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BC reduz taxa de juros para 10,50% ao ano

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2012, o Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira, por unanimidade e sem viés, reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, para 10,5% ao ano. É o quarto corte consecutivo no governo Dilma. A redução não foi nenhuma surpresa para o mercado. A maioria dos analistas mostrava consenso em torno dessa redução ante os últimos sinais da autoridade monetária de que daria continuidade aos “ajustes moderados” iniciados em agosto.
No comunicado da decisão, o BC também não mudou em nada seu discurso, repetindo o exato recado da decisão de novembro. "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 10,50% a.a., sem viés. O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Novo foco – O mercado agora volta agora suas atenções à ata da reunião, que será publicada na semana que vem. O documento deve deixar clara a posição da autoridade monetária sobre o tamanho do ciclo de baixa dos juros. A mediana das apostas, divulgada no boletim Focus, mostra uma taxa de 9,5% ao ano ao fim de 2012. Contudo, as instituições financeiras e consultorias encontram-se ainda muito divididas sobre este valor final dos juros e sobre o ritmo que o BC imporá à redução da Selic.
"Dado à recente comunicação do BC com o mercado, via Relatório Trimestral de Inflação de dezembro, quando o banco mostrou-se mais conservador, a ata ganhou maior importância dessa vez. A questão é saber o quanto o conteúdo da ata se aproximará do que está no relatório", diz Tatiana Pinheiro, do Santander. A economista afirma que, se a ata não vier em linha com o que está no relatório, o mercado voltará a esperar mais cortes. Por ora, a maior aposta é que o Copom deve fixar somente mais redução de 0,5 p.p. em março, para 10% ao ano.

Afrouxamento monetário – Desde o ano passado, o BC tem argumentado que a desaceleração da economia internacional, causada pela crise, exerce impacto relevante sobre a atividade interna, o que abre espaço para a queda da inflação. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, por exemplo, registrou variação nula no terceiro trimestre do ano passado, com queda relevante da atividade industrial – o que foi interpretado pelos economistas como um sinal de que as turbulências externas, acompanhadas de restrições ao crédito, afetaram o país.
A inflação, contudo, não mostra sinais de que deve ceder até os níveis desejados. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2011 em 6,5%, no limite máximo fixado pelo governo. As perspectivas para a alta dos preços em 2012 tampouco são positivas. O último boletim Focus, que compila as apostas do mercado, aponta que os economistas preveem um IPCA de 5,30% em dezembro – bem acima, portanto, do centro da meta, de 4,5%.

Incertezas – O esforço do mercado de tentar antever os passos da autoridade monetária ganha maior complexidade ante o fato de que a própria economia está bastante incerta. As surpresas desagradáveis vindas da Europa e os reflexos da crise externa são os principais pontos de indefinição. Outro ponto que divide os analistas é a velocidade com que a atividade econômica recuperará o crescimento ante os incentivos fiscais e monetários concedidos nos últimos meses.
Há também incertezas quanto ao compromisso do Palácio do Planalto com o superávit primário – economia do setor público para reduzir o endividamento do longo prazo, fixada em 3,1% do PIB para este ano. O governo cumpriu a meta no ano passado (3,22% do PIB), mas, caso a desaceleração econômica registrada no último trimestre de 2011 continue, pode resolver “abrir os cofres públicos”. “Mesmo que o governo cumpra a meta fiscal neste ano, as despesas públicas devem continuar em alta, influenciando tanto a trajetória de inflação quanto a condução da política monetária atual”, apontam os economistas Roberto Padovani e Alexandre Andrade em relatório da Votorantim Corretora.
Por fim, pairam no ar dúvidas sobre a firmeza de compromisso do Banco Central com a meta de inflação. “No último Relatório Trimestral de Inflação, o cenário com corte de juros já mostrava que a inflação ficaria em 4,8% (previsão do BC) neste ano e 5,3% ano que vem. Então, para que cortar juros agora se eu terei de subir no ano que vem? Para o BC, a meta de inflação não é mais importante que a meta de crescimento”, diz o consultor Alexandre Schwartzman.

Por Veja