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Sylvia Kristel fala sobre versão 3D de 'Emmanuele'

RIO - Gulosos na juventude, quando devoravam garanhões americanos, ninfetas asiáticas e balzaquianas europeias, os olhos de Sylvia Kristel, hoje marcados pelas rugas de 58 anos regados a excessos, vão rever Emmanuelle, personagem que celebrizou a atriz holandesa na década de 1970, sob uma nova ótica: o 3D. Depois que o diretor italiano Giovanni Tinto Brass anunciou que seu novo longa, "Chi ha ucciso Caligola?", seria o primeiro pornô tridimensional do mundo, todas as grandes produtoras ligadas ao gênero saíram à cata de histórias suficientemente excitantes para mergulhar na tecnologia responsável pelas maiores receitas cinematográficas da atualidade. Foi daí que o produtor Alain Siritzky tirou a ideia de refazer o clássico erótico baseado no romance "Emmanuelle: The joys of a woman", de Marayat Bibidh Andriane, dirigido pelo francês Just Jaeckin, em locações na Tailândia e nas Ilhas Seychelles ao custo de US$ 500 mil. Na época, seu faturamento global chegou a US$ 100 milhões. E Sylvia virou musa. Só em Paris, o longa-metragem de Jaeckin ficou 13 anos em cartaz, tendo lotado o cine La Triomphe, no Champs-Elysées, por uma década. Agora, para o papel central da refilmagem, que ainda não tem diretor confirmado, cogita-se Eva Green, de "Os sonhadores" (2003).
- Às vezes eu me pergunto quando é que eles vão parar com "Emmanuelle". Pelo visto, nunca, pois o interesse das pessoas continua. Até hoje, no Japão (país onde o longa teve um de seus maiores faturamentos, estimado em US$ 16 milhões), eu sou chamada para programas de TV ou entrevistas, em que me dão um cachê bom o bastante para pagar meu aluguel, só para me ouvir falar da personagem - diz Sylvia Kristel, em entrevista por telefone ao GLOBO. - Há alguns anos, Siritzky produziu uma versão de "Emmanuelle" para a TV com computação gráfica, cheia de efeitos especiais, para explorar a questão sexual sobre ângulos mais futuristas. Só espero que me arranjem um papel, mesmo que pequeno, na versão 3D.
Após lutar contra um câncer na garganta (já curado), a atriz holandesa que chegou a cobrar US$ 300 mil por uma rápida aparição em um filme virou figura bissexta nas telas. Em 2008, o festival Anima Mundi exibiu o primeiro (e até agora único) exercício de Sylvia como realizadora: o curta-metragem experimental "Topor et moi", sobre suas experiências com as artes plásticas. Conforme os convites para atuar foram escasseando, a fêmea-fetiche do Velho Mundo nos anos 1970 e 1980 foi enveredando pela pintura, produzindo uma série de quadros que, até o fim deste ano, serão expostos num conjunto de galerias no Sul da França.
- Hoje, eu estou travando uma luta para conseguir recursos para levantar meu segundo curta de animação, que vai tratar dos dias em que vivi em Los Angeles, em contato com as principais cabeças da pop art. Mas a Holanda é um país pequeno, que pensa pequeno em termos de cinema. Os órgãos de fomento consideraram meu projeto muito parecido com "Topor et moi", embora quem lê o roteiro com atenção não perceba semelhança alguma entre eles. O cinema holandês está mais interessado em fazer filmes infantis. Se continuar assim, eu só vou ser chamada para atuar quando precisarem de alguém para o papel da bruxa velha - brinca a atriz, que publicou há cinco anos sua autobiografia, "Nue" (editora Le Cherche Midi), transformada em um documentário para a TV dirigido por Michiel van Erp em 2007. 

Por O Globo