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Severino Cavalcanti não consegue ser recebido no Planalto

Há cinco anos, o tratamento seria diferente. Sentindo falta das 'amizades de Brasília', o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP) teve frustrada uma tentativa de audiência com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) no fim da tarde desta terça-feira (12), no Palácio do Planalto.
O ex-deputado federal, representante do chamado baixo clero da Casa, renunciou ao mandato em setembro de 2005 no exercício da Presidência da Câmara após acusações de nepotismo e suspeitas de envolvimento em um esquema de cobrança de propina na Casa.
Hoje, após a convenção do PP que reelegeu o senador Francisco Dornelles (RJ) para a presidência do partido, chegou de surpresa ao Planalto por volta das 17h30. Passou cinco minutos na portaria tentando falar com o ministro pelo telefone, e foi embora a pé para o Congresso, acompanhado por dois assessores.
Da portaria, conseguiu apenas falar pelo ramal interno do palácio com uma secretária do gabinete de Carvalho. Foi informado de que o ministro teria ainda duas audiências pela frente, e que, por isso, não poderia recebê-lo. Deixou seu telefone com o assessor e deu meia volta, com a promessa de que o contato seria retornado.
Segundo a Secretaria-Geral, não havia ninguém para recebê-lo. O chefe de gabinete e o secretário-executivo da pasta não estavam no Palácio. Amanhã, um assessor deverá retornar o contato de Severino e, pelo fato de agora ser prefeito, encaminhá-lo para a Secretaria de Relações Institucionais. Desde 2009, ele é prefeito do município de João Alfredo, no agreste pernambucano, onde representa os interesses dos seus pouco mais de 30 mil habitantes.

CARGOS
 
Ao sair do palácio, deu uma rápida entrevista. Disse, em tom elogioso, que Dilma está sendo "ponderada" na distribuição de cargos. Mas não escondeu seu desejo de ter mais influência pelo menos na composição do Ministério das Cidades, comandado pelo seu companheiro de partido Mário Negromonte (PP-BA).
"Tem de ir devagar. Claro que eu gostaria de levar tudo, mas eu não posso levar tudo", afirmou Severino.
Antes do ostracismo político, quando era presidente da Câmara, cobrou do governo o direito de indicar um aliado para 'aquela diretoria que fura poço e acha petróleo', na Petrobras.
Nesta quinta-feira, sua demanda era mais simples. Queria conversar com Gilberto Carvalho sobre a ampliação de um pólo moveleiro em João Alfredo. Antes, foi ao Ministério das Cidades. Também não foi recebido pelo ministro. Nem pelo secretário-executivo.
Severino não soube dizer o nome e o cargo de quem o recebeu e para quem apelou pela liberação dos recursos de uma emenda parlamentar de R$ 2,9 milhões para obras em João Alfredo, segundo ele apresentada pelo deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), atual corregedor da Câmara. "Foi um mais baixo [que me recebeu], eu não sei o nome dele. É da área técnica", disse o ex-presidente da Câmara.
Severino negou que as portas estejam menos abertas para ele agora do que no seu auge e efêmero auge político, em 2005. Segundo ele, o que faz falta são as "amizades" e garante "dormir tranquilo".
"Eu tenho saudade da amizade de Brasília", diz. "Eu acho que a gente tem que fazer aquilo que é bom. Se você fizer uma coisa que é bom, você vai dormir e acorda tranquilo. Eu não tenho problema de sono."

Por Folha