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Trabalhadores dos Correios derrubam acordo e greve continua

Os trabalhadores dos Correios derrubaram o acordo fechado ontem entre a empresa e o comando de greve e decidiram manter a paralisação, que completou 22 dias.
Os diretores dos Correios e os representantes dos funcionários formalizaram o acordo em audiência de conciliação no TST (Tribunal Superior do Trabalho). Para valer, a proposta precisava ser aprovada por ao menos 18 dos 35 sindicatos da categoria no país.
Entretanto, como mais de 20 sindicatos do país já negaram a proposta, não há mais como o acordo ser aprovado, disse José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Fentect (federação dos trabalhadores).
Trabalhadores de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Acre, Sergipe, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba, Bahia, Amazonas, Rio de Janeiro e Distrito Federal já rejeitaram a proposta. As rejeições de hoje devem influenciar as demais reuniões, pois essas entidades são consideradas de maior expressão.
"Todas as assembleias que ocorreram até agora foram contrárias à proposta, o que indica que provavelmente não haverá acordo", afirma Saul Gomes da Cruz, um dos integrantes do comando de negociação. Segundo ele, as demais assembleias ocorrerão entre hoje e amanhã.
Com o impassse, o dissídio da categoria deverá ser julgado pelo TST. "Na segunda-feira deveremos saber da data", diz Cruz.
"Fizemos uma prévia ontem e decidimos rejeitar essa proposta, porque discordamos de todos os pontos", disse Josiel Reis, dirigente do sindicato de Santa Catarina.
 
'ESFORÇOS'

Em nota, a direção dos Correios disse que "empreendeu todos os esforços" para o fim da greve após o acordo fechado com as entidades sindicais no TST e que "mantém as portas abertas para o diálogo e segue defendendo que o retorno à normalidade ocorra da forma mais rápida possíve"l.
De acordo com a empresa, a adesão à paralisação caiu para 23 mil trabalhadores. "Isso significa que 80% do efetivo dos Correios segue trabalhando normalmente, garantindo a maioria dos serviços, com entrega de 2/3 da carga diária", disse.
Os Correios aguardarão a decisão do TST.

ACORDO
 
A proposta de consenso previa a reposição da inflação de 6,87%, retroativo a agosto, e um reajuste linear de R$ 80 a partir de outubro.
Os 22 dias de greve seriam compensados. Em 15 deles, os trabalhadores atuariam aos sábados e domingos para colocar em dia o passivo de carga atrasada.
Os outros seis, que já foram descontados na folha de pagamento de setembro, seriam devolvidos imediatamente aos grevistas, mas haveria um desconto a partir de janeiro, parcelado em até 12 meses.
No início do movimento, a categoria reivindicava aumento salarial linear de R$ 400 a partir de janeiro, reposição da inflação calculada em 7,16% e mais 24,76% referentes a perdas acumuladas desde 1994.
 
BALANÇO
 
Nesses 22 dias de paralisação, houve atraso na entrega de 147 milhões de cartas e encomendas. O governo federal cortou o ponto dos grevistas e exigiu compensação dos dias não trabalhados.
A greve suspendeu os serviços de entrega com hora marcada dos Correios e também atrasos de três a quatro dias nos demais. A empresa pretendia ontem normalizar os serviços na próxima semana.
A empresa contabilizou um prejuízo diário de R$ 20 milhões. A cifra pode aumentar, uma vez que são comuns ações judiciais de clientes por conta dos atrasos.

Por Folha