|

Tea Party: nem 'bando de malucos', nem a solução

Desde o início do movimento, em 2009, o Tea Party é estigmatizado como um bando de americanos malucos, radicais e racistas - imagem reforçada por muitos de seus protestos excêntricos. Porém, esse é apenas o verniz desse grupo, que defende propostas que poderiam ajudar a tirar os Estados Unidos da beira do penhasco, não fosse a intransigência dos políticos alçados ao poder por meio dele. Para Paul Gregory, professor de economia da Universidade de Houston, no Texas, o lado negativo do movimento é o que prevalece na imprensa americana. “Os membros do Tea Party sempre aparecem como indivíduos esquisitos, com visões bem incomuns. Se os jornais dos Estados Unidos forem entrevistar alguém em uma multidão, eles escolherão sempre a pessoa que estiver vestida de Tio Sam”, destaca ele, ao site de VEJA. O Tea Party tem, sim, integrantes que só veem o presidente Barack Obama como membro tribal do Quênia, muçulmano ou marxista. Mas não se pode negar que suas principais propostas econômicas - governo limitado e menos impostos - fazem sentido em um momento de gastança para endireitar a economia do país. “O programa econômico do Tea Party é muito mais amigável do que qualquer uma das propostas de Obama, que têm sido muito ruins para os Estados Unidos e também para a economia global”, afirma Gregory.
O problema é que alguns de seus posicionamentos são tão radicais, que acabam afetando a percepção de realidade do grupo cujo nome, que significa "a festa do chá", é inspirado num protesto feito por colonos em Boston, em 1773, contra a taxação do chá pela Coroa inglesa. "Eles podem parecer estúpidos no sentido de ignorarem alguns fatos que, bem, são fatos”, observa Robert Shapiro, professor aposentado de Ciência Política da Universidade de Columbia, em referência à nacionalidade americana de Obama. E esse extremismo todo acaba se voltando contra o próprio movimento, explica Shapiro, quando, por exemplo, ele pressionou os republicanos a rejeitarem o aumento de impostos para o governo cortar os gastos e, consequentemente, elevar o teto da dívida pública americana. Com mais essa postura intransigente, o Tea Party mostrou que cumprirá as promessas que os elegeram, nem que eles tenham de levar o país à bancarrota. “De alguma forma, o público tem visto que as políticas do Tea Party não tem sido construtivas. A principal questão são os problemas econômicos que o país está passando, o que afeta o governo de forma geral”, salienta.
 
Divisão - Além disso, propostas não valem de nada se não há um candidato forte para defendê-las. E o Tea Party sofre também com a falta de coesão. Nas últimas eleições, sua principal aposta foi a candidata Sarah Palin, que ganhou força como candidata à vice-presidência em 2008. Desta vez, o movimento tem pelo menos quatro "queridinhos", e o único que conta com uma aprovação razoável é Herman Cain, agora envolvido em um escândalo sexual. "Eles estão fragmentados. O movimento que tinha a maior energia política nos últimos anos está pagando o preço por não ter se organizado e por não ter se tornado um grupo mais coeso", enfatiza o professor de política da Universidade do Texas, Bruce Buchanan.
De fato, a popularidade do Tea Party caiu drasticamente, conforme aponta pesquisa divulgada em agosto deste ano. O movimento passou a ser mal visto por 40% dos americanos e aprovado por apenas 20% - contra 29% e 26% em abril, respectivamente. “O entusiasmo e a raiva que o Tea Party provocou nos eleitores nas eleições legislativas de 2010 foram significativos, e eles somente enfatizaram como a administração Obama não estava fazendo nada para melhorar a economia”, lembra o professor de Columbia, frisando que boa parte dessa influência deve permanecer até as próximas eleições presidenciais. Mas, desta vez, os republicanos vão enfrentar uma oposição mais forte, de acordo com Shapiro. “Claramente, o Tea Party não tem mais o mesmo apoio que tinha em 2009 e 2010, mas a questão é: os democratas conseguirão energizar a sua base política o suficiente e atrair o apoio de eleitores indecisos na próxima eleição?” Como sempre, vai depender do rumo da economia do país - que afeta diretamente a confiança da população no governo.

Por Veja