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Paquistão permitirá que EUA interroguem viúvas de Bin Laden, diz CNN

Após um dia de intensas trocas de acusações, o governo do Paquistão deverá permitir que os EUA interroguem três viúvas de Osama bin Laden, indicaram autoridades americanas à emissora de TV CNN.
A agência de notícias Bloomberg e o jornal "The New York Times" também reportaram a notícia, citando fontes do alto escalão do governo americano.
As informações chegam horas depois de um dia em que os governos do Paquistão e dos EUA colocaram em dúvida o escopo de sua relação e de como deve ficar a cooperação entre os dois países em meio à polêmica operação que matou o chefe da Al Qaeda.
Os Estados Unidos afirmaram nesta segunda-feira que não há motivos para se desculpar pela operação secreta de um comando militar que matou o terrorista. A declaração veio horas depois do primeiro-ministro paquistanês criticar o "unilateralismo" da ação americana.
"Não nos desculpamos pela decisão que o presidente [Barack Obama] tomou", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, ressaltando que Washington levou a sério as queixas do Paquistão.
Ele afirmou que Obama estava convencido de que tinha o "direito e o dever" de ordenar o ataque, realizado por uma equipe de elite da Marinha americana. Carney lembrou que o presidente prometeu ainda na campanha que iria agir para pegar Bin Laden no Paquistão, se necessário.
Carney também afirmou que os Estados Unidos ainda estão buscando cooperação de Islamabad para ter acesso às três viúvas do líder da Al Qaeda que se encontram sob custódia do Paquistão e podem ter informações vitais sobre o grupo terrorista.
"Nós acreditamos que é muito importante manter uma relação de cooperação com o Paquistão, precisamente porque é de nosso interesse de segurança nacional fazê-lo", disse Carney em entrevista a jornalistas.
Bin Laden foi morto com um tiro de um dos cerca de 20 militares da Marinha dos Estados Unidos que invadiram, em três helicópteros, sua mansão de alta segurança em Abbottabad, cidade a cerca de 50 km da capital paquistanesa. A operação durou 40 minutos e, segundo as autoridades americanos deixou ainda um dos filhos de Bin Laden, uma mulher e dois homens mortos. Nenhum militar americano ficou ferido.
Pouco depois da revelação da operação, o Paquistão se viu sob duras críticas dentro e fora do país por não ter percebido a presença do homem mais procurado do mundo tão próximo de sua capital e, ainda pior, a menos de um km de uma academia militar.
Os EUA exaltaram a cooperação do Paquistão na ação, mas fontes ligadas ao governo americano dizem que o Paquistão não foi alertado com antecedência por medo de que pusesse a ação a perder.

PREMIÊ CRITICA OS EUA
 
O primeiro-ministro Yousuf Raza Gilani reclamou mais cedo, em um discurso no Parlamento, sobre a invasão americana em Abbottabad, depois que o governo paquistanês não foi informado com antecedência sobre o plano. O ministro paquistanês do Interior, Rehman Malik, afirmou que soube da operação apenas 15 minutos após seu início e que nem ao menos sabia do que se tratava.
Em seu discurso ao Parlamento, Gilani criticou "os riscos inerentes ao unilateralismo" dos EUA, mas colocou panos quentes ao reconhecer a "grande importância" das relações com os EUA".
De maneira geral, seu discurso reconheceu as falhas na inteligência paquistanesa, mas afirmou que não foi apenas o Paquistão que errou na caçada ao Bin Laden.

INVESTIGAÇÃO
 
Gilani anunciou ainda que investigará a presença de Bin Laden no Paquistão.
"Estamos decididos a chegar ao fundo de como, quando e porquê da presença de Osama bin Laden em Abbottabad (cidade onde estava escondido e foi morto por tropas americanas). Ordenamos uma investigação', afirmou Gillani em discurso em inglês no Parlamento paquistanês.
O primeiro-ministro esclareceu que a investigação será encabeçada pelo tenente-general Javed Iqbal e, apesar do anúncio, insistiu que "as acusações de cumplicidade ou incompetência" a seu país em relação com o caso são "absurdas".
"Estamos todos unidos e totalmente comprometidos a não poupar sacrifícios para defender nossa dignidade e honra nacional", afirmou.
O primeiro-ministro lembrou ainda que o Paquistão não é "o local de nascimento da Al Qaeda", e justificou seu argumento ao se referir aos "voluntários árabes" que na década de 90 se uniram e desenvolveram a organização terrorista.
O chefe do governo paquistanês fez contínuas alusões à guerra antissoviética do Afeganistão nos anos 80, na qual os EUA concederam fundos e provisões aos mujahedins através do Paquistão.
"Nós não convidamos Osama bin Laden a vir ao Paquistão, nem sequer ao Afeganistão", ressaltou Gillani.
Apesar disso, o premiê paquistanês reconheceu que o chefe da Al Qaeda era "o inimigo número um do mundo civilizado" e o responsável pela morte de muitos de seus cidadãos.
"Fez-se justiça, sem dúvida - comentou, parafraseando o Barack Obama -. No entanto, não somos tão ingênuos para cantar vitória".

Por Folha