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Delegado diz que vai indiciar dirigentes de escolas de samba de SP

O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Deatur (Delegacia de Atendimento ao Turista), disse que já tem elementos para indiciar dirigentes de escolas de samba de São Paulo pelo tumulto que interrompeu a apuração do Carnaval, na terça-feira.
Neste caso, eles seriam indiciados sob suspeita dos mesmos crimes cometidos pelos dois integrantes de escolas que já estão presos. Tiago Ciro Tadeu Faria, 29, da Império, e Cauê Ferreira, 20, da Gaviões. Os delitos são: supressão de documentos e dano ao patrimônio publico. O crime de formação de quadrilha também não está descartado.
Faria e Ferreira foram presos após invadirem a área de apuração quando faltavam só duas notas para que a escola campeã fosse conhecida. A confusão se alastrou na saída do Anhembi e um carro da Pérola Negra foi incendiado.
O delegado Gonçalves não diz quem seriam os dirigentes indiciados. "Mas eles vão vir depor e sairão daqui indiciados", afirmou.
Estão previstos para até o fim da tarde desta quinta-feira os depoimentos de Josélia Alves, diretora da Camisa Verde e Branco, e Alexandre Salomão, o Teta, diretor de Carnaval da escola. O presidente da agremiação, Ribamar de Barros, está preso desde janeiro, acusado de extorsão.
Para esta sexta-feira estão marcados os depoimentos de Wagner da Costa, vice-presidente da Gaviões da Fiel, Edilson Casal, presidente da Pérola Negra e Luciana Silva, integrante da Tom Maior.
Já estão intimados para depor na próxima segunda-feira Darly Silva, o Neguitão, presidente da Vai-Vai, Renato Maluf, vice-presidente da escola, Paulo Sérgio Ferreira, o Serginho da Vila Maria, que preside a Liga das Escolas de Samba, além de um homem identificado como Caio, intérprete da Vai-Vai.
O advogado Adriano Salles Vanni, que representa a escola Camisa Verde e Branco disse que os integrantes da agremiação não cometeram crime. "Foi o calor dos acontecimentos o causou tudo isso, pelo menos em relação ao pessoal da Camisa. Ninguém rasga voto nem dilapida patrimônio algum, isso ficará esclarecido."
Questionado a respeito de imagens feitas pela TV Globo que mostram um dos integrantes jogando para cima e chutando papéis, ele respondeu: "São envelopes vazios. Não havia votos."
Ele afirmou que os dois membros da agremiação intimados para depor nesta tarde vão comparecer.
 
CONFUSÃO
 
A confusão interrompeu a leitura das últimas notas das escolas de samba do Carnaval de São Paulo, no Anhembi (zona norte), na tarde desta terça-feira (21). Tudo começou quando um integrante de escola de samba invadiu a área onde as notas eram lidas, agrediu o locutor com um chute, pegou e rasgou os envelopes com as notas. A confusão se espalhou, e a apuração terminou em vandalismo.
Após o tumulto dentro do Anhembi, onde ocorria a apuração, torcedores invadiram parte da pista da marginal Tietê. Um carro alegórico foi queimado na dispersão do sambódromo, onde estavam as alegorias usadas nos desfiles.
Policiais militares que estavam no local tentaram proteger os locutores e jurados, mas a confusão foi generalizada. Integrantes de outras escolas também invadiram a área.
Depois, torcedores da Gaviões da Fiel invadiram a marginal Tietê, chutaram placas da cerca de proteção do pátio enquanto seguiam em direção à quadra da escola.
 
TROCA
 
A apuração já havia começado com clima tenso, após um atraso de mais de 20 minutos. Representantes de cada escola foram convocados para uma reunião à portas fechadas, que tratou de uma troca de jurados.
Segundo a Liga Independente das Escolas de Samba, jurados dos quesitos samba-enredo e mestre-sala e porta-bandeira foram substituídos por suplentes na quinta-feira (16), um dia antes do início dos desfiles do Grupo Especial. Um dos jurados disse que não podia participar porque seria jurado no Rio, e o outro alegou motivos "emocionais". Segundo a Liga, a troca foi informada por e-mail.
O presidente da Vai-Vai, Darly Silva, o Neguitão, reclamou da troca dos jurados e disse que isso deixou as escolas indignadas. "Nós não vamos aceitar isso. Estão roubando escolas, beneficiando essa daí [Mocidade], que só tira 10", disse.
No momento da interrupção, a Mocidade Alegre liderava a apuração e era a única com notas 10 em todos os quesitos avaliados. Faltavam ser lidas as duas últimas notas do último quesito.
Instantes antes da confusão, Neguitão começou a protestar contra a apuração, e integrantes da Camisa Verde e Branco se juntaram a ele, rompendo a barreira de segurança da área onde eram lidas as notas. Integrantes da Vai-Vai ameaçaram agredir fotógrafos que faziam imagens de Neguitão.
O diretor-executivo da escola, Américo Calandriello Júnior, disse que Neguitão ficou revoltado, mas não incitou agressões. "Ele é uma pessoa muito tranquila, e comanda uma comunidade enorme em torno da escola. Ele jamais agrediria ninguém."
Josélia Alves, da diretoria da Camisa, gritou pouco depois da interrupção: "Acabou o Carnaval de São Paulo. Não vai haver mais apuração. Não admitimos que as escolas sejam roubadas." Após ser divulgado o resultado do Carnaval, Alves disse que entraria na Justiça para anular a apuração.
Por Folha