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Entenda a safadeza oculta de Dilma e Erenice

O Palácio do Planalto anunciou nesta quinta-feira a demissão de Erenice Guerra do posto de ministra-chefe da Casa Civil.
A decisão foi tomada depois de duas denúncias publicadas na imprensa ligarem seu filho, Israel Guerra, a um suposto esquema de cobrança para intermediar projetos privados junto a órgãos do governo.
Em sua carta de demissão, Erenice negou as acusações, mas disse que teria de se desligar do cargo para “defender sua imagem e de sua família”.
A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas sobre o caso.

Que denúncias derrubaram Erenice Guerra?

A primeira delas veio à tona no sábado, por meio de reportagem da revista Veja que colocava Israel Guerra, filho de Erenice Guerra, no centro de um suposto esquema de tráfico de influência.
Segundo a revista, Israel teria cobrado uma “taxa de sucesso” à empresa MTA Linhas Aéreas, interessada em renovar sua concessão junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e fazer negócios com os Correios.
Ainda de acordo com a reportagem, o filho da então ministra teria embolsado R$ 5 milhões com o “sucesso” do negócio avaliado em R$ 84 milhões.
Outra denúncia, veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira voltou a apontar Israel Guerra como “lobista”, dessa vez em um caso envolvendo a empresa EDRB e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A empresa teria sido orientada por um servidor da Casa Civil a “procurar” a Capital Consultoria, empresa em nome de Saulo Guerra, também filho de Erenice Guerra e irmão de Israel, para facilitar a liberação de um empréstimo no valor de R$ 9 bilhões junto ao banco.

Como os envolvidos se defendem?

A MTA Linhas Aéreas negou qualquer relação com Israel Guerra e afirmou, por meio de nota, que o contrato firmado com os Correios foi totalmente regular.
Ainda de acordo com a companhia, o empresário Fábio Baracat (que teria contratado Israel em nome da MTA), “nunca foi sócio, funcionário ou administrador” da empresa.
No entanto, o próprio Israel teria confirmado, em resposta enviada à Veja, os contatos com Baracat como representante da MTA, mas negou a prática de tráfico de influência.
Erenice Guerra também negou as acusações. Em nota divulgada no sábado, a ministra colocou à disposição das autoridades seus sigilos fiscal, bancário e telefônico, como também de todos os integrantes de sua família.
Além disso, a ex-ministra também pediu para ser investigada pela Comissão de Ética Pública da Presidência, mas ainda não se sabe se o resultado ficará pronto antes das eleições.
Por meio de um comunicado divulgado nesta quinta-feira, o BNDES afirma repudiar “a insinuação de que o banco poderia estar envolvido em um suposto esquema de favorecimento para a obtenção de empréstimos junto à instituição”.
O banco ainda afirma que o pedido de empréstimo para a EDRB – que seria de R$ 2,25 bilhões e não R$ 9 bilhões, segundo a nota – não foi concedido por ter considerado “o montante solicitado era incompatível com o porte da referida empresa”.

Como o governo reagiu às denúncias?

Preocupado com o impacto das denúncias na campanha eleitoral, o governo tentou, inicialmente, desvincular a imagem de Erenice Guerra a de sua antecessora na pasta, a candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT).
Durante debate entre candidatos da RedeTV!, no domingo, a candidata do PT disse que não aceitaria ser julgada com base “no que aconteceu com o filho de uma ex-assessora”.
Erenice Guerra foi secretária-executiva da Casa Civil, segundo posto mais importante da pasta, durante a gestão de Dilma Rousseff.
A estratégia começou a mudar a partir de terça-feira, quando Erenice divulgou uma nota negando as acusações e atribuindo-as a uma “campanha de difamação em favor de um candidato aético e já derrotado”, referindo-se veladamente a José Serra (PSDB).
O tom da nota desagradou não apenas o Palácio do Planalto, como também a campanha de Dilma Rousseff. Esse fato, aliado a mais uma denúncia, acabou deixando Erenice em situação “insustentável” no governo e culminou em sua demissão.

E a oposição? Como tem reagido?

Desde a reportagem da Veja, no sábado, representantes da oposição vêm tentando ligar as denúncias contra familiares de Erenice Guerra à candidata Dilma Rousseff, sua antecessora na Casa Civil.
O assunto foi parar na propaganda eleitoral gratuita, no programa de José Serra para o rádio e TV. Para evitar a exposição direta do candidato tucano, a campanha preferiu usar locutores, que exploraram a ligação entre Erenice e Dilma.
"Zé Dirceu, Dilma e Erenice, é isso que você quer para o Brasil?", questiona o ator, incluindo ainda Dirceu, que antecedeu Dilma no cargo e que também foi alvo de denúncias de corrupção.
O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, disse nesta quinta-feira que o escândalo “não termina” com a saída de Erenice do ministério e que “provavelmente tem mais coisa vindo aí”, sem dar detalhes.

Qual deve ser o impacto das denúncias na campanha eleitoral?

Ainda é preciso aguardar a próxima rodada de pesquisas eleitorais para saber se as denúncias terão impacto na campanha.
Essa é a segunda onda de denúncias que de certa forma têm potencial para prejudicar a candidata do governo, Dilma Rousseff.
A primeira delas veio à tona no mês passado, quando pessoas ligadas a José Serra, incluindo sua filha, Verônica Serra, tiveram seu sigilo fiscal violado.
Apesar de o assunto ter sido explorado pela campanha de Serra, inclusive no horário político, praticamente não houve mudanças no cenário eleitoral, de acordo com as principais pesquisas. Ou seja, a liderança de Dilma Rousseff não foi abalada, segundo os últimos levantamentos.


Tìtulo original: "Entenda o caso que levou à queda de Erenice Guerra"
Por BBC Brasil