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E-mails sugerem que donos de tabloide já poderiam saber de grampos; grupo nega

O grupo News International, ao qual pertence o tabloide "News of the World", encontrou há quatro anos e-mails que davam indicativos de que o jornal estaria fazendo escutas telefônicas e pagando policiais para obter informações jornalísticas.
O tabloide circulou pela última vez neste domingo, após se envolver em um escândalo de grampos telefônicos ilegais de celebridades, políticos e pessoas de interesse midiático, em um caso que está causando comoção no Reino Unido.
Esses e-mails, que poderiam evidenciar comportamento criminoso, datam de 2007, mas só foram entregues às autoridades britânicas em 20 de junho deste ano, informa o editor de Negócios da BBC, Robert Peston.
O grupo midiático, porém, negou que o executivo James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch, tivesse conhecimento de tais e-mails.
Segundo fontes ouvidas pelo jornalista, essas mensagens eletrônicas teriam sido guardadas temporariamente pelo escritório de advocacia Harbottle & Lewis e obtidos de volta por advogados agindo em nome do News International.
As mensagens eletrônicas parecem indicar que Andy Coulson, editor do "News of the World" entre 2003 e 2007 e ex-porta voz do premiê David Cameron, autorizou pagamentos para que policiais contribuíssem com furos jornalísticos do tabloide.
Coulson foi preso e solto sob fiança na sexta-feira, sob acusações de ter avalizado as escutas telefônicas ilegais. Ele nega ter conhecimento dos grampos.
Os e-mails indicam, também, que os grampos telefônicos iam além de atividades promovidas por repórteres "mal intencionados" --que é o que o "News of the World" alegou à época em que o escândalo veio à tona, dando a entender que se tratavam de ações isoladas que não eram de conhecimento da cúpula do tabloide.
Em uma carta apresentada ao comitê de cultura e imprensa da Câmara Baixa do Parlamento britânico, o escritório de advocacia Harbottle & Lewis diz que pediu ao News International investigasse se as ações ilegais de Clive Goodman --ex-editor do "News of the World" preso em 2007 por escutas telefônicas ilegais-- eram de conhecimento de seus colegas de jornal.
Na carta, datada de 29 de maio de 2007, o escritório de advocacia diz que não encontrou provas de que a cúpula do jornal sabia dos grampos.
Mas, quando executivos do News International recuperaram esses e-mails das mãos dos advogados, encontraram evidências que, à primeira vista, indicavam que os grampos ilegais iam além das atividades isoladas de Clive Goodman. Apontavam, também, a existência de pagamentos ilegais para policiais.
Robert Peston relata que são cerca de 300 e-mails, a partir de 2007, que sugerem conhecimento amplo das más práticas aparentemente cometidas pelo "News of the World".

NEGÓCIOS
 
Rupert Murdoch chegou ao Reino Unido neste final de semana, na tentativa de lidar com o escândalo de grampos.
Na noite deste domingo, ele saiu de uma reunião ao lado de Rebekah Brooks, executiva-sênior do grupo News International e ex-editora do "News of The World" entre 2000 e 2003.
Apesar de pressões para a demissão de Brooks, Murdoch voltou a dizer que a apoia no cargo.
Mas o escândalo envolvendo o tabloide já está atrapalhando outros negócios do magnata midiático. Neste domingo, o líder do Partido Trabalhista (oposição), Ed Milliband, disse que vai pressionar o Parlamento britânico a tentar adiar a proposta de Murdoch de comprar 100% das ações da BSKyB, a subsidiária britânica da operadora de TV por assinatura Sky, da qual já ele é acionista minoritário.
Milliband disse que quer que a compra seja adiada até que as investigações sobre o "News of the World" sejam concluídas.

ÚLTIMA EDIÇÃO
 
Também neste domingo, o "News of the World", existente há 168 anos, circulou sua última edição, com os dizeres "Obrigado e adeus" na capa. Dentro, um editorial dizia que o jornal havia "perdido seu caminho".
A tiragem do jornal, o mais vendido do Reino Unido aos domingos, foi quase dobrada, para 5 milhões de exemplares, e é esperado que sua venda bata recordes.
Uma federação de vendedores de jornais britânicos estimou que, ao meio-dia (horário local), as vendas do jornal eram 30% maiores em comparação com o domingo anterior.

Por BBC Brasil