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Líbia busca diálogo para encerrar conflito

As pressões militares e econômicas sobre o regime do ditador da Líbia, Muammar Khadafi, estão, aparentemente, dando resultado. A movimentação, nesta semana, de diversas pessoas ligadas à alta cúpula do regime líbio mostra que o ditador e sua família estão tentando encontrar uma saída para o conflito armado por meio do diálogo. Resta saber quanto a liderança líbia vai aceitar ceder e se isso será suficiente para aplacar os ânimos das forças ocidentais.
Nesta sexta-feira, em entrevista ao Channel 4, canal de TV britânico, o ex-primeiro-ministro da Líbia, Abdul Ati Al-Obeidi, afirmou que membros do governo estão tentando entrar em contato a França, o Reino Unido e os Estados Unidos para acabar com o bombardeio. “Estamos tentando falar com britânicos, franceses e americanos para acabar com a matança de pessoas”, disse.
Outra autoridade líbia que tenta acabar com a violência no país é Ali Abdussalam el-Treki. Ele chegou ao Cairo na quinta-feira, em uma viagem feita sem a autorização de Khadafi. Após relatos de que era mais um desertor líbio, ele negou a versão nesta sexta-feira. “Há pessoas que não querem deixar um lado para ir ao outro e vice-versa – eles simplesmente não querem fazer parte desta situação”, disse Treki segundo o The New York Times. “Muitos líbios pensam como eu, pensam que nosso país deve ser salvo, que devemos parar com essa matança e a luta”, afirmou.
Na noite de quinta-feira, o jornal britânico The Guardian revelou que um emissário de alto escalão de Khadafi esteve em Londres na quarta-feira para discutir o que seria uma saída para Khadafi. O enviado era Mohammed Ismail, um homem próximo a Saif al-Islam, o filho mais velho de Khadafi, conhecido intermediário do governo líbio em negociações de compras de armas e como interlocutor em assuntos militares e políticos.
De acordo com o Guardian, há evidências de que três dos filhos de Khadafi – Saif al-Islam, Saadi e Mutassim – estão buscando diálogo para evitar a deterioração da situação. Segundo o jornal britânico, o governo do Reino Unido reforçou a mensagem de que Khadafi deve deixar o poder para qualquer negociação avançar, o que pode fazer com que os filhos de Khadafi afastem o pai para impedir que o país, e seus bens, sejam mais afetados.
A tentativa de diálogo se dá ao mesmo tempo em que os rebeldes líbios se mostram dispostos a observar um cessar-fogo. Nesta sexta, os rebeldes fizeram uma proposta, que inclui condições como o levantamento do cerco a algumas cidades imposto pelas tropas de Khadafi. "As tropas de Khadafi devem abandonar suas posições ao redor das cidades (sitiadas)", afirmou o presidente do Conselho Nacional Transitório (CNT), Mustafa Abdel Jalil.
O dirigente rebelde concedeu uma entrevista coletiva junto ao enviado do secretário-geral da ONU, o diplomata jordaniano Abdelilah al-Khatib, que se apresentou nesta sexta-feira em Benghazi após ter visitado Trípoli no dia anterior. Abdel Jalil também disse que para que se cumpra esse cessar-fogo o regime de Khadafi "deve permitir liberdade ao povo para que expresse seus pontos de vista".
"Não pode haver um cessar-fogo enquanto houver mercenários e soldados nos telhados", acrescentou o dirigente rebelde. A possibilidade de um cessar-fogo foi discutida nesta sexta-feira entre os líderes rebeldes e o enviado especial da ONU, que previamente fez consultas parecidas com as autoridades do governo de Trípoli. Caso as condições não sejam atendidas, "as pessoas do centro e do ocidente do país devem saber que a revolução irá em direção a elas", afirmou Abdel Jalil na entrevista coletiva.
Já o enviado da ONU disse que, uma vez conhecidos os pontos de vista das duas partes, encaminhará suas conclusões para serem estudadas na sede das Nações Unidas em Nova York. Al-Khatib afirmou que a possibilidade de conseguir um cessar-fogo era um dos três pontos das conversas que manteve tanto com representantes do regime, quanto com os dirigentes rebeldes. Os outros dois eram a proteção dos civis e a necessidade de que as agências humanitárias possam entrar em todas as áreas do país a fim de cumprir sua missão.

Por Época