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Já sem apoio do PT, Palocci promete explicação pública

BRASÍLIA - O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, decidiu falar ao país sobre a multiplicação do seu patrimônio. Segundo o Blog do Noblat , amanhã, sexta-feira, ele deve se pronunciar.
O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, confirmou ainda, nesta quinta-feira, que, seguindo orientação da presidente Dilma Rousseff, Palocci dará explicações públicas. Carvalho também afirmou que o ministro da Casa Civil não deve esperar a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para falar sobre sua situação. A afirmação foi dada rapidamente, depois de cerimônia , no Palácio do Planalto. Em outro momento, ele já havia afirmado que Palocci falaria em breve.
- Ele vai fazer explicações públicas. Muito em breve ele vai fazer explicações públicas. Está tudo acertado. Ele vai falar muito em brevemente. Eu não posso dizer que é hoje, porque não deve ser hoje. Ele está escolhendo a forma - disse Gilberto.
Gilberto Carvalho afirmou ainda que a cerimônia foi uma demonstração de que o "governo não está parado" apesar das denúncias contra o seu principal ministro. Ele disse que a presidente Dilma ficou "preocupada" com a convocação de Palocci na Câmara.
- O governo não está parado. O importante é isso aqui (a cerimônia). É isso é que conta. Ela (Dilma) ficou preocupada, os líderes se acionaram porque houve uma ação indevida do presidente da Comissão de Agricultura - disse Carvalho.
Segundo Carvalho, a presidente pediu ao ministro que se explique:
- Ela não pediu para esperar passar essa crise. Ela falou com ele que era importante que ele falasse. Isso foi o que ela falou. Todos nós temos falado. Ele está aguardando o momento adequado.
Perguntado se a situação de Palocci é delicada, Gilberto concordou:
- É, mas continua firme. Ele está tendo um aspecto firme, firme. A presença dele aqui retrata isso.

Palocci sai discretamente de evento

Separado da presidente Dilma Rousseff pela providencial presença do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que se sentou ao lado da mandatária, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, foi figura apagada no evento mais movimentado e festejado pelo Palácio do Planalto - o lançamento do Plano Brasil Sem Miséria, que quer tirar mais de 16 milhões da condição de extrema pobreza. Dilma só citou o nome de seu principal auxiliar de forma burocrática, numa lista que incluiu outros muitos ministros que foram prestigiar a cerimônia.
Palocci desceu a rampa do terceiro andar para o salão nobre, onde acontecia o evento, atrás de Dilma e ao lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com quem trocou breves palavras. No final da cerimônia, o ministro desapareceu para não dar entrevista. Ele saiu por trás da rampa e, ao invés de subi-la, como é praxe em todos os eventos dos quais participou ao lado de Dilma, seguiu em frente para pegar um elevador do outro lado do salão, sem ser visto.

Petistas creem em queda de Palocci

Nos bastidores do encontro da Executiva Nacional, nesta quinta-feira, dirigentes petistas fizeram avaliações pessimistas sobre a permanência de Palocci no cargo. E reservadamente já falam em nomes que podem substituí-lo, entre eles a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Para a maioria dos petistas ouvidos, a queda de Palocci é uma questão de tempo e de como operá-la sem maiores traumas para o governo Dilma Rousseff.
O clima entre os petistas era de estranhamento com o volume de recursos que entraram para a empresa de Palocci, a Projeto Consultoria, num momento em que a campanha presidencial e os candidatos do partido enfrentavam dívidas vultosas - o faturamento da empresa teria sido de mais de R$ 20 milhões no ano passado. Mais estranho ainda, diziam os petistas reservadamente, é que ocorreu no momento em que Palocci era um dos arrecadadores de doações para o partido.
- O que mais assustou o partido foi a compra de um apartamento de R$ 6,6 milhões logo depois da eleição, quando os candidatos nos estados estavam se endividando para chegar ao fim da campanha - comentou um dos dirigentes.
No final da tarde, o clima ainda era de ceticismo, mesmo após as declarações do ministro Gilberto Carvalho de que Palocci irá se explicar. No comando do PT, poucos acreditam, de fato, que ele consiga se segurar no cargo com sua fala pública ou mesmo uma decisão favorável do Ministério Público.
- O Ministério Público nem deve instaurar inquérito, não vai entregar o Palocci. Isso lhe dá algum um fôlego, mas por quantos dias? - indagava outro integrante da Executiva.
- O problema do Palocci está resolvido. Ele está muito bem de vida! - ironizou outro.
A resolução que já estava pronta, e que o presidente Rui Falcão divulgaria ao final do encontro, diria que o caso Palocci não dizia respeito ao PT, mas ao governo.
- A resolução está pronta, mas eu fico com medo de parecer que nós estamos lavando as mãos. O que a imprensa vai dizer é que estamos negando apoio, e entregando o Palocci - justificou Falcão na última etapa da reunião, no meio da tarde. Mais tarde ele afirmaria: - Continuo sustentando que considero que o ministro Palocci agiu dentro da legalidade, com a lisura que lhe é peculiar desde sempre, e que sua honestidade não está em questão neste momento.
Falcão se encontrou com Carvalho na noite de quarta-feira e nesta quinta-feira pela manhã. O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, também foi procurado por Carvalho.
- Vamos esperar informações complementares. Uma nota agora sem a totalidade das informações não ajudaria em nada - disse Berzoini.
Na Câmara, o presidente Marco Maia (PT-RS) disse que o fato de o ministro Palocci se explicar nesta sexta-feira, em entrevista ou em pronunciamento, não interferirá na sua decisão sobre a convocação do ministro:
- Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que ele diz para imprensa não tem impacto no que pode dizer na Câmara e vice-versa. Mas que bom que ele fale! Quanto mais se tratar desse assunto de forma pública, melhor.

Por O Globo