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Após novo vazamento, Chevron suspende a produção no Brasil

A gigante americana Chevron passou do paraíso, quando iniciou, em 2009, a produção de petróleo no Brasil, ao inferno, nesta quinta-feira, ao anunciar que vai suspender a produção de petróleo no país. Toda a produção da petrolífera em território brasileiro está hoje concentrada no campo de Frade, na Bacia de Campos, onde foi detectado um novo vazamento de óleo no último dia 4, provocado por uma fissura de 800 metros de extensão e afundamento do solo marítimo. Segundo a companhia, o vazamento foi de apenas cinco litros.
A decisão de uma empresa suspender, ainda que temporariamente, toda sua produção de petróleo é inédita no país e foi anunciada nesta quinta-feira pelo novo diretor de Assuntos Corporativos da Chevron Brasil, Rafael Jaen. De acordo com o executivo, o objetivo é descobrir as causas do novo acidente, que ocorreu a cerca de três quilômetros a leste do poço onde houve o derramamento do dia 7 de novembro do ano passado, quando vazaram cerca de 3,4 mil barris de petróleo.
—A decisão de suspender temporariamente a produção foi tomada por precaução em virtude do novo afloramento de óleo e o rebaixamento do terreno — disse Jaen.
A companhia encaminhou na quinta-feira às 13h55m a solicitação para a suspensão da produção à Agência Nacional do Petróleo (ANP). A produção de Frade é de 61,5 mil barris por dia.
A ANP informou que a Chevron foi autuada na quarta-feira por não ter atendido notificação da agência para apresentar as salvaguardas solicitadas para evitar novos vazamentos na área. A empresa virou alvo de um novo processo administrativo no órgão. Desde quinta-feira, técnicos da agência estão no Centro de Comando de Crise da Chevron. Entre as medidas já tomadas, foi determinada a instalação de um coletor no novo ponto de vazamento identificado pela empresa.

Ibama: vazamento decorre do anterior

O secretário estadual do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que um novo vazamento no poço da Chevron mostra, mais uma vez, a importância de um estudo de análise de risco, bem como a adoção de rigorosas medidas ambientais preventivas para atividades de perfuração de óleo no fundo do mar. Minc enfatizou ter “faltado transparência” por parte da empresa quando do primeiro acidente, em novembro de 2011, em relação a sua real dimensão, e disse que as informações até agora disponíveis, neste segundo caso, são ainda insuficientes:
— Não está claro se é um novo vazamento ou um rescaldo daquele do ano passado. Já tínhamos advertido que o vazamento na Bacia de Campos não havia sido completamente resolvido. Além disso, a causa do acidente não foi completamente esclarecida. Naquela época, a Chevron foi informada que havia uma fissura no fundo do mar. A empresa fez o encapsulamento de apenas parte da fissura, quando o correto era ter feito em toda a área.
Para o Ibama, informações preliminares apontam que o vazamento é decorrente do vazamento registrado ano passado, não se tratando de um novo, uma vez que o poço não estava operando.
O diretor da Chevron explicou que no dia 4 a companhia identificou uma pequena mancha de óleo na superfície. A partir de então, a empresa trabalhou usando um robô submarino para encontrar a origem. A descoberta da fissura ocorreu no dia 13, quando o caso foi comunicado à ANP. A companhia coletou cerca de cinco litros de petróleo, com três equipamentos iguais aos utilizados no vazamento de novembro, que continua até hoje.
Jaen afirmou que a empresa não sabe ainda as causas do novo vazamento, mas que não teria qualquer ligação com o vazamento anterior. Com a suspensão da produção, a companhia pretende realizar um amplo estudo técnico para melhor entender a estrutura geológica da área. A suspensão da produção foi aprovada também pelos sócios da Chevron no Frade, a Petrobras e a japonesa Inpex.
O oceanógrafo David Zee, da Uerj, está convencido de que o acidente da Chevron não pode ser analisado de forma isolada. Nos últimos meses, desde novembro, a indústria de petróleo no país tem registrado um acidente por mês.
—Tem algo muito errado acontecendo, porque os acidentes estão se repetindo e nem a ANP nem o Ibama estão repensando a estratégia de prevenção de acidentes no país — alerta Zee, defendendo que a Marinha seja mais bem aparelhada para viabilizar acesso aos campos de exploração em alto mar mais rapidamente.
O diretor da Chevron garantiu que a companhia não pretende sair do Brasil, apesar dos problemas:
— A gente não vai alterar o plano de investimentos no Brasil agora, nem estamos pensando em alterar.
Na quarta-feira, o presidente da Chevron para África e América Latina, Ali Moshiri, e o presidente da Chevron para o Brasil, George Buck, estiveram com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para debater a atuação da empresa no país após o vazamento de novembro. Naquele dia, a Chevron já investigava o novo problema.

Ação do Ministério Público pede que Chevron seja proibida de extrair óleo no Brasil

Uma ação civil pública movida pelo procurador da república Eduardo Santos de Oliveira exige que a Justiça proíba a Chevron de extrair óleo no Brasil e que a empresa pague uma indenização de R$ 20 bilhões, junto com a Transocean, pelo vazamento de novembro do ano passado.
Essas punições ainda vão ser analisadas pela Justiça, mas em 24 de fevereiro o juiz Raffaele Felice Pirro, da 1ª Vara Federal do Rio, negou liminar requisitada pelo Ministério Público Federal para proibir imediatamente a Chevron de produzir no Brasil.
Na ocasião, o juiz argumentou que a proibição imediata da extração de óleo seria "antecipar a condenação final sem o crivo do contraditório", já que o processo ainda estava em trâmite inicial.

Por O Globo