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Polícia apura execução de testemunha por PMs

Desencontros nos registros oficiais e denúncias feitas por testemunhas levaram a Polícia Civil a abrir inquérito para investigar a possibilidade de execução do traficante Raphael Rosa Guimarães, o Chacal, 21 anos, morto na tarde da última sexta-feira, em São Gonçalo. Como mostrou o site de VEJA, Raphael morreu com um tiro no tórax, mas o registro de ocorrência em delegacia informava apenas dois tiros nas pernas. Policiais do 7º BPM (São Gonçalo), que balearam o rapaz, registraram o caso como auto de resistência – quando há reação à abordagem policial.
Investigações da Polícia Civil indicam que Raphael era o responsável pelo pagamento de propina do tráfico a policiais corruptos do 7º BPM. A história veio à tona com a operação Dezembro Negro, deflagrada na segunda-feira, que resultou na prisão de 12 policiais, entre eles o comandante da unidade, o coronel Djalma Beltrami. O oficial foi libertado na madrugada desta quarta-feira, por decisão da Justiça.
O inquérito aberto para esclarecer as circunstâncias da morte de Raphael tentará esclarecer um detalhe fundamental do que se passou na tarde do dia 16 de dezembro no Morro da Coruja. Em seu depoimento, o cabo Alexandre de Abreu Rodrigues, autor dos disparos, relatou que entrou em confronto com o jovem e o atingiu com um tiro em cada perna. Ele não faz referência a um terceiro tiro, que atingiu o tórax da vítima e foi apontado em laudo do IML como a causa da morte. O sargento Pedro Moacir Evangelista de Araújo, que acompanhava o colega, também não mencionou o ferimento no tórax do traficante.
A versão dos policiais é de que Raphael reagiu. A polícia já recebeu relatos de moradores da favela que vão de encontro à versão apresentada pelos PMS. Testemunhas afirmam que um policial marcou um encontro com Raphael num ponto da favela, onde ocorreu a execução. Enquanto aguardava a chegada dos PMs, o traficante teria deixado um fuzil encostado num muro.
Além da execução, o inquérito investiga se a arma que estava em poder de Raphael foi, mais tarde, negociada com o chefe do tráfico daquele local, o Gaguinho. Testemunhas afirmam que Raphael deixou um fuzil encostado em uma parede. O site de VEJA teve acesso aos depoimentos dos dois PMs envolvidos na morte de Raphael. O cabo Alexandre de Abreu Rodrigues não fala de fuzil, e diz apenas que Raphael usava uma pistola calibre 9mm.

Execuções – Assassinatos cometidos por policiais, disfarçados de autos de resistência, eram crimes freqüentes em São Gonçalo. A juíza Patrícia Lourival Assioli, assassinada em agosto, lutava para esclarecer esse tipo de homicídio e para tirar das ruas os policiais que distorciam informações para ocultar execuções.
Patrícia, como aponta o inquérito da Polícia Civil e a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio, foi morta quando estava prestes a decretar a prisão de um grupo de policiais do 7º BPM. Entre os acusados do crime está o ex-comandante da unidade, tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira.

Comandante - Em entrevista ao telejornal RJ TV, da Rede Globo, o coronel Djalma Beltrami falou pela primeira vez após ter sido libertado. Ele se disse inocente das acusações de receber propina do tráfico de drogas do Morro da Coruja e argumentou que seu patrimônio é compatível com sua remuneração.
"Eu disponibilizo qualquer coisa que for preciso, já coloquei isso às autoridades, que estão na apuração. Eu moro de aluguel na Baixada Fluminense, eu tenho um carro, minha esposa tem outro carro, eu não tenho nada a esconder, eu nunca fiz nada errado. Estou muito convicto disso, por isso, eu consigo colocar a minha cabeça no travesseiro e ficar tranquilo”, afirmou Beltrami.
Apesar de não ter sido exonerado do cargo de comandante do 7º BPM, Beltrami ainda não reassumiu o posto.

Por Veja