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Após sanções, EUA aumentam presença militar próximo à Líbia

Após tornarem efetivo um pacote de sanções unilaterais contra a Líbia e congelar US$ 30 bilhões de ativos líbios, os EUA reposicionaram sua frota naval e aérea na região do Mediterrâneo e avançaram negociações para criar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, fechando o cerco ao regime do ditador Muammar Gaddafi. 
O Pentágono confirmou o deslocamento de unidades navais e da Força Aérea para as proximidades da Líbia como parte de um "planejamento de contingência".  
"Como parte de nosso planejamento de contingência estamos reposicionando algumas unidades na região, de modo que tenhamos flexibilidade uma vez que se tome alguma decisão em relação à Líbia", disse o porta-voz do Departamento de Defesa Dave Lapan.
O deslocamento será realizado quando tanto os EUA como o Reino Unido reconhecerem que se considera "muito seriamente" a imposição de uma zona de exclusão sobre território líbio.
"É uma opção que consideramos ativa e seriamente", indicou a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, que no entanto se mostrou cautelosa na hora de se pronunciar sobre uma hipotética assistência militar americana aos rebeldes, algo que considerou "prematura".
Como Hillary já tinha indicado em Genebra, Susan confirmou o estabelecimento de contatos com representantes da oposição e da sociedade civil líbia.
"Estamos em contato com todo tipo de elementos da sociedade civil, para nos assegurar que apoiamos da melhor forma possível as aspirações líbias em favor da justiça e da liberdade", assinalou a embaixadora.
No entanto, negou identificar um grupo concretamente, ao indicar que a oposição líbia está "dispersa" e não conta com um líder claro.
 
"ALIENADO"
 
As medidas chegam no mesmo dia em que Rice isolou o ditador ao classificá-lo como "alienado".
Susan esteve presente nesta segunda-feira na reunião no Salão Oval entre o presidente americano, Barack Obama, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para analisar a situação no país árabe e os próximos passos após a aprovação do Conselho de Segurança das sanções que incluem um embargo de armas e o congelamento de bens ao regime líbio.
Em paralelo, o Departamento do Tesouro anunciava o congelamento de US$ 30 bilhões de ativos líbios sob jurisdição dos EUA, a maior quantidade na história que se bloqueia dentro de um programa de sanções, segundo o organismo.
O subsecretário do Tesouro para a luta contra o terrorismo, David Cohen, assinalou que a maioria dos fundos congelados pertence ao Banco Central da Líbia e ao Fundo de Investimento Soberano Libyan Investment Authority, que os Estados Unidos considera que são controlados por Gaddafi e sua família.
 
ZONA DE RESTRIÇÃO AÉREA
 
Os planos de criação de um espaço de exclusão aérea foram confirmados hoje pelo porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. A medida pode impedir que o ditador líbio, Muammar Gaddafi, use aviões de guerra ou helicópteros para atacar rebeldes que já tomaram vastas áreas do país. 
Mais cedo nesta segunda-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, havia admitido que a opção de declarar uma zona de exclusão aérea para acabar com a repressão exercida pelo regime de Gaddafi "está sobre a mesa", assim como outras medidas.
Ela disse que conversou sobre "estas e outras possíveis ações" com representantes de países europeus, reunidos nesta segunda-feira em Genebra no marco do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
A secretária de Estado ressaltou que a zona de exclusão aérea é uma das opções consideradas para poder "pressionar o regime" de Gaddafi e que há "um número de ações potenciais" que poderiam ser aplicadas nos próximos dias, "especialmente do lado europeu". 

ENTREVISTA DE GADDAFI
 
Gaddafi declarou durante entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da rede de TV americana ABC, que o povo líbio "o ama" e "morreria por ele".
"Todo meu povo me ama. Eles morreriam para me proteger", afirmou o líder líbio, de acordo com uma mensagem de Amanpour postada em seu Twitter.
Na entrevista, da qual a rede BBC também participou, Gaddafi também negou-se a admitir que existem demonstrações de opositores nas ruas de Trípoli, segundo a jornalista.
O ditador acusou ainda os países ocidentais de abandonarem seu governo na luta contra "terroristas". "Estou surpreso que tenhamos uma aliança com o Ocidente para combater a Al Qaeda, e agora que estamos lutando contra terroristas, eles nos abandonaram. Talvez eles queiram ocupar a Líbia", disse.
Gaddafi, que enfrenta uma revolta popular contra seu governo de 41 anos, chamou também o presidente dos EUA, Barack Obama, de "bom homem", mas afirmou que ele parecia estar "informado de maneira errada" sobre a situação na Líbia.
"As declarações que ouvi dele devem ter vindo de outra pessoa. A América (EUA) não é a polícia internacional do mundo", acrescentou Gaddafi.
Na conversa, o ditador reiterou que não pode renunciar, já que oficialmente "não é nem presidente nem rei".

Por Folha