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Argentina rejeita valor de ações espanholas e revisará resultados da YPF

O governo argentino anunciou nesta terça-feira que vai revisar os "números" apresentados de forma "imprudente" pelos diretores da companhia petrolífera YPF, assim que tiver acesso as "informações secretas".
A afirmação feita nesta terça-feira é do vice-ministro de Economia e interventor da YPF, Axel Kicillof, diante do Senado argentino.
"Havia muitas informações [da YPF] que não estavam disponíveis para as autoridades", sustentou Kicillof, quem o meio empresarial considera com um dos principais articuladores da desapropriação da companhia petrolífera da espanhola Repsol.
Durante seu comparecimento ao Senado, onde nesta terça-feira começou o trâmite do projeto de lei de desapropriação de 51% das ações da Repsol na companhia petrolífera argentina, Kicillof disse que a "YPF serviu de fonte de recursos para solver a expansão internacional" do grupo espanhol.
 
ATAQUE A REPSOL

Kicillof, uma figura ascendente no governo da presidente argentina Cristina Kirchner, atacou diretamente o presidente da Repsol, Antonio Brufau.
Conforme o político, "empresários como Brufau entenderão o que estamos fazendo. A ideia é que não pensem mais em fazer expansão transnacional com recursos movimentados pela nossa companhia petrolífera", manifestou.
O vice-ministro detalhou que a "Repsol é uma companhia que buscou maximizar seu lucro, o que é legal, mas nessa busca os interesses do grupo se chocaram com os interesses do modelo de crescimento argentino, como inclusão social e dessa forma a convivência se tornou difícil".
Nesta semana, o governo pretende avançar na aprovação no Senado do projeto de lei de desapropriação para iniciar a tramitação na Câmara dos Deputados.
 
CRÍTICAS DO FMI

O economista do FMI (Fundo Monetário Internacional), Thomas Helbling, lamentou nesta terça-feira a postura imprevisível da Argentina, após o anúncio por parte do governo do país sobre a expropriação de 51% da companhia petroleira YPF, controlada pela espanhola Repsol.
"Penso que houve uma certa deterioração do clima para os investidores na Argentina nos últimos anos", afirmou o economista em coletiva de imprensa em Washington.
Ele advertiu ainda o governo argentino que as nacionalizações serão "prejudiciais" para o crescimento econômico do país.
De acordo com o FMI, o PIB (produto interno bruto) da Argentina, que em 2011 cresceu 8,9 %, será de 4,2% em 2012, e de 4% em 2013.
 
INDENIZAÇÃO

O presidente da Repsol, Antonio Brufau, acusou nesta terça-feira o governo da Argentina de ter produzido uma campanha de "fustigação, coações e vazamentos interesseiros e planificados" para provocar a queda do preço da YPF e facilitar assim sua desapropriação a preço de saldo.
Em entrevista coletiva em Madri, Brufau qualificou a intenção do governo argentino de nacionalizar a YPF de "ato absolutamente ilegítimo e injustificável" e relacionou esta atuação à descoberta da jazida "Vaca Muerta", uma das mais importantes dos últimos anos.
O presidente da petrolífera espanhola anunciou que recorrerá à Justiça internacional e exigirá uma compensação "justa" pelas ações de expropriação, pelo menos da mesma quantia que corresponderia aos acionistas de acordo com a lei e que a companhia calcula em US$ 46,55 por ação, o que avaliaria a YPF em US$ 18,3 bilhões.
O presidente da Repsol explicou que apesar de suas reiteradas tentativas de reunir-se com a presidente argentina, Cristina Kirchner, para buscar uma solução negociada ao conflito criado em torno da YPF, a governante se negou.
 
US$ 10,5 BILHÕES
 
A petrolífera espanhola Repsol calculou nesta terça-feira em US$ 10,5 bilhões a sua participação de 57,4% na YPF e disse que para expropriar 50,1% da companhia o governo argentino deve lançar uma oferta pública de aquisição de ações (OPA).
Em entrevista coletiva em Madri, o presidente da Repsol, Antonio Brufau, explicou que para uma aquisição igual ou superior a 15%, segundo o estatuto da YPF, o comprador deve formular uma OPA pela totalidade das ações.
Para determinar o preço por ação da YPF é preciso multiplicar o índice Preço/Lucro máximo registrado pela companhia nos dois últimos anos pelo resultado líquido por ação dos últimos 12 meses.
O resultado desta operação levaria o valor de cada ação da YPF a US$ 46,55, o que avaliaria a companhia em US$ 18,3 bilhões.

Por Folha