Com medo de acidente nuclear, Japão começa a contar os prejuízos
O Japão confronta na manhã deste sábado (horário local) a devastação provocada pelo terremoto e o tsunami de sexta-feira na sua costa nordeste, onde ainda há incêndios e cidades parcialmente submersas. Pelo menos 402 pessoas morreram - autoridades acreditam que o número pode passar de mil.
O amanhecer - ainda noite de sexta-feira no Brasil - revelou boa parte da extensão dos danos causados pelo tremor de magnitude 8,9 e pelo tsunami de dez metros de altura que varreu vilarejos e cidades.
Em uma das áreas residenciais mais atingidas, era possível escutar pessoas soterradas sob os escombros, pedindo socorro e perguntando quando seriam resgatadas, segundo relato da agência de notícias Kyodo.
Risco nuclear. O governo alertou que pode ocorrer um pequeno vazamento de radiação num reator nuclear cujo sistema de refrigeração foi danificado pelo terremoto. O primeiro-ministro Naoto Kan ordenou que os moradores sejam retirados de um raio em torno de dez quilômetros da usina. Inicialmente, cerca de 3.000 pessoas que estavam a uma distância de três quilômetros da usina foram retiradas.
Salientando a grave preocupação com a situação da usina nuclear de Fukushima, cerca de 240 quilômetros ao norte de Tóquio, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que a força aérea dos EUA entregou substâncias refrigerantes para evitar um aumento na temperatura das cápsulas de combustível nuclear da usina.
A pressão que está se formando na usina foi liberada para diminuir o risco. Segundo as autoridades, o vapor radioativo não causará problemas para a população.
A usina Fukushima 2 também apresentou anormalidade - as autoridades também decidiram pela liberação de vapor radioativo. A situação, no entanto, ainda preocupa nas duas usinas.
Ajuda. Pelo menos 45 países - inclusive China e EUA - já ofereceram ajuda ao Japão nas tarefas de busca e resgate de vítimas.
"Trata-se provavelmente de uma operação humanitária de proporções épicas," escreveu em um comentário Sheila Smith, especialista em Japão da entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores.
No nordeste do Japão, a cidade de Kesennuma, com 74 mil habitantes, sofre incêndios descontrolados, e um terço da sua área está submersa, segundo relato feito na manhã de sábado pela agência de notícias Jiji.
Em Sendai, cidade com 1 milhão de habitantes, o aeroporto está em chamas depois de ser inundado pelo tsunami, acrescentou a agência.
Na sexta-feira, imagens de TV mostraram uma veloz torrente de água barrenta arrastando carros e destruindo casas nos arredores de Sendai, 300 quilômetros a nordeste de Tóquio. No cais, navios foram arremessados para a terra e ficaram virados de lado.
No norte do Japão, um tsunami atingiu a cidade de Kamaichi, e apesar de ter sido de pequenas dimensões atirou barcos, carros e caminhões como se fossem de brinquedo. A Kyodo disse que quatro trens na zona costeira ficaram incomunicáveis.
O primeiro-ministro Naoto Kan disse a políticos que eles precisam "salvar o país" após o desastre, que segundo ele causou danos profundos em toda a faixa norte do país.
Mortos. A imprensa japonesa acredita que mais de mil pessoas morreram. Aparentemente, as pessoas morreram afogadas. A dimensão dos danos ao longo de uma extensa faixa costeira e o grande número de desaparecidos indicam que o número de mortos pode aumentar.
Mesmo para um país acostumado a terremotos, a devastação era impressionante.
"Uma grande área da cidade de Sendai perto do litoral está inundada. Ouvimos que pessoas que foram retiradas estão presas", disse Rie Sugimoto, repórter da TV NHK em Sendai.
"Cerca de 140 pessoas, incluindo crianças, foram levadas para uma escola e estão no telhado mas estão cercadas por água e não têm para onde ir".
O terremoto, o maior desde que o Japão iniciou seus registros há 140 anos, provocou incêndios em pelo menos 80 lugares, segundo a agência de notícias Kyodo.
Outras usinas nucleares e refinarias de petróleo foram paralisadas, e havia fogo em uma refinaria e numa grande siderúrgica.
O terremoto no Japão foi o quinto mais forte do mundo no último século.
"O prédio sacudiu por bastante tempo e muitas pessoas na redação pegaram seus capacetes e se esconderam debaixo da mesa", disse a correspondente da Reuters em Tóquio Linda Sieg.
"Isso foi provavelmente o pior que eu já vivi desde que vim morar no Japão há mais de 20 anos", afirmou.
Por Estadão