'É inevitável depoimento do Sérgio Cabral', diz representante do PMDB
Senador pelo PMDB do Espírito Santo, Ricardo Ferraço foi designado
membro titular da Comissão Parlamentar Mista de Investigações da Câmara e
do Senado encarregada de apurar o envolvimento de políticos com o
bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Em entrevista ao Poder Online, Ferraço diz que a CPI provocará baixas em quase todos os partidos: “Sobra para todo mundo. Todos terão que cortar na carne.”
Tanto que ele classifica como inevitável que o governador
peemedebista do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral seja convocado a depor na
CPI, assim como os governadores de Goiás, Marconi Perillo, e do Distrito
Federal, Agnelo Queiroz.
Cabral é amigo do dono da Delta Engenharia, acusada de sociedade com o
bicheiro Carlinhos Cachoeira e de ter sido privilegiada na obtenção de
obras no Rio de Janeiro e em outros Estados. Nesta semana, o
ex-governador do Rio Anthony Garotinho divulgou fotos e vídeos de Cabral em viagem com Cavendish pela Europa.
Para o peemedebista Ricardo Ferraço, não há como a CPI livrar Cabral
do depoimento, afinal, “pau que dá em Chico, dá em Francisco”, afirma.
Poder Online – Qual deverá ser o resultado da CPI?
Ricardo Ferraço – É difícil prever o futuro. Posso
falar da minha expectativa. Eu espero que possamos apurar todos os fatos
levantados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal e desfazer a
teia criminosa que se montou em torno do senhor Carlos Cachoeira e seus
parceiros na política e nos negócios.
Poder Online – Mas haverá pressões dos partidos para defender
seus filiados arrolados nas investigações e condenar os integrantes de
partidos adversários…
Ricardo Ferraço – Todos nós teremos que zelar para
que isto não ocorra. Se ocorrer, transformará a CPI e o Congresso numa
praça de guerra. Com o grande risco de virar um imbróglio sem solução, o
que se costuma chamar de pizza. Aí será ruim não só para o país, como
para a classe política como um todo.
Poder Online – Se a CPI seguir o caminho correto, pode sobrar para todos os partidos, não é mesmo?
Ricardo Ferraço – Essa é a minha primeira impressão. Sobra para todo mundo. Todos os partidos terão que cortar na carne.
Poder Online – Quem deverá ser chamado a depor? Os
governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal,
Agnelo Queiroz (PT), já estão na lista.
Ricardo Ferraço – Mas não serão só eles. O Luiz
Antônio Pagot ( ex-diretor-geral do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes – DNIT), o próprio Demóstenes. Acho que
devemos chamar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
diretores da Delta Engenharia… Enfim, à medida que a CPI avançar outros
nomes deverão aparecer também.
Poder Online – A Delta é um caso complicado. Tem obras em vários Estados.
Ricardo Ferraço – É complicado sim. Ela tem obras em
24 Estados. É mais fácil relacionarmos em quais dos 27 Estados da
federação a Delta não tem obras. Mas não dá para dizermos que tudo que
ela fez ou está executando é ilícito. Aqui no meu Estado, o Espírito
Santo, por exemplo, ela também tem várias obras. Mas foram todas
conquistadas sob regime de licitação. Não há obras emergenciais da Delta
por aqui. Enfim, o envolvimento da empresa fará com que todos os
Estados onde ela atua sejam obrigados a mostrar como ela obteve as
obras.
Poder Online – E o Sérgio Cabral, vai ser chamado a depor na CPI?
Ricardo Ferraço – Acho que vai ser inevitável o seu
depoimento. Será inclusive uma oportunidade para ele se explicar sobre
essas denúncias, de que privilegiou a Delta por ser amigo do Fernando
Cavendish, o dono da empresa. Não faria sentido chamarmos outros
governadores acusados de envolvimento na teia da CPI, como o Perillo e o
Agnelo, e deixarmos o Sérgio Cabral de fora só porque pertence ao PMDB,
ou porque governa o Rio de Janeiro. Pau que dá em Chico, dá em
Francisco. Acho que esse deve ser, aliás, o lema da CPI: Pau que dá em
Chico, dá em Francisco.
Poder Online – Mas o senhor deverá ser pressionado por seu partido, o PMDB.
Ricardo Ferraço – Tenho que fazer Justiça ao líder
da bancada no Senado, Renan Calheiros (AL). Apesar de eu ser considerado
um senador independente, o Renan me indicou como membro da CPI sem
fazer qualquer restrição. Ele não pediu nada. Portanto estou com total
liberdade e vou agir assim.
Por iG