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Acuado, Assad pede 'diálogo nacional'

O ditador da Síria, Bashar al-Assad, fez um discurso de uma hora nesta segunda-feira (20), em mais uma tentativa de conter os protestos contra seu regime, que já duram mais de três meses. Seguindo a mesma estratégia desesperada de Zine el-Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak, ditadores da Tunísia e do Egito, derrubados em janeiro e fevereiro, respectivamente, Assad enviou mensagens confusas à população, prometendo, ao mesmo tempo, reformas políticas e punição contra quem chamou de "vândalos e foras da lei".
O discurso foi o terceiro de Assad desde o início dos protestos. Falando na Universidade de Damasco, o ditador sírio insistiu em tentar passar a imagem de que é um líder reformador. Assad relembrou medidas que tomou desde o início das manifestações, como o fim do Estado de Emergência, em vigor desde 1963, e o lançamento de projetos de lei eleitoral e de criação de partidos políticos. "O processo de reformas é para nós uma convicção", disse Assad. Assad acrescentou que estas transformações vão criar "uma realidade política nova na Síria na qual os cidadãos vão participar" e anunciou que será formado um novo Parlamento em agosto que se encarregará de redigir uma nova Constituição ou fazer emendas à atual. "O diálogo nacional é o título da próxima etapa, um processo muito importante porque o futuro da Síria depende dele", disse Assad.
O ditador sírio, entretanto, deixou claro que reformas não serão feitas em um período de "sabotagem e caos". Assad afirmou que a Síria é alvo de "conspirações estrangeiras" por "razões geopolíticas e outras razões" e que há três categorias de manifestantes. Aqueles que têm demandas legítimas, os "vândalos e foras da lei" e os "intelectuais radicais e blasfemos". Assad afirmou pediu que os refugiados sírios que deixaram o país nas últimas semanas – a maioria em direção à Turquia – voltassem ao país. Ele afirmou que gostaria que a Síria voltasse "ao normal" e "e o Exército ao quartel", mas que a situação criada pelos "vândalos" é tão grave que a polícia não consegue controlar.
O discurso de Assad foi mal recebido pelos manifestantes sírios. Em entrevista ao jornal The Guardian, um membro de um comitê local de coordenação sírio, que tem ajudado a organizar a divulgar os protestos, afirmou que "Assad está vivendo em negação". "As pessoas querem mudar este regime, elas precisam de liberdade, de democracia e não absolutamente nenhuma opção intermediária entre democracia e ditadura, e as pessoas vão até o fim por isso". Segundo a Al Jazeera, o sentimento nos campos de refugiados de sírios na Turquia era de revolta após os discursos. Nos três grandes campos localizados na fronteira, protestos contra Assad foram realizados nesta segunda-feira.

Pressão internacional segue crescendo
 
Antes do discurso de Assad, o ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, afirmou que o presidente sírio deve aplicar as reformas necessárias em seu país para democratizá-lo ou caso contrário "abandonar o poder". Hague fez estas declarações durante sua chegada à reunião dos ministros de Exteriores da União Europeia (UE) e indicou que o papel da Turquia é "muito importante" e que espera que utilize sua influência para transferir ao regime de Assad a mensagem que "está perdendo legitimidade".
"Espero que nossos colegas turcos exerçam toda a pressão possível sobre o regime de Assad e que o façam com uma mensagem muito clara: que estão perdendo legitimidade e que Assad deve reformar ou renunciar", assinalou Hague. Reino Unido e França, com o apoio dos Estados Unidos, estão coletando apoios no Conselho de Segurança da ONU para aprovar uma resolução que condene o regime sírio, mas contam com a rejeição da Rússia e China, membros com direito a veto, e também de outros membros temporários como o Brasil, África do Sul e Índia. O Reino Unido quer que Assad responda as "legítimas reivindicações" dos sírios, liberte os presos de consciência, permita o acesso a internet e a liberdade de imprensa e coopere com o Alto Comissariadoa da ONU para os Direitos Humanos.
O ministro de Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, disse que a situação na Síria "vai de mal a pior", por isso que é "imperativo" que o Conselho de Segurança da ONU expresse a "indignação" do mundo perante a contínua violência nesse país. "O silêncio até agora do Conselho de Segurança pode ser visto como uma tolerância indireta do que está ocorrendo na Síria e isso é inaceitável", disse.

Por Época