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Divisão do Pará: a (ir)responsabilidade da União

O debate sobre a proposta de divisão do Pará começou a ganhar as ruas. No último domingo ocorreu em Belém uma grande caminhada que reuniu manifestantes contrários à iniciativa.  Em Marabá e Santarém, vários eventos têm sido organizados com o objetivo de arrecadar fundos para a campanha separatista.
Contudo, o que se tem visto (principalmente na internet, onde as discussões sobre o tema já são antigas) é a predominância de um discurso passional, muitas vezes preconceituoso e xenófobo. A racionalidade tem ficado distante.
O principal objetivo do plebiscito é informar a população sobre as conseqüências da separação, permitindo com que o povo reflita e pondere se é melhor dividir o Estado, ou deixar como está. Mas, se as campanhas descambarem para a mera troca de acusações, restará seriamente prejudicada a formação de opinião dos eleitores. Um debate nesse nível não serve.
A primeira questão que se deve entender é que o problema é muito maior do que mostra o discurso fácil que reduz o tema a uma disputa entre mocinhos e bandidos. É fato que há políticos oportunistas que desejam a divisão do Estado em virtude de interesses pessoais. Porém, é fato também que se não houvesse uma realidade desoladora nas regiões do Carajás e Tapajós, nem apelo popular, a proposta não teria sido levada em frente. Nenhum discurso se sustenta sem base na realidade.
Ainda, o Pará é um Estado que possui diversas potencialidades econômicas que podem ser muito melhor exploradas e que podem trazer muito mais benefícios se devidamente integradas.
Assim, chega-se ao ponto nevrálgico que deve nortear a reflexão sobre o tema: a divisão do Pará vai resolver os problemas enfrentados pela população daquelas áreas? Ora, as principais alegações do movimento separatista referem-se ao abandono do Estado, à distância entre o poder público a região, às dificuldades de acesso aos serviços públicos etc. A criação do Carajás e Tapajós vai resolver isso?
Não! Isso porque, como demonstrou o IPEA, tais Estados não teriam condições nem de se sustentar e muito menos de oferecer soluções a tais problemas. É inegável que o referido abandono existe, mas esse abandono não é privilégio só do Carajás, nem apenas do Tapajós, mas afeta todo o Pará e, pode-se dizer, a Região Norte e a Amazônia em geral.
 Esse abandono de que se queixam os separatistas é reflexo do histórico descaso com que tem sido tratado o Pará e o norte do país pela União. A rodovia BR-230, mais conhecida como Transamazônica, p. ex., foi inaugurada em 1974 e ainda não recebeu asfalto; as eclusas de Tucuruí esperaram cerca de 30 anos para serem concluídas; a rodovia BR-163, a chamada Santarém-Cuiabá, criada em 1970, até hoje não foi pavimentada no trecho paraense;  a Hidrovia do Marajó não passa de sonho... são muitos exemplos que demonstram o desprezo do Governo Federal pelo Pará.
Longe de resolver esses entraves, a divisão do Estado vai apenas “mudá-los” de lugar (do Pará para Carajás e Tapajós). Ao cabo, a situação continuará crítica, podendo piorar em virtude dos excessivos gastos com a máquina administrativa dos novos entes federativos.
Nesse sentido, o plebiscito é um ótimo momento para conscientizar a população do Estado de que, ao invés de separar, devemos sim nos unir e lutar pelo Pará contra as verdadeiras forças que há décadas saqueiam nossa região.
De fato, o Pará só é lembrado pela União quando o resto do país precisa de energia, minério, ou se livrar de problemas sociais. A hora é dizer ”basta”! O Pará não quer mais ser um mero “sentinela do Norte”, sempre disponível para atender aos caprichos do comando do país. Não há espaço para a divisão: unidos somos mais fortes.