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Greves: comércio exterior perdeu dois anos em oito

Nos últimos oito anos, o setor produtivo brasileiro foi afetado pelo equivalente a quase dois anos de greve. Esta é a soma dos dias de paralisação nos diversos órgãos responsáveis pela liberação do comércio exterior do país, segundo levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ao todo, foram 659 dias de greve, sendo 92 este ano. As consequências vão além da dificuldade de embarcar ou liberar mercadorias nos portos e aeroportos. Segundo a AEB, isso traz insegurança tanto para exportadores como para seus clientes, que preferem comprar de fornecedores com os quais possam contar.
— O atraso e cancelamento de embarques provocados pelas greves oferecem aos nossos concorrentes, especialmente de produtos manufaturados, a oportunidade de ocupar mercados duramente conquistados por empresas brasileiras — disse o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Mercadorias retidas

A Receita Federal está em greve há 57 dias e a Anvisa, há 29. Os fiscais agropecuários chegaram a parar por cinco dias, mas tiveram de voltar ao trabalho por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas em alguns portos ainda há serviços represados.
Na lista dos problemas causados pelas greves ao setor produtivo estão desde multa contratual por descumprimento de prazos a cancelamento de contratos, passando por perda de receita cambial para o Brasil e menor geração de empregos. Isso só para as exportações. A AEB diz ainda que as paralisações seguram as importações nos portos, afetando a indústria nacional, com desabastecimento de matérias-primas e até paralisação de linhas de produção.

Setores pedem isenções

O presidente da Abipecs (exportadores de carne suína), Pedro Camargo Neto, reforçou a preocupação com as exportações de alimentos. Segundo ele, no Porto de Itajaí, de onde sai a carne brasileira que segue para Rússia e Ucrânia, as operações estão muito lentas:
— (Os fiscais) fazem o que não precisa ser feito; não fazem o que precisa ser feito; e tornam tudo mais demorado.
Os setores de carnes, soja e frango manifestaram essa preocupação para a equipe econômica, em reunião ontem. Eles pediram desoneração sobre os insumos da produção e o ressarcimento mais rápido de créditos de PIS e Cofins a receber. O governo prometeu analisar as demandas.
Procurado, o Sindicato dos Fiscais Federais Agropecuários disse que a lentidão na liberação das exportações se deve ao acúmulo de operações do período da paralisação. E informou que irá à Justiça pelo direito de entrar em greve.
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sergio Mendonça, afirmou que ainda não há proposta para o setor.
— Não há (proposta). Não há nem para os fiscais agropecuários, nem para outras categorias — disse Mendonça.
Em protesto na Esplanada ontem, os fiscais agropecuários distribuíram leite. Mas, por não terem recebido proposta de reajuste, cerca de 200 servidores do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário cercaram o prédio da pasta. Com faixas e vuvuzelas, eles ocuparam o local por duas horas e meia. Hoje haverá outra marcha na Esplanada.
Apesar de a Advocacia Geral da União recomendar corte no ponto dos professores das universidades em greve, o Ministério da Educação não vai pressionar os reitores para isso. Apenas pedirá pressa no cronograma de reposição de aulas nas universidades.

Por O Globo