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Dilma apoia ministro mas dá prazo para sanear Transportes

Disposta a dar uma resposta rápida às denúncias de cobrança de propina e superfaturamento bilionário no Ministério dos Transportes, após o afastamento da cúpula do Dnit, a presidente Dilma Rousseff deu prazo para o ministro Alfredo Nascimento fazer uma limpeza ética na pasta. No domingo, Dilma chamou Nascimento para se explicar. Na conversa dura, foi enfática ao impor, como condição para sua permanência, o compromisso de limpar supostos esquemas de corrupção - além de blindar a pasta da influência do deputado Valdemar Costa Neto (SP), secretário-geral e presidente de honra do PR e quem, de fato, manda no partido. Além de isolar Valdemar, Dilma mandou que Nascimento vá ao Congresso se explicar e abra o ministério para investigação da CGU.
Nesta segunda-feira de manhã, ao mesmo tempo em que o Palácio do Planalto soltava nota afirmando que mantinha a confiança em Nascimento e que ele estaria à frente das investigações, Dilma determinou ao ministro que acionasse a Controladoria Geral da União (CGU) para fazer uma devassa nos contratos do ministério.
Na prática, Dilma decidiu fazer uma "intervenção branca" na pasta, para tomar conta do órgão, com o afastamento de quatro indicados do PR em cargos estratégicos, entre eles dois assessores de Nascimento e o presidente do Dnit, Luiz Antonio Pagot.
Antes de embarcar para Belo Horizonte, nesta segunda-feira, onde participou da cerimônia fúnebre do ex-presidente Itamar Franco, Dilma mandou a Secretaria de Imprensa divulgar nota na qual manifesta confiança em seu auxiliar: "O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento". "O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes", concluiu o texto.

CGU fará "análise aprofundada"

No fim da tarde desta segunda-feira foi a vez de a CGU divulgar nota informando que, por determinação de Dilma e solicitação do Ministério dos Transportes, vai fazer uma análise "aprofundada e específica" de todas as licitações, contratos e execução de obras do ministério, do Dnit e da Valec. A CGU afirma que o ministério possui histórico de irregularidades que remonta ao antigo DNER, antecessor do Dnit, mas tem demonstrado esforço de melhoria.
A CGU informou que tanto na esfera do Dnit quanto na da Valec pesam pelo menos 18 processos administrativos disciplinares (PAD) e sindicâncias instauradas pela controladoria, de 2009 a 2011, envolvendo pelo menos 30 dirigentes e servidores. Outros 150 PADs foram instaurados pelo Ministério dos Transportes, 66 relativos ao Dnit.
Interlocutores de Dilma ressaltaram que, apesar da divulgação da nota, Nascimento ainda pode ser demitido, se alguma prova de seu envolvimento no suposto esquema surgir. A constatação no núcleo do governo é que a situação do ministro ainda é muito ruim. Mas sua demissão agora causaria uma crise política maior.
Após discutir o caso com outros ministros, Dilma foi convencida de que uma demissão de Nascimento agora teria consequências políticas graves na base aliada. Por isso, determinou que todos os técnicos que assumam postos estratégicos no ministério passem pelo crivo do Planalto.
Nesta segunda-feira à noite, o ministério anunciou os substitutos dos afastados. O atual diretor-executivo do Dnit, José Enrique Sadok de Sá, homem de carreira e considerado de confiança, assumirá o comando do órgão no lugar de Pagot. Na Valec, o diretor-financeiro, Felipe Sanches, acumulará a função com o comando da estatal. Na chefia de gabinete do ministro, o afastado Mauro Barbosa será substituído por Wolter Filho, atual assessor especial.

Por O Globo