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Cai o sétimo ministro de Dilma

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, entregou neste domingo à presidente Dilma Rousseff seu pedido de demissão. Ele se antecipou, desta forma, à decisão da presidente, que convocou para esta segunda-feira reunião da coordenação política para tratar especificamente do caso. Na sexta-feira, em Caracas, Dilma já dera a indicação de que bateria o martelo sobre o futuro de Lupi nesta segunda. Afirmou ainda que tomava decisões objetivas e que não era nada romântica, em alusão ao fato de Lupi ter dito declarado "Dilma, eu te amo" em audiência no Congresso Nacional. Lupi é o sexto ministro a cair envolvido em escândalos de corrupção no mandato da presidente Dilma Rousseff.
Lupi entregou seu pedido à tarde, após rápido encontro, de cerca de meia hora, no Palácio da Alvorada. Na reunião, a presidente deixou claro que já havia decidido que demitiria o ministro, após a reunião de coordenação política convocada para debater o tema. A Lupi coube apenas a opção de se antecipar e apresentar seu desligamento.
A expectativa de setores do PDT era que Dilma tomasse a iniciativa de demitir Lupi. Para vários integrantes da sigla, a presidente deveria ter feito isso quando a Comissão de Ética Pública recomendou a exoneração do ministro, na quinta-feira passada, por inconsistência nas explicações sobre denúncias de irregularidades no Ministério do Trabalho. No entanto, Dilma avaliou que se o fizesse ficaria a reboque de um grupo auxiliar da Presidência da República. Desta forma, ter pedido esclarecimentos à Comissão sobre a recomendação foi apenas uma forma de ganhar tempo.
O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Paulo Roberto Pinto, foi confirmado como ministro interino da pasta. Ele ocupará o cargo até a reforma ministerial que a presidente Dilma fará em janeiro, provavelmente após suas férias de dez dias logo no início do ano. Não há certeza de que o Trabalho ficará com o PDT, tampouco que migrará para o PT, que cobiça retomar a pasta. Existe ainda uma possibilidade de o PMDB assumir o cargo - por exemplo, na hipótese de se fundirem os ministérios do Trabalho e da Previdência, o que está em estudo no Palácio do Planalto.

Lupi se diz perseguido

Em nota oficial, Lupi confirmou a decisão em “caráter irrevogável” e se disse perseguido pela “mídia” e pela Comissão de Ética da Presidência, que teria recomendado sua demissão “sumariamente” e sem dar “direito de defesa”.

“Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética da Presidência da República – que também me condenou sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa -- decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável.
Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo.
Foram praticamente cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, milhões de empregos gerados, reconhecimento legal das centrais sindicais, qualificação de milhões de trabalhadores e regulamentação do ponto eletrônico para proteger o bom trabalhador e o bom empregador, entre outras realizações.
Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence.
Carlos Lupi
Ministro do Trabalho e Emprego”

A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto divulgou também nota na qual informa o pedido de demissão e diz que a presidente Dilma agradece "a colaboração, o empenho e a dedicação" de Lupi enquanto esteve à frente da pasta e afirma que Lupi "continuará dando sua contribuição ao pais". Abaixo, a íntegra da nota:

"O ministro do Trabalho e do Emprego, Carlos Lupi, apresentou hoje, em caráter irrevogável, sua demissão à Presidenta Dilma Rousseff.
A Presidenta agradece a colaboração, o empenho e a dedicação do ministro Lupi ao longo de seu governo e tem certeza de que ele continuará dando sua contribuição ao pais. A partir desta segunda-feira, responde interinamente pelo Ministério do Trabalho o secretario executivo Paulo Roberto dos Santos Pinto".

Cronologia da crise

A cronologia da crise começa no dia 5 de novembro. Reportagem do GLOBO revelou que a CGU constatou indícios de desvios de dinheiro em convênios do Ministério do Trabalho com pelo menos 26 ONGs. A revista “Veja” denunciou também que o coordenador de qualificação do Ministério do Trabalho, Anderson Alexandre dos Santos, participava de suposto esquema de cobrança de propina de ONGs. No mesmo dia, Carlos Lupi afastou Santos - que é filiado ao PDT do Rio, mesmo partido do ministro.
No dia 8 de novembro, Lupi e o comando do PDT desafiaram a presidente Dilma Rousseff e avisaram que, em caso de demissão, o partido deixaria o governo. Numa entrevista após reunião da executiva do partido, o ministro diz: "Para me tirar do ministério, só se eu for abatido à bala".
No início de novembro, quando as denúncias envolvendo Lupi começaram a ganhar manchetes de jornal, o ministro veio a público desafiar a presidente, afirmando que duvidava que ela o demitisse. Depois, ao ser advertido pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, de que havia extrapolado o tom, ele tentou retratar-se e pediu desculpas, declarando que amava a presidente.
Lupi vai à Câmara apresentar explicações, mas mente sobre a carona em um jatinho. Reportagem do dia 1 de dezembro da “Folha de S.Paulo” mostrou que Lupi acumulou cargos na Câmara de Deputados e na Câmara Municipal do Rio. Ele já tinha sido acusado, anos antes, de acumular a presidência do PDT com o cargo de ministro.
Na sexta-feira, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República aprovou recomendação para que a presidente Dilma demitisse o ministro do Trabalho. Dilma pediu, logo em seguida, explicações sobre à comissão.

Por O Globo