Acusação quer pena de 60 anos para Lindemberg
Acusado pela morte de Eloá Pimentel, Lindemberg Alves justificou sua calma durante interrogatório, nesta quarta-feira, no julgamento do caso, no Fórum de Santo André, no ABC Paulista. Ele respondeu a mais de trezentas perguntas da juíza Milena Dias, da Promotoria e dos assistentes de acusação e de sua defesa durante mais de cinco horas. Foi perguntado pelo assistente de acusação José Beraldo, por exemplo, por que não chorou ao falar sobre Eloá. "Eu não estou aqui para dar um show nem para emocionar ninguém", disse.
Mais cedo, ele pedira perdão à mãe de Eloá. No fim do julgamento, fez o mesmo em relação ao pai dela. Para a acusação, a linha de argumentação de Lindemberg, que confessou pela primeira vez desde o crime ter atirado em Eloá, não surtirá efeito. "A confissão do Lindemberg não vai reduzir a pena", afirmou Beraldo, que classificou o que ele apresentou ao júri como um "engodo". A acusação deve pedir uma pena de sessenta anos.
Lindemberg aproveitou a fase final do interrogatório, ao falar com sua advogada Ana Lúcia Assad, para tentar diminuir sua pena: sustentou que não se tratava de cárcere privado porque todos podiam entrar e sair livremente (embora ele tenha confirmado que trancou a porta do apartamento) e que não tinha intenção de matar Nayara nem Eloá. E aproveitou para pedir desculpas a ela. "Não tenho nada contra a Nayara, só tenho a agradecer a ela. Devo desculpas a ela, mesmo sem saber se o tiro partiu da minha arma e mesmo que ela tenha optado por ficar dentro do apartamento porque queria acompanhar Eloá ", afirmou.
Blefe - A fala de Lindemberg era a mais esperada do julgamento e encerrou o terceiro dia de trabalhos no Fórum de Santo André. A previsão é que o julgamento termine nesta quinta-feira - um dia a mais que o previsto. O réu também disse à promotora Daniela Hashimoto que muitas das ameaças que fez durante o sequestro da jovem de 15 anos e de seus amigos, em outubro de 2008, não passaram de blefe. O interesse dele era manter a polícia longe."Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia fora do local", contou. A José Beraldo, declarou, inclusive, ter blefado quando disse que se mataria.
O sequestro, como se sabe, durou mais de cem horas e terminou de forma trágica, com a morte de Eloá e Nayara Rodrigues da Silva, a refém que voltou ao cativeiro, baleada. Ele adotou várias estratégias para alcançar seu intuito, como a decisão de negociar a liberação de Iago Vilela de Oliveira e Victor Rodrigues da Silva. "Quando os meninos quiseram descer, usei isso para reivindicar algumas coisas da polícia".
O réu disse que, ao entrar no local, em 13 de outubro de 2008, esperava encontrar Eloá sozinha e estranhou o fato de ela estar com amigos, pois, segundo ele, informava cada passo que dava - Lindemberg revelou nesta quarta que os dois haviam reatado menos de uma semana antes do crime. Já no interior do imóvel, acabou ouvindo de Victor, um dos jovens presentes, que ele teria beijado a jovem - o que foi prontamente negado por Nayara, que começou a berrar. Foi então que Lindemberg mostrou a arma ao grupo pela primeira vez, criando um clima de tensão.
Acalmados os ânimos, disse ter pedido aos dois rapazes que saíssem, o que foi recusado. "Eles ficaram assustados com a situação, souberam o que Victor e Eloá tinham feito e ficaram com medo de que eu e Eloá ficássemos sozinhos e que eu tomasse alguma atitude extrema", afirmou. "Mas o que é uma atitude extrema?", indagou a promotora. "Seria chegar no apto e, ao saber do beijo dela em Victor, atirar nela", respondeu.
Verdade - Confrontado com gravações em que dizia que o sequestro foi motivado por vingança, afirmou não se lembrar das conversas. Nos áudios das negociações, ele diz frases como “ela vai pagar por isso” e “muita gente vai sofrer”.
“Depois de uma semana prometendo se render e não se rendendo, qual a garantia que temos que você está dizendo a verdade?”, perguntou Daniela. Lindemberg respondeu que havia criado laços com a família de Eloá durante o tempo em que eles haviam namorado e que queria compensar a perda dizendo a verdade.
“Hoje estou preso pagando pelo que fiz”, disse. “Durante esses três anos fui procurado por advogados dizendo que existiam artifícios que eu poderia usar para negar que havia atirado em Eloá. Mas eu queria falar a verdade, por isso também não falei com a imprensa”.
Lindemberg negou que tenha agredido Eloá. “A família sabe que quando ela ficava nervosa o corpo dela ficava cheio de manchas roxas”, afirmou. “Eu não bati nela”. Ele negou ter agredido os dois jovens, o que contradiz os depoimentos de Victor e Iago - disseram ter levado coronhadas. E confirmou que trancou a porta do apartamento. "Tranquei a porta e fiquei com a chave, fiquei com medo que algum vizinho entrasse por causa dos gritos da Eloá".
A promotora questionou detalhadamente as exigências feitas durante o sequestro - a volta de Nayara, uma carta de um promotor garantindo sua integridade física e o religamento da energia elétrica. Ele confirmou que todas foram cumpridas, mas, mesmo assim, disse que não confiava na polícia.
Os momentos mais tensos do interrogatório, aliás, foram quando a promotora mostrou a arma do crime, um revólver calibre 32, ao acusado e ele pediu para segurá-la e quando ela perguntou ao réu por que ele não havia procurado a polícia, antes do sequestro, para registrar um boletim de ocorrência, já que, segundo ele, tinha comprado, por 700 reais, uma arma e munição porque estava recebendo ameaças de morte.
"Por que você não procurou a polícia?", indagou Daniela. "A abordagem da polícia onde nós moramos é diferente da abordagem onde a senhora mora", ele respondeu, para o espanto da integrante da Promotoria, que respondeu prontamente: "Espero que o senhor não saiba onde eu moro".
Atitudes impensadas - O acusado disse ter ficado muito nervoso quando os policiais chegaram ao local."A partir do momento em que a polícia chegou, senti minha vida em risco. Eu não poderia mais descer e dizer que foi uma discussão de casal, pois uma das quatro pessoas diriam que eu tinha uma arma", afirmou. "Não dava para jogar a arma na privada nem escondê-la".
Ele passou a conversar com os policiais pela janela. Foi então que eles conseguiram ver que ele estava armado. "Você não pensou que eles iam ver a arma?", indagou a promotora. "Eu estava nervoso, estava tomando atitudes impensadas". Questionado por que atirou pela janela, ele respondou que tomou a atitude para que a polícia não se aproximasse.
Lindemberg também contou ter ficado tenso nos momentos anteriores à invasão da polícia, quando a imprensa foi retirada do campod e visão dele e um telefone para sua irmã foi interrompido. Confirmou que pediu para que Douglas, irmão de Eloá, e Nayara, fossem até o cativeiro para que ele se rendesse. Acabou desistindo da presença de Douglas e declarou que ele e Eloá iam descer com Nayara - o que não aconteceu. "Eu estava aguardando sentir plena confiança para descer".
Mais cedo, ele pedira perdão à mãe de Eloá. No fim do julgamento, fez o mesmo em relação ao pai dela. Para a acusação, a linha de argumentação de Lindemberg, que confessou pela primeira vez desde o crime ter atirado em Eloá, não surtirá efeito. "A confissão do Lindemberg não vai reduzir a pena", afirmou Beraldo, que classificou o que ele apresentou ao júri como um "engodo". A acusação deve pedir uma pena de sessenta anos.
Lindemberg aproveitou a fase final do interrogatório, ao falar com sua advogada Ana Lúcia Assad, para tentar diminuir sua pena: sustentou que não se tratava de cárcere privado porque todos podiam entrar e sair livremente (embora ele tenha confirmado que trancou a porta do apartamento) e que não tinha intenção de matar Nayara nem Eloá. E aproveitou para pedir desculpas a ela. "Não tenho nada contra a Nayara, só tenho a agradecer a ela. Devo desculpas a ela, mesmo sem saber se o tiro partiu da minha arma e mesmo que ela tenha optado por ficar dentro do apartamento porque queria acompanhar Eloá ", afirmou.
Blefe - A fala de Lindemberg era a mais esperada do julgamento e encerrou o terceiro dia de trabalhos no Fórum de Santo André. A previsão é que o julgamento termine nesta quinta-feira - um dia a mais que o previsto. O réu também disse à promotora Daniela Hashimoto que muitas das ameaças que fez durante o sequestro da jovem de 15 anos e de seus amigos, em outubro de 2008, não passaram de blefe. O interesse dele era manter a polícia longe."Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia fora do local", contou. A José Beraldo, declarou, inclusive, ter blefado quando disse que se mataria.
O sequestro, como se sabe, durou mais de cem horas e terminou de forma trágica, com a morte de Eloá e Nayara Rodrigues da Silva, a refém que voltou ao cativeiro, baleada. Ele adotou várias estratégias para alcançar seu intuito, como a decisão de negociar a liberação de Iago Vilela de Oliveira e Victor Rodrigues da Silva. "Quando os meninos quiseram descer, usei isso para reivindicar algumas coisas da polícia".
O réu disse que, ao entrar no local, em 13 de outubro de 2008, esperava encontrar Eloá sozinha e estranhou o fato de ela estar com amigos, pois, segundo ele, informava cada passo que dava - Lindemberg revelou nesta quarta que os dois haviam reatado menos de uma semana antes do crime. Já no interior do imóvel, acabou ouvindo de Victor, um dos jovens presentes, que ele teria beijado a jovem - o que foi prontamente negado por Nayara, que começou a berrar. Foi então que Lindemberg mostrou a arma ao grupo pela primeira vez, criando um clima de tensão.
Acalmados os ânimos, disse ter pedido aos dois rapazes que saíssem, o que foi recusado. "Eles ficaram assustados com a situação, souberam o que Victor e Eloá tinham feito e ficaram com medo de que eu e Eloá ficássemos sozinhos e que eu tomasse alguma atitude extrema", afirmou. "Mas o que é uma atitude extrema?", indagou a promotora. "Seria chegar no apto e, ao saber do beijo dela em Victor, atirar nela", respondeu.
Verdade - Confrontado com gravações em que dizia que o sequestro foi motivado por vingança, afirmou não se lembrar das conversas. Nos áudios das negociações, ele diz frases como “ela vai pagar por isso” e “muita gente vai sofrer”.
“Depois de uma semana prometendo se render e não se rendendo, qual a garantia que temos que você está dizendo a verdade?”, perguntou Daniela. Lindemberg respondeu que havia criado laços com a família de Eloá durante o tempo em que eles haviam namorado e que queria compensar a perda dizendo a verdade.
“Hoje estou preso pagando pelo que fiz”, disse. “Durante esses três anos fui procurado por advogados dizendo que existiam artifícios que eu poderia usar para negar que havia atirado em Eloá. Mas eu queria falar a verdade, por isso também não falei com a imprensa”.
Lindemberg negou que tenha agredido Eloá. “A família sabe que quando ela ficava nervosa o corpo dela ficava cheio de manchas roxas”, afirmou. “Eu não bati nela”. Ele negou ter agredido os dois jovens, o que contradiz os depoimentos de Victor e Iago - disseram ter levado coronhadas. E confirmou que trancou a porta do apartamento. "Tranquei a porta e fiquei com a chave, fiquei com medo que algum vizinho entrasse por causa dos gritos da Eloá".
A promotora questionou detalhadamente as exigências feitas durante o sequestro - a volta de Nayara, uma carta de um promotor garantindo sua integridade física e o religamento da energia elétrica. Ele confirmou que todas foram cumpridas, mas, mesmo assim, disse que não confiava na polícia.
Os momentos mais tensos do interrogatório, aliás, foram quando a promotora mostrou a arma do crime, um revólver calibre 32, ao acusado e ele pediu para segurá-la e quando ela perguntou ao réu por que ele não havia procurado a polícia, antes do sequestro, para registrar um boletim de ocorrência, já que, segundo ele, tinha comprado, por 700 reais, uma arma e munição porque estava recebendo ameaças de morte.
"Por que você não procurou a polícia?", indagou Daniela. "A abordagem da polícia onde nós moramos é diferente da abordagem onde a senhora mora", ele respondeu, para o espanto da integrante da Promotoria, que respondeu prontamente: "Espero que o senhor não saiba onde eu moro".
Atitudes impensadas - O acusado disse ter ficado muito nervoso quando os policiais chegaram ao local."A partir do momento em que a polícia chegou, senti minha vida em risco. Eu não poderia mais descer e dizer que foi uma discussão de casal, pois uma das quatro pessoas diriam que eu tinha uma arma", afirmou. "Não dava para jogar a arma na privada nem escondê-la".
Ele passou a conversar com os policiais pela janela. Foi então que eles conseguiram ver que ele estava armado. "Você não pensou que eles iam ver a arma?", indagou a promotora. "Eu estava nervoso, estava tomando atitudes impensadas". Questionado por que atirou pela janela, ele respondou que tomou a atitude para que a polícia não se aproximasse.
Lindemberg também contou ter ficado tenso nos momentos anteriores à invasão da polícia, quando a imprensa foi retirada do campod e visão dele e um telefone para sua irmã foi interrompido. Confirmou que pediu para que Douglas, irmão de Eloá, e Nayara, fossem até o cativeiro para que ele se rendesse. Acabou desistindo da presença de Douglas e declarou que ele e Eloá iam descer com Nayara - o que não aconteceu. "Eu estava aguardando sentir plena confiança para descer".
Por Veja