Potências se preparam para intervenção militar na Líbia
LONDRES - O governo britânico ordenou à cúpula militar do país a finalização do plano para impor uma zona de exclusão aérea na Líbia, informou o jornal britânico The Guardian. A Força Aérea Britânica (RAF, na sigla em inglês) está de prontidão. Na noite de quinta-feira, 17, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que autoriza o uso de "todos os meios necessários" para proteger os civis das tropas leais ao ditador Muamar Kadafi.
Fontes diplomáticas francesas disseram que a ação militar poderia ser iniciada em poucas horas e incluiria a participação da França, Grã-Bretanha, e possivelmente os EUA e uma ou mais nações árabes.
Os caças Tornados da RAF devem ser os primeiros a atacar a defesa antiaérea de Kadafi. Os aviões, baseados na Escócia e em Norfolk, cidade no leste da Inglaterra, utilizariam bases no sul da França ou no Chipre. O Canadá ofereceu seis caças CF-18 para auxiliar na imposição da zona de exclusão aérea.
A Itália, por sua vez, disponibilizou suas bases militares para garantir o cumprimento da resolução, segundo a Reuters. A base aérea de Sigonella, na Sicília, que fornece apoio logístico à Sexta Frota do Estados Unidos, é uma das bases da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mais próximas à Líbia e poderá ser usada na ação.
"É um desenvolvimento positivo", afirmou uma fonte italiana após a sessão do Conselho de Segurança. Questionada sobre se a Itália iria oferecer suas bases para a aplicação da resolução da ONU, a fonte disse: "Sim, dissemos que estamos prontos para fazê-lo".
O Egito começou a fornecer armas de pequeno porte, como rifles e munição, para rebeldes no leste da Líbia, com o aval dos Estados Unidos, segundo o The Wall Street Journal. É o primeiro esforço conhecido de um governo estrangeiro para armar a oposição a Kadafi.
A votação
Dez dos 15 países-membros do Conselho de Segurança votaram a favor da resolução que autoriza a aplicação de uma zona de exclusão aérea de forma imediata e qualquer medida adicional - menos uma incursão terrestre - para impedir ataques que possam resultar na morte de civis. Eram necessários ao menos nove votos favoráveis, sem nenhum veto. O Brasil se absteve da votação, assim como Alemanha, Índia, China e Rússia.
A embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti, atribuiu a abstenção do país ao texto da resolução. "As medidas adotadas podem causar mais danos do que benefícios. Mas não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio", disse. Além disso, segundo a representante brasileira os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países.
As negociações estiveram sob o comando da França, da Grã-Bretanha e do Líbano. Os EUA envolveram-se mais intensivamente nos últimos dias depois que a Liga Árabe e a União Africana se posicionaram a favor da zona de exclusão aérea. O desafio, ao longo dos últimos dois dias, foi convencer a China e a Rússia a não vetar a resolução.
EUA cogitam treinar rebeldes
Na avaliação de alguns países, mesmo a zona de exclusão aérea não será suficiente. A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, disse antes da votação que talvez sejam necessárias medidas ainda mais restritivas para conter o regime líbio. Os EUA e seus aliados poderiam também enviar militares para assessorar e treinar os rebeldes, disse um oficial americano.
Demonstrando a importância da questão para a França, o próprio chanceler Alain Juppé compareceu ao conselho em Nova York e disse que a "obrigação dos franceses não é dar lições, mas ajudar as pessoas a decidir seu futuro. A situação na Líbia é alarmante. Não podemos abandonar a população civil diante da repressão. Temos pouco tempo. É uma questão de dias. Ou mesmo de horas. Cada hora que passa, aumenta o peso sobre os nossos ombros. Não podemos atuar tardiamente".
Kadafi ameaça
Minutos depois de a ONU aprovar a intervenção, Kadafi disse que a decisão do órgão é "um ato flagrante de colonização" ilegal. Isso é loucura, insanidade, arrogância. Se o mundo enlouquecer, enlouqueceremos junto. Vamos responder. Faremos de sua vida um inferno, porque estão fazendo isso da nossa. Eles nunca terão paz", disse o ditador ao canal português RTP.
Mais cedo, o ditador, que está há 40 anos no poder, já havia dito que suas forças estavam prontas para atacar Benghazi, principal reduto rebelde. "Está decidido. Estamos chegando. Não teremos misericórdia".
Por Estadão