O silêncio da oposição contrasta com o barulho do bando aglomerado no balcão de compra e venda de vagas no ministério
Metade das obras do PAC não foi concluída. Só depois de pronto o muito que falta o PAC 2 tentará sair do papel. A conta da gastança chegou, e a alternativa para os cortes anunciados pelo ministro Guido Mantega é o colapso dos investimentos públicos. Domada há 16 anos pelo Plano Real, a inflação anda regurgitando e não será sufocada por falatórios. O legado de Lula enfim começa a mostrar o que há por trás da enganadora embalagem.
A quatro anos da Copa do Mundo, a seis dos Jogos Olímpicos, os cartolas que exploram os principais eventos esportivos do planeta já desconfiam de que parcerias com sócios brasileiros são um negócio de altíssimo risco. Os colossos urbanísticos e os milagres arquitetônicos prometidos pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza seguem confinados na discurseira em mau português.
Refeito o balanço de 2009, o IBGE descobriu que os estragos decorrentes da crise econômica foram bem mais severos que arranhões provocados por marolinhas. Números divulgados pelo FMI acabam de revelar que o crescimento do PIB durante os dois mandatos de Lula foi de 4% ao ano. A média é inferior às registradas no mesmo período na China (10,95%), na Índia (8,2%) e na Rússia (4,8%). O lanterninha no BRIC também ficou abaixo da média da América Latina (4,64%). No ranking do desenvolvimento de educação organizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil apareceu numa constrangedora 53ª colocação entre os 65 países incluídos na pesquisa.
O lote mais recente de notícias inquietantes não mudou o tom do mais extenso palavrório ufanista desde o Dia da Criação. Começou com a posse de Lula e vai terminar com a posse de Dilma. Teria durado exatamente oito anos se não fossem as três ou quatro semanas de férias em praias isoladas e 10 ou 15 dias de silêncio malandro: não havia o que dizer. O falante incontrolável ficou foragido da imprensa depois do estouro do escândalo do mensalão, depois do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas e depois do primeiro turno da eleição presidencial deste ano. Descontados esses períodos de silêncio, a discurseira não respeitou sequer domingos, feriados e dias santos.
Assim será até a última fala do trono. Sem dinheiro sequer para pagar as indenizações devidas aos parentes dos militares mortos no Haiti, o presidente que deveria estar afivelando malas embarcou outra vez no trem-bala, anunciou a compra de um avião novo e ordenou a Guido Mantega que mantenha o ritmo da gastança durante a interinidade de Dilma Rousseff. O Brasil que Lula inventou é um pobretão que se faz de rico usando um fraque puído nos fundilhos.
A LUTA SOLITÁRIA DE FHC
A quatro anos da Copa do Mundo, a seis dos Jogos Olímpicos, os cartolas que exploram os principais eventos esportivos do planeta já desconfiam de que parcerias com sócios brasileiros são um negócio de altíssimo risco. Os colossos urbanísticos e os milagres arquitetônicos prometidos pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza seguem confinados na discurseira em mau português.
Refeito o balanço de 2009, o IBGE descobriu que os estragos decorrentes da crise econômica foram bem mais severos que arranhões provocados por marolinhas. Números divulgados pelo FMI acabam de revelar que o crescimento do PIB durante os dois mandatos de Lula foi de 4% ao ano. A média é inferior às registradas no mesmo período na China (10,95%), na Índia (8,2%) e na Rússia (4,8%). O lanterninha no BRIC também ficou abaixo da média da América Latina (4,64%). No ranking do desenvolvimento de educação organizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil apareceu numa constrangedora 53ª colocação entre os 65 países incluídos na pesquisa.
O lote mais recente de notícias inquietantes não mudou o tom do mais extenso palavrório ufanista desde o Dia da Criação. Começou com a posse de Lula e vai terminar com a posse de Dilma. Teria durado exatamente oito anos se não fossem as três ou quatro semanas de férias em praias isoladas e 10 ou 15 dias de silêncio malandro: não havia o que dizer. O falante incontrolável ficou foragido da imprensa depois do estouro do escândalo do mensalão, depois do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas e depois do primeiro turno da eleição presidencial deste ano. Descontados esses períodos de silêncio, a discurseira não respeitou sequer domingos, feriados e dias santos.
Assim será até a última fala do trono. Sem dinheiro sequer para pagar as indenizações devidas aos parentes dos militares mortos no Haiti, o presidente que deveria estar afivelando malas embarcou outra vez no trem-bala, anunciou a compra de um avião novo e ordenou a Guido Mantega que mantenha o ritmo da gastança durante a interinidade de Dilma Rousseff. O Brasil que Lula inventou é um pobretão que se faz de rico usando um fraque puído nos fundilhos.
A LUTA SOLITÁRIA DE FHC
Não há perigo de melhorar, informam a ladroagem no Congresso e, sobretudo, a desfaçatez dos caixas, dos atendentes e dos fregueses do balcão de compra e venda de vagas no ministério. Dilma logo saberá o que é efetivamente uma herança maldita. Só Deus sabe o que herdará o eleito em 2014. Depois de comandar o mais bisonho primeiro escalão desde a chegada das caravelas, o que o padrinho vai doar à afilhada é um pouco pior. Não pode chegar a porto seguro um governo que tem no ministério uma Ideli Salvatti e como conselheiro um Gim Argello. Fora o resto.
Tampouco há esperança de salvação para uma oposição que, confrontada com esse espantoso fim de feira, segue refugiada no silêncio pusilânime. Em qualquer lugar do mundo, os 10 primeiros dias de dezembro garantiriam munição para o bombardeio de meia dúzia de governos. No Brasil, não se ouviu sequer o som de cristais brindando ao começo do desmanche da fantasia costurada durante oito anos. Nada do que se mencionou nos parágrafos anteriores animou os supostos adversários do governo a voltar das férias.
Não se ouviu um pio de um governador eleito ou em fim de mandato, de algum senador que vai chegando ou saindo. Nem mesmo deputados, prefeitos ou vereadores quebraram o silêncio obsequioso. Com uma única, nada surpreendente mas sempre formidável exceção. De novo, coube ao ex-presidente FHC provar que ainda existe vida inteligente no Brasil. E que resta à oposição pelo menos um grande líder.
Insultado por Gilberto Carvalho, o Gilbertinho de Santo André, FHC retrucou com uma carta que, sem ultrapassar as fronteiras da elegância, atingiu a testa do pequeno canalha escalado para a infâmia e golpeou o mandante no fígado. Entre outras estocadas, o texto convida o secretário do presidente a esclarecer o assassinato do prefeito Celso Daniel e explicar-se sobre a roubalheira que o precedeu e justificou. Mais uma vez, FHC devolveu Lula ao pântano do mensalão, de onde vive tentando escapar com um abraço de afogado no antecessor.
Ninguém no PSDB, no PPS ou no DEM saiu em defesa de Fernando Henrique. Enquanto o presidente de honra do partido travava outro combate solitário, José Serra e Aécio Neves seguiam combatendo pelo controle dos despojos do PSDB. O ex-governador paulista ainda não entendeu que foi derrotado, pela segunda vez, por José Serra. Perdeu para a campanha medrosa, mesquinha, miúda que arquitetou. Perdeu para a autoconfiança arrogante e insensata. Perdeu para a submissão a cretinices marqueteiras. E não haverá uma terceira vez.
Serra precisa entender que debitar na conta de Aécio Neves o malogro em Minas é tão idiota quanto responsabilizar Lula pelo fiasco de Hélio Costa. E Aécio precisa entender que o estilo conciliador pode e deve conviver com um discurso muito mais contundente. O pronunciamento na convenção que lançou a candidatura de Serra mostrou que o senador eleito por Minas sabe o que fazer. Mas tem de fazê-lo sem pausas, acrobacias nem minuetos. O tempo das mesuras já passou, a tática da boa vizinhança caducou. Os craques do jogo de cintura não têm espinhas flexíveis demais.
Ou Aécio se transforma em porta-voz da resistência democrática, e assume de fato o comando da oposição real, ou não sobreviverá como candidato à Presidência. Seu destino será ditado pelo comportamento no Congresso, e é justo conceder-lhe crédito. Tratá-lo como “traidor” só reafirma a vocação dos oposicionistas para a autoflagelação. Só revalida a opção preferencial pela autofagia que poupa os inimigos verdadeiros. Esses são Lula, o PT e seus devotos.
O que não faz sentido é propor a refundação do PSDB. Só se pode refundar o que foi fundado, e o PSDB oposicionista nunca existiu.
Por Augusto Nunes, da Veja