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Um Estado irresponsável e cúmplice da violência

Quantas pessoas até hoje morreram pelas mãos de bandidos que desafiam o poder do Estado e quantas serão necessárias morrerem para que o histórico de impunidade nesse país se torne apenas um passado triste na vida dos brasileiros. Não é de hoje que o descaso nas três esferas do poder tem contribuído para o surgimento de um poder distinto em que o Estado brasileiro tem fechado os olhos, desde a década de 70, onde as milícias cresceram e expandiram sua área de atuação.
Esses grupos criminosos tornaram-se poderes paralelos dentro do país, onde na região em que dominam criam suas próprias, ameaçando e matando pessoas inocentes pelo fato de combaterem ou discordarem da atuação da mesma em comunidades. Em 2006, a imprensa noticiou uma série de ataques de facções do tráfico contra alvos da polícia, civis e até do governo na cidade do Rio de Janeiro, onde a imprensa e o governo afirmaram ser em virtude do avanço do combate ao tráfico de drogas no Rio. Na verdade, as ações tiveram outro motivo: represália por parte do tráfico de drogas ao avanço das milícias nos morros cariocas.
Agora eu me pergunto: durante a invasão dos morros do cruzeiro e alemão, no Rio de Janeiro, em algum momento o Estado mencionou o combate também as milícias? Não! Apenas se ouvia o combate aos traficantes que atuavam nos morros. Enquanto isso o poder paralelo das milícias cresce de forma assustadora e violenta.
A juíza Patrícia Acioli, assassinada na madrugada do dia 12 na porta de sua casa, em Niterói, demonstra a violenta atuação das milícias no Rio de Janeiro, que desafia o poder do Estado e coloca civis no meio dessa guerra declarada apenas pelo lado dos criminosos.
Patrícia, como poucos juízes nesse país, combateu até seus últimos dias esses criminosos, tornando-se refém de dois Estados. De um lado um poder paralelo que atua silenciando a Justiça com crimes bárbaros e desafiando ao estado de direito; de outro lado um Estado inoperante, incapaz e irresponsável, que não garante a vida à sociedade, refém da insegurança. Assim como a juíza, que fazia parte de uma lista de pessoas marcadas para morrer, nós cidadãos, sentimo-nos presos e arriscados a perder a vida a qualquer momento, dentro de um ciclo de violência que o Estado não consegue ou não quer combater.
O certo é que nas milícias existem muitas pessoas influentes e ligadas a interesses políticos e econômicos que “impedem” um combate mais severo desses grupos criminosos. É a hora de o Brasil acordar, aliás já está tarde. Assim como o problema da saúde e da educação, a insegurança em que nos vivemos passa pela necessidade de uma “desinfetação” nos poderes executivo e legislativo, que ao se recusarem a garantir a segurança da sociedade, se tornam cúmplices de tais barbaridades.
É importante que o Brasil não perca a capacidade de indignação e que crimes bárbaros como esse sirvam de exemplo de uma punição severa aos responsáveis, onde só assim o país resgatará a credibilidade da sociedade e imporá respeito aos que teimarem em desrespeitar as leis.