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Os sites de namoro funcionam mesmo?

A internet virou o oráculo moderno do amor. A ela recorrem homens e mulheres do mundo inteiro em busca de um parceiro, antes encontrado por contatos sociais (mais ou menos) espontâneos. Há pouco mais de cinco anos, segundo uma pesquisa do demógrafo americano Michael Rosenfeld, da Universidade Stanford, os colegas de escritório e a tia casamenteira foram substituídos por redes de relacionamento como o Facebook e, principalmente, por sites pagos de namoro, como o eHarmony ou Plenty of Fish, ambos com versões brasileiras. Segundo estimativas de um fundo de investimento americano, esses sites faturam entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões por ano no mundo. Estima-se que eles tinham, no ano passado, um total de 25 milhões de associados.
O segredo desse enorme sucesso está, segundo os próprios sites, nos programas de computador que apenas eles têm. Seus desenvolvedores atribuem a esses programas a capacidade de encontrar, entre os milhões de clientes dos sites, os parceiros que melhor se adaptam uns aos outros. É a ciência a serviço do namoro, garantem os sites. Nem todo mundo concorda com isso. Um novo artigo, publicado pelo psicólogo americano Eli Finkel, da Universidade Northwestern, sugere que os programas não são tão bons quanto os sites apregoam. “Não há provas de que essas fórmulas sejam eficientes”, escreve Finkel.
Quem se inscreve num desses serviços preenche um questionário para traçar seu perfil. Alguns são simples, outros chegam a ter 400 perguntas. O questionário é comparado aos outros no banco de dados, usando o tal método exclusivo, que confere pesos diferentes a cada característica física ou de personalidade. Nos Estados Unidos, religião é um item relevante. No Brasil, menos. Aqui, a disposição para dividir ou não as tarefas domésticas pode ser mais importante. Finkel tentou analisar os programas dos sites de namoro, mas nenhum site aceita divulgar seu método de seleção, conhecido tecnicamente como algoritmo, sob a alegação de segredo comercial. “Se esses sites querem reivindicar o uso de fórmulas científicas, precisam aderir ao método científico”, diz Finkel. Isso significa que eles teriam de abrir seus programas para que outros pesquisadores atestassem sua eficácia em descobrir parceiros duradouros.
O segundo problema, diz Finkel, são as teorias usadas para montar os programas. Elas partem do pressuposto de que as pessoas são atraídas por gostos e características semelhantes ou, no máximo, complementares (procuram nos outros algo que não têm). Stanlei Bellan, diretor do eHarmony do Brasil, diz que a teoria das semelhanças foi comprovada empiricamente pelo terapeuta americano Neil Warren, o criador do serviço, ao longo de seus 30 anos de experiência em consultórios. Para Finkel, compatibilidade não é o segredo dos relacionamentos. Estudos citados por eles sugerem que ter perfis semelhantes não assegura a felicidade dos casais. A psicóloga americana Portia Dyrenforth analisou 20 mil pessoas e descobriu que casais cujas personalidades se mostravam “compatíveis” eram apenas 0,5% mais felizes que os “incompatíveis”. “A atração envolve inúmeras variáveis”, diz Ailton Amélio da Silva, psicólogo da Universidade de São Paulo, especialista em relacionamentos. “Os sites não captam essa complexidade.”
A apresentadora Monique Evans, de 55 anos, ex-modelo, já provou as dificuldades de encontrar um par pela internet. Alta e atraente, ela atende às exigências de beleza da maioria dos homens. O problema é que tudo começa e acaba aí. “O site recomendava pessoas que não tinham nada a ver comigo”, diz Monique. A empresária Marcia Scalice, de 39 anos, teve experiência parecida. Hoje está casada, mas se lembra dos silêncios constrangedores à mesa do bar, em encontros com parceiros sugeridos por sites de namoro. “Não rolava empatia, não havia conversa”, diz. Pior eram os encontros em que os homens estavam interessados apenas em sexo. “Já chegavam me convidando para ir a um motel ou para a casa deles. Era ofensivo.”
Essas dificuldades podem ser explicadas por variáveis que não estão incluídas nos programas dos sites. Segundo o psicólogo americano John Gottman, o estilo de interação entre o casal é o principal determinante do sucesso da relação. Num estudo, ele conseguiu prever com 83% de precisão que casais se divorciariam ao observar apenas 15 minutos de conversa. Um estudo conduzido por Finkel em 2010 chegou a resultado semelhante. Ele analisou a conversa de 86 casais e comparou a maneira como cada um dos parceiros usava artigos e pronomes. Percebeu que mais de 75% dos casais que empregavam esses termos de maneira parecida continuavam namorando depois de três meses. Entre os casais em que essa sintonia não acontecia, pouco mais de 50% seguiram com o relacionamento. Parece que, na subjetiva arte de formar casais, o charme das palavras ainda vale mais do que precisão dos programas de computador.
Por Época