Grupo de estudantes da USP entra em greve após reintegração e prisões
Reunido em assembleia na noite desta terça-feira, um grupo de estudantes da USP (Universidade de São Paulo) decidiu iniciar uma greve geral, em resposta à prisão de 72 manifestantes que ocupavam a reitoria da instituição desde o último dia 2.
Durante a assembleia, que contou com a presença de cerca de 2 mil pessoas, também ficou decidida a realização de um protesto na próxima quinta-feira em frente à Faculdade de Direito, no largo São Francisco, no centro.
Os manifestantes reinvindicam a saída do reitor João Grandino Rodas, a saída da Polícia Militar do campus, a implementação de um programa paralelo de segurança, a libertação dos presos e a não punição dos que participaram da invasão do prédio da reitoria da universidade.
"A greve é expressão do sentimento dos estudantes depois da entrada da Tropa de Choque na USP", afirma João Victor Pavesi, 25, aluno de geografia e diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes).
Nesta terça-feira, 72 pessoas foram presas durante a reintegração de posse da reitoria. Segundo o delegado Dejair Rodrigues da Seccional de São Paulo, outros três alunos foram levados e liberados em seguida porque não estavam envolvidas na invasão do prédio da universidade, ocorrida na madrugada do dia 2 de novembro.
Inicialmente a PM informou que 70 alunos estavam detidos. Por volta das 20h, a polícia reviu o número e informou que entre os 72 há quatro funcionários da USP e um aluno da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
FIANÇA
Os alunos pagaram a fiança de R$ 545 cada um, e devem ser liberados ainda hoje, de acordo com o advogado Felipe Gomes Vasconcelos, que defende os estudantes.
De acordo com Vasconcelos, o valor total, de R$ 39.240 foi arrecadado com sindicatos, entidades e movimentos sociais. Após o preenchimento dos alvarás de soltura, todos os estudantes devem fazer exame de corpo de delito no IML.
Eles serão indiciados sob suspeita de desobediência a ordem judicial (não cumpriram o prazo de desocupar a reitoria até as 23h de ontem) e dano ao patrimônio público (o prédio foi danificado).
A pena prevista para o primeiro crime varia de 15 dias a 6 meses de detenção. Para o segundo, de 6 meses a 3 anos. Elas podem ser substituídas por serviços comunitários.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
A reintegração ocorrreu por volta das 5h desta terça-feira. Segundo a PM, os estudantes estavam dormindo quando a operação começou. Cerca de 400 policiais da Tropa de Choque e da Cavalaria da PM foram acionados, além de um helicóptero Águia e de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e do GOE (Grupo de Operações Especiais).
Os militares, portando cassetetes e escudos, fizeram um cordão de isolamento ao redor do prédio e retiraram os estudantes, que não resistiram à prisão. O prédio foi entregue pela polícia a um oficial de Justiça, já que a operação foi motivada por um mandado judicial.
VIOLÊNCIA
Os estudantes detidos reclamam do tratamento que receberam da polícia. "A atuação foi brutal, uma presença muito forte e desproporcional. Para que agredir os estudantes, usando algemas? Os policiais quebraram várias portas da reitoria onde a gente nem tinha entrado. Temos consciência de que essa perseguição é política", disse Paulo Fávaro, 26, aluno de artes visuais.
Sob a condição de anonimato, os pais dos estudantes também reclamaram da atuação da PM. Numa folha de papel, eles escreveram uma carta à mão em que criticam a operação.
"Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos", diz o texto.
O major da PM Marcel Soffner afirmou que a reintegração de posse foi tranquila e sem confronto. Sobre os possíveis abusos, o major informou que toda operação da PM foi gravada e as suspeitas de agressões serão apuradas. "Tudo foi documentado e, se houver qualquer suspeita, vamos apurar", disse.
HISTÓRICO
Os acontecimentos que levaram à ocupação da reitoria tiveram início no dia 27 de outubro, quando três alunos da USP foram detidos por posse de maconha. Houve reação de colegas, que investiram contra a PM. Policiais usaram bombas de efeito moral e cassetetes para levar os rapazes à delegacia --depois eles foram liberados.
Na mesma noite, um grupo de cem estudantes invadiu um prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). Na terça passada, mais de mil alunos realizaram uma assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, pela desocupação do edifício.
A minoria derrotada, porém, decidiu invadir a reitoria. A USP toda tem cerca de 82 mil alunos (50 mil só na Cidade Universitária).
Durante a assembleia, que contou com a presença de cerca de 2 mil pessoas, também ficou decidida a realização de um protesto na próxima quinta-feira em frente à Faculdade de Direito, no largo São Francisco, no centro.
Os manifestantes reinvindicam a saída do reitor João Grandino Rodas, a saída da Polícia Militar do campus, a implementação de um programa paralelo de segurança, a libertação dos presos e a não punição dos que participaram da invasão do prédio da reitoria da universidade.
"A greve é expressão do sentimento dos estudantes depois da entrada da Tropa de Choque na USP", afirma João Victor Pavesi, 25, aluno de geografia e diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes).
Nesta terça-feira, 72 pessoas foram presas durante a reintegração de posse da reitoria. Segundo o delegado Dejair Rodrigues da Seccional de São Paulo, outros três alunos foram levados e liberados em seguida porque não estavam envolvidas na invasão do prédio da universidade, ocorrida na madrugada do dia 2 de novembro.
Inicialmente a PM informou que 70 alunos estavam detidos. Por volta das 20h, a polícia reviu o número e informou que entre os 72 há quatro funcionários da USP e um aluno da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
FIANÇA
Os alunos pagaram a fiança de R$ 545 cada um, e devem ser liberados ainda hoje, de acordo com o advogado Felipe Gomes Vasconcelos, que defende os estudantes.
De acordo com Vasconcelos, o valor total, de R$ 39.240 foi arrecadado com sindicatos, entidades e movimentos sociais. Após o preenchimento dos alvarás de soltura, todos os estudantes devem fazer exame de corpo de delito no IML.
Eles serão indiciados sob suspeita de desobediência a ordem judicial (não cumpriram o prazo de desocupar a reitoria até as 23h de ontem) e dano ao patrimônio público (o prédio foi danificado).
A pena prevista para o primeiro crime varia de 15 dias a 6 meses de detenção. Para o segundo, de 6 meses a 3 anos. Elas podem ser substituídas por serviços comunitários.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
A reintegração ocorrreu por volta das 5h desta terça-feira. Segundo a PM, os estudantes estavam dormindo quando a operação começou. Cerca de 400 policiais da Tropa de Choque e da Cavalaria da PM foram acionados, além de um helicóptero Águia e de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e do GOE (Grupo de Operações Especiais).
Os militares, portando cassetetes e escudos, fizeram um cordão de isolamento ao redor do prédio e retiraram os estudantes, que não resistiram à prisão. O prédio foi entregue pela polícia a um oficial de Justiça, já que a operação foi motivada por um mandado judicial.
VIOLÊNCIA
Os estudantes detidos reclamam do tratamento que receberam da polícia. "A atuação foi brutal, uma presença muito forte e desproporcional. Para que agredir os estudantes, usando algemas? Os policiais quebraram várias portas da reitoria onde a gente nem tinha entrado. Temos consciência de que essa perseguição é política", disse Paulo Fávaro, 26, aluno de artes visuais.
Sob a condição de anonimato, os pais dos estudantes também reclamaram da atuação da PM. Numa folha de papel, eles escreveram uma carta à mão em que criticam a operação.
"Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos", diz o texto.
O major da PM Marcel Soffner afirmou que a reintegração de posse foi tranquila e sem confronto. Sobre os possíveis abusos, o major informou que toda operação da PM foi gravada e as suspeitas de agressões serão apuradas. "Tudo foi documentado e, se houver qualquer suspeita, vamos apurar", disse.
HISTÓRICO
Os acontecimentos que levaram à ocupação da reitoria tiveram início no dia 27 de outubro, quando três alunos da USP foram detidos por posse de maconha. Houve reação de colegas, que investiram contra a PM. Policiais usaram bombas de efeito moral e cassetetes para levar os rapazes à delegacia --depois eles foram liberados.
Na mesma noite, um grupo de cem estudantes invadiu um prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). Na terça passada, mais de mil alunos realizaram uma assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, pela desocupação do edifício.
A minoria derrotada, porém, decidiu invadir a reitoria. A USP toda tem cerca de 82 mil alunos (50 mil só na Cidade Universitária).
Por Folha