Falta de hemodiálise faz mais uma vítima
A renal crônica Cecília Soares de Lima, de apenas 31 anos, já vinha recebendo tratamento de hemodiálise há quatro anos em uma clínica particular conveniada com o Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, quando adquiriu uma infecção no pulmão e teve que ser internada na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) do Pronto-Socorro Municipal do Guamá, não pôde mais fazer o tratamento. Ela morreu na noite da última terça-feira (1º). Segundo a família, Cecília ficou 11 dias internada sem fazer hemodiálise porque a UTI do PSM não tinha máquina.
A causa da morte de Cecília, que deixou uma filha de quatro anos, é a mesma que matou, nas últimas duas semanas, Raimunda Carvalho dos Santos (85 anos), Raimunda Ribeiro (67 anos) e Antônia Borges (42 anos): a falta de leitos no serviço de hemodiálise oferecido pela rede de saúde pública.
De acordo com a irmã de Cecília, Francisca Soares, a falta do tratamento no PSM foi o que causou a morte. “Ela ficou em coma sem fazer diálise. Ela já fazia hemodiálise normalmente três vezes na semana, mas como ela ficou internada sem o tratamento, piorou”, explica. “Falaram que ela tinha que aguardar leito. Na UTI não tinha máquina de diálise. Mas, se não tinha, o PSM tinha que ter dado um jeito de transferir para outro lugar que tivesse”.
A família afirma que o nome da paciente chegou a ser incluído no banco de leitos do PSM, mas ainda teriam que esperar que vagasse um leito. “O caso da minha irmã era de atendimento prioritário”, afirma Francisca.
PSM do Umarizal tem dez renais crônicos sem diálise
Cansados de aguardar pelo procedimento do hospital, os familiares procuraram a Defensoria Pública do Estado para tentar agilizar a transferência de Cecília para um hospital com UTI equipada. Francista afirma que ainda teve dificuldades de conseguir um laudo no hospital que possibilitasse a abertura do processo. “O médico do PSM não quis me dar o laudo. Vieram dar depois só porque dissemos que fomos na Defensoria”.
A Defensoria Pública do Estado informou que foi dada a entrada no processo na 2ª Vara de Fazenda Pública de Belém no dia 1º de março. No final da tarde do mesmo dia, o juiz Marco Antônio Lobo concedeu o mandado de segurança. Porém, quando o processo foi liberado, já não havia mais o que ser feito. “Quando ele conseguiu (defensor público), ela já havia morrido”, afirma Francisca. “Ela deixou de fazer cinco sessões de hemodiálise enquanto estava internada no pronto-socorro”.
Para a presidente da Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Estado do Pará, Belina Soares, o erro começou quando a paciente foi encaminhada para receber tratamento no PSM. “O caso dela, que já era paciente ambulatorial, tem que ser tratado por um hospital de suporte. Tinha que ter ido para um hospital de referência, que no caso é a Santa Casa de Misericórdia”.
Ela diz ainda que houve um problema de orientação dos gestores de saúde no Estado. “A Nefroclínica (onde Cecília já fazia hemodiálise) é obrigada a dar suporte de transporte e também hospitalar. A central de leitos sabe que a retaguarda da Nefroclínica é a Santa Casa, então teria que ter encaminhado para lá”.
Para Belina, a situação das UTIs dos prontos-socorros da capital é irregular, já que não possuem máquinas de hemodiálise. “Hoje, para cadastrar uma UTI no Ministério da Saúde, tem que ter diálise. Os PSMs estão irregulares. Eles estão com máquinas paradas que já poderiam ter sido colocadas para funcionar”.
Ela afirma ainda que outros pacientes se encontram na mesma situação que estava Cecília. “No PSM da 14 de Março, estou com dez pacientes em UTI que não estão fazendo diálise. Inclusive, temos uma criança de 10 anos internada na UTI precisando de diálise urgente e não tem”.
Por Diário do Pará