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China e Rússia vetam sanções a Assad e êxodo cresce na Síria

A Rússia e a China vetaram uma resolução com ameaças de sanções ao regime de Bashar Assad que foi apresentada pelos Estados Unidos e seus aliados europeus no Conselho de Segurança da ONU ontem. Esta foi a terceira vez que Moscou e Pequim usaram o seu poder de veto no órgão decisório máximo das Nações Unidas. Foram 11 votos a favor, além de abstenções de Paquistão e África do Sul.
Os representantes dos EUA, da Grã Bretanha, da França, da Alemanha e de outros países consideraram lamentável a decisão russa e chinesa de vetarem mais uma vez a iniciativa do Ocidente, em um sinal claro de que, mesmo depois de um ano e meio de levantes na Síria e ao menos 17 mil mortos, a comunidade internacional continua dividida.
Caso não seja votada até hoje uma resolução de emergência para ao menos prorrogar a missão dos observadores da ONU na Síria, que começou há 90 dias, os 300 integrantes precisarão se retirar do país amanhã e não haverá mais monitores independentes para acompanhar o conflito.
“Os dois primeiros vetos da Rússia e da China foram muito destrutivos. Mas este veto foi ainda mais perigoso e deplorável”, disse a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, depois da votação. A diplomata ainda classificou de “paranóico” o argumento de que a resolução autorizaria uma intervenção militar. “São apenas ameaças de sanções”, finalizou. O representante britânico na ONU, Mark Grant, também adotou um duro ao acusar chineses e russos “de colocarem seus interesses nacionais acima da vida de milhões de sírios. O efeito de suas ações é a proteção de um regime brutal”.
O texto previa a prorrogação da missão observadora da ONU e a implementação de um plano de transição política proposta pelo ex-secretário geral da entidade e mediador do conflito, Kofi Annan, com a inclusão do artigo 41 do capítulo 7 da carta das Nações Unidas, que prevê a ameaça de sanções. Estas seriam aplicadas caso o governo sírio não cumprisse com as determinações da resolução. A Rússia e a China concordam com a primeira parte, mas discordam das ameaças ao regime – Annan tampouco pediu para que esta pressão fosse acrescentada.
Na avaliação de Moscou e Pequim, o Ocidente não é apenas ameaçar com sanções.O objetivo seria, segundo eles, abrir espaço para o artigo 42 no futuro, que permite intervenção militar, como aconteceu na Líbia no ano passado. Além disso, os dois países também acham que a oposição deveria ser responsabilizada pela violência.
“Nós não podemos aceitar um documento que abre caminho para uma pressão por um maior envolvimento militar externo em assuntos domésticos sírios”, disse o embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin. A China acrescentou que a resolução basicamente adotava “o lado da oposição em um conflito descrito como guerra civil por entidades como a Cruz Vermelha”.
No texto, apenas o regime seria alvo de sanções. Não há menção aos opositores nesta parte. De acordo com a resolução, “se as autoridades sírias não cumprirem com o parágrafo 5 (implementando as determinações do plano Annan aprovadas nas resoluções 2042 e 2043, aprovadas por unanimidade neste ano) nos próximos dez dias, então será necessário impor imediatamente medidas do artigo 41 da carta da ONU (sanções)”.
Para os EUA e os europeus, Assad não cumpriu as resoluções anteriores, que não continham ameaças justamente pela oposição de Moscou e Pequim. Desta forma, um texto novamente sem as pressões seria ineficaz para forças o regime sírio a adotar as determinações do Conselho de Segurança.
A Rússia propôs uma resolução para prorrogar a missão de observadores por mais 30 dias, mas não houve o apoio de nove países necessários para ser colocada para votação. Se não houver acordo até amanhã, os observadores precisam se retirar até sábado da Síria.
Um novo texto elaborado pelos britânicos poderia ser aprovado em caráter emergencial hoje para evitar um colapso total das negociações na ONU. Susan Rice, dos EUA, indicou, por sua vez, que talvez seja melhor esquecer o conselho. Outros diplomatas ocidentais eram menos céticos e acham que o cenário pode mudar, citando o apoio da Índia à resolução. Os indianos optaram pela abstenção em iniciativas anteriores, se posicionando com a China e a Rússia.

Por Estadão