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Líbia aceita reformas, mas ditador ficará no poder, diz regime

Em coletiva, o porta-voz do regime líbio, Moussa Ibrahim, disse que o governo aceita reformas políticas e está disposto a discutir soluções com as potências ocidentais, mas que o ditador Muammar Gaddafi não deixará o poder.
"Poderíamos ter qualquer sistema político, quaisquer mudanças: constituição, eleições, qualquer coisa, mas o líder deve liderar este processo. Esta é a nossa crença", disse Ibrahim.
"Quem são vocês para decidir o que os líbios devem fazer? Por que eles [em referência às potências ocidentais] não dizem: precisamos que o povo da Líbia decida se o líder líbio deve ficar ou ir, decida se tem que ter um sistema político diferente ou não", acrescentou.
Ibrahim disse ainda que o regime lamenta a decisão do governo italiano, que mais cedo reconheceu o Conselho Nacional de Transição (CNT), dos rebeldes, como o "único interlocutor legítimo" do país para questões bilaterais e internacionais.

ITÁLIA
 
O anúncio do governo italiano era aguardado pelos rebeldes e foi realizado pelo ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, após uma reunião com o enviado do Conselho líbio, Ali Al Isawi, em Roma.
"Reconhecer o Conselho Nacional significa confirmar ao povo líbio que a Itália está do lado deles há muito tempo. E isto não mudará nunca", disse o chanceler.
Segundo ele, o reconhecimento oficial vai acontecer de maneira formal com a inauguração de um escritório de representação italiana em Benghazi.
Frattini também não excluiu a possibilidade de entregar armas aos rebeldes, para que estes "possam se defender" dos ataques do ditador Muammar Gaddafi.
Por sua vez, o líder da oposição na Líbia, Mustafá Abdul Jalil, agradeceu à Itália pelo seu apoio aos rebeldes.
A Itália, que possuía vários acordos com a Líbia, é um dos membros da coalizão internacional criada após a aprovação de resoluções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os textos previam a criação de uma zona de exclusão aérea e medidas para proteger os cidadãos do país.

BREGA
 
Rebeldes conseguiram nesta segunda-feira retomar o controle da região de Nova Brega --que faz parte da cidade petrolífera estratégica de Brega-- após semanas de confrontos com forças do ditador líbio, Muammar Gaddafi.
Segundo testemunhas, houve troca de tiros entre forças de Gaddafi e opositores. Mulheres e crianças deixaram Brega após a intensificação dos confrontos.
"Nova Brega está sob controle das nossas forças, e estamos em volta da universidade", disse Omar Hamza, ex-membro da Força Aérea da Líbia, que agora luta ao lado dos rebeldes.
"Estamos avançando. Até o final do dia, teremos o controle total de Brega", disse Salam Idrisi, 42, um dos rebeldes. "Estamos mais organizados agora, e isso está ajudando bastante".
Brega se estende por vários quilômetros e se divide em três áreas distintas: Nova Brega, área residencial na região leste, Oeste Brega, que inclui uma refinaria e as casas de trabalhadores da petrolíferas, e uma universidade entre as duas. O controle de Oeste Brega ainda é contestado.
Forças rebeldes derrotaram tropas leais a Gaddafi em grande parte do leste da Líbia, mas não conseguem avançar para oeste, em direção à capital Trípoli.
O regime do ditador declarou cessar-fogo em várias ocasiões, mas não os cumpriu. O conselho formado pelos rebeldes se recusa a negociar com Gaddafi antes que ele deixe o poder.
Os esforços de Gaddafi para reprimir a revolta popular --que teve início em 15 de fevereiro-- levaram a comunidade internacional a aprovar uma resolução da ONU e bombardeios aéreos, que a princípio foram liderados pelos EUA, mas agora estão sob responsabilidade da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

NEGOCIAÇÕES
 
A saída de Gaddafi estaria nas negociações realizadas por ao menos dois dos filhos do ditador líbio, informou na noite de domingo o jornal "The New York Times".
Citando um diplomata e um alto funcionário líbio, ambos a par do plano, o jornal disse que os filhos oferecem uma transição para uma democracia constitucional que incluiria a saída do pai do poder.
O CNT, contudo, rejeitou nesta segunda-feira a ideia de uma transição liderada pelos filhos de Gaddafi. "Isto é totalmente rejeitado pelo Conselho", declarou o porta-voz do CNT, Shamsedin Abdulmellah, em Benghazi, reduto rebelde no leste da Líbia.
"Gaddafi e seus filhos devem ir embora antes do início de qualquer negociação diplomática", completou.

Por Folha