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Potências se aproximam de rebeldes líbios

Esta quinta-feira (10) marcou uma guinada das grandes potências ocidentais no que diz respeito ao tratamento que o governo do ditador da Líbia, Muammar Khadafi, deve receber. França, Estados Unidos e Reino Unido tomaram atitudes, de naturezas diferentes, com o objetivo de tentar tirar a legitimidade de Khadafi. É um movimento novo, pois até aqui esses governos vinham fazendo apelos diretos a Khadafi para cessar a violência. Enquanto isso, a Otan, a aliança militar do Atlântico Norte, decidiu aproximar ainda mais suas embarcações militares da costa da Líbia, com a intenção declarada de monitorar o que ocorre no país.
O ato mais emblemático da quinta-feira foi da França. Após um encontro com membros do Conselho Nacional Líbio de Transição, sediado em Benghazi, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou que vai reconhecer o governo líbio, inclusive com a troca de embaixadores. Horas depois, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, anunciou que a Casa Branca  rompeu relações diplomáticas com o regime Khadafi. "Estamos suspendendo nossas relações com a embaixada líbia atual, de modo que esperamos deles que encerrem suas atividades (nos EUA)", declarou Hillary em uma audiência da Comissão de Dotações Orçamentárias da Câmara dos Representantes. Ela acrescentou que também vai se encontrar com representantes do Conselho Nacional Líbio de Transição. Ao mesmo tempo, o ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, disse considerar que membros do Conselho Nacional da Líbia são "interlocutores legítimos", mas não quis ir tão longe como o governo francês, e afirmou que o Reino Unido "reconhece Estados e não governos". Em outro ato que mostra qual a percepção de Khadafi no Ocidente, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, recusou um telefonema de Khadafi.
Apesar dessas atitudes de seus membros, a Organização do Tratado do Atlântico Norte continua dizendo que não vai intervir na Líbia. Não sem um aval das Nações Unidas e de organizações regionais, como a Liga Árabe ou a União Africana. O secretário-geral da Otan, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a organização só iniciará uma ação na Líbia se três requisitos forem cumpridos: uma necessidade demonstrável para intervenção, a existência de um marco legal claro e o apoio firme dos países da região.
Enquanto isso não ocorre, a Otan toma outras providências. A principal delas é o aumento do número de embarcações militares que se aproximarão da Líbia. Rasmussen não entrou em detalhes, mas indicou que unidades que já estão em outras zonas do Mediterrâneo serão deslocadas para a costa da Líbia. Essa decisão foi tomada pelos ministros da Defesa da Otan, que se reuniram em Bruxelas, na Bélgica. Eles também decidiram continuar preparando uma série de possíveis ações contra a Líbia. Os planos se centram em facilitar a entrada de ajuda humanitária na Líbia, realizar um bloqueio marítimo para evitar a entrada de armas no país e impor uma zona de exclusão aérea para frear os bombardeios do regime sobre a população. Conforme a ministra de Defesa espanhola, Carme Chacón, as duas primeiras opções estão mais avançadas, enquanto a terceira será discutida em profundidade em um encontro dos embaixadores da Otan na próxima terça-feira e precisa de mais preparação. Chacón, seu colega americano, Robert Gates, e Rasmussen insistiram que, para forçar a aplicação do embargo de armas e para iniciar a zona de exclusão, será necessário um mandato claro por parte das Nações Unidas. "Não poderemos falar de imposição de embargo nem de zona de exclusão aérea se não tivermos firmada uma resolução das Nações Unidas", disse Chacón.

Por Época