos e não sabemos quais serão seus desfechos", disse ainda Rehn. Segundo ele, a Europa está "acompanhando a situação atentamente".
Também nesta terça-feira, autoridades da Finlândia e da Áustria alertaram que a Itália é um país excessivamente grande para ser resgatado em um pacote de ajuda, a exemplo do que está sendo feito com a Grécia.
O primeiro-ministro da Finlândia, Jyrki Katainen, disse que a Itália é um país grande demais para ser resgatado por um programa de ajuda. "É difícil ver que nós na Europa teríamos os recursos para colocar um país do tamanho da Itália em um programa de resgate", afirmou em discurso no Parlamento.
Ecoando a visão do finlandês, a ministra austríaca da Economia, Maria Fekter, afirmou que, devido ao tamanho da Itália, Roma deve adotar medidas de ajuste fiscal para não precisar de um resgate europeu, a exemplo dos gregos.
"A Itália sabe que, por seu tamanho, não pode receber ajuda externa", afirmou Fekter aos jornalistas antes de uma reunião de ministros da União Europeia em Bruxelas. "Por isto a Itália deve fazer sacrifícios".
 
INCERTEZAS
 
Com as dúvidas latentes sobre a possibilidade do governo do premiê Silvio Berlusconi cumprir as metas de redução do deficit público, os investidores fugiam nesta sessão do mercado da dívida italiana, o que levou as taxas de juros dos títulos a dez anos a um novo recorde desde a instauração da zona do euro.
O rendimento dos títulos italianos alcançava 6,73%, um nível insustentável para a enorme dívida do país. Além disso, a nota de risco da Itália alcançou um novo pico histórico, com 495 pontos básicos, chegando a níveis inacessíveis para o financiamento da economia nacional com normalidade.

Por Folha