Conselho de Segurança autoriza intervenção na Líbia
O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta quinta-feira (17) uma resolução que autoriza "todas as medidas necessárias" para proteger a população civil líbia dos ataques das tropas de Muammar Khadafi e estabelece uma zona de exclusão aérea sobre o país norte-africano. A medida recebeu o respaldo de 10 dos 15 membros do principal órgão de segurança internacional. Cinco países - Brasil, Índia, Alemanha, China e Rússia - se abstiveram. Russos e chineses, que são membros permanentes do Conselho de Segurança, poderiam ter vetado a medida se houvessem votado contra.
"A resolução leva em conta a causa do povo da Líbia e pretende acabar com os crimes atrozes contra o povo cometidos pelas autoridades", disse após a votação o embaixador do Líbano, Nawaf Salam, país que junto com França, Reino Unido e EUA impulsionaram a resolução. O representante do único país árabe no Conselho afirmou que as autoridades líbias "perderam toda sua legitimidade" e disse que as medidas não incluem a ocupação do país por parte de tropas estrangeiras.
Por sua vez, o ministro de Relações Exteriores da França, Alain Juppé, que foi para Nova York para assistir à votação, disse que Khadafi tenta "achatar" a vontade de seu povo de viver em democracia. "Não podemos abandonar a população civil e as vítimas da repressão brutal, não podemos permitir que seja derrubada a legalidade e a moralidade internacional", disse o chefe da diplomacia francesa. Juppé garantiu que a França está disposta a atuar com rapidez junto com seus "aliados e os países árabes".
A Alemanha, por sua vez, declarou que apoia "completamente" o pacote de sanções econômicas e financeiras incluso na resolução, mas reconheceu que "as decisões que implicam no uso da força militar são sempre difíceis de tomar". "Vemos grandes riscos e não deveria ser desprezado o risco de perda de muitas vidas. Vemos o perigo de estarmos envolvidos em um conflito militar que poderá afetar uma região mais ampla", disse o embaixador germânico perante a ONU, Peter Wittig.
A resolução estabelece que os Estados-membros da ONU podem adotar "todas as medidas necessárias" - o que incluiria ataques aéreos - para "proteger os civis e as áreas povoadas por civis que estão sob ataque na Líbia, incluindo Benghazi", o principal reduto dos insurgentes. Ao mesmo tempo, o texto aprovado exclui a presença de "qualquer força de ocupação estrangeira, de qualquer tipo, em qualquer parte do território líbio". A resolução endurece o embargo de armas à Líbia e reforça as sanções impostas no mês passado a Khadafi e seu círculo mais próximo de colaboradores.
Milhares de pessoas concentradas na praça principal de Benghazi comemoraram a decisão da ONU. Os manifestantes acompanharam ao vivo na praça a transmissão feita pela rede de televisão Al Jazeera. Depois da decisão, soltaram fogos de artifício e agitaram as bandeiras oficiais do país antes do regime de Muammar Khadafi. O líder líbio afirmou mais cedo que haverá um grande ataque "sem misericórdia" contra Benghazi nesta quinta se a cidade não se render.
Khadafi também disse que vai atacar o Mediterrâneo caso ocorra "qualquer ato militar" contra a Líbia. De acordo com o Guardian, depois dos votos do Conselho de Segurança Khadafi afirmou ao canal português RTP que a resolução da ONU é um ato "flagrante de colonização". "Isso é loucura, insanidade, arrogância. Se o mundo quer ficar louco, enlouqueceremos junto. Vamos responder. Faremos da sua vida um inferno, porque é isso que eles estão fazendo das nossas. Não vai haver paz", teria afirmado Khadafi.
Zonas de exclusão aérea já foram usadas em dois outros conflitos: no Iraque, em 1991, e na Bósnia, em 1992. A medida do Iraque, assumida por EUA, Reino Unido e França, não teve a aprovação da ONU. As zonas de restrição da Bósnia foram apoiadas pela ONU e algumas continuaram em vigor até 2003. Mesmo assim, a medida não pôde evitar tragédias como o ataque sérvio a Sarajevo ou o massacre de civis em Srebrenica.
Por Época