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Duas mortes por falta de diálise

“Minha mãe está internada no CTI do Hospital Ophir Loyola desde ontem à noite. Temos esperança que se recupere com o tratamento adequado”. A fala de Osório Barbosa de Carvalho, filho de Raimunda Barbosa Carvalho, 85 anos, durou pouco. Raimunda, que há 22 dias aguardava tratamento de hemodiálise no Pronto-Socorro da 14 de Março ou transferência para outro hospital, morreu às 16h32 desta quarta-feira (23), no Hospital Ophir Loyola, por insuficiência renal.
A mesma causa da morte de Raimunda Ribeiro Dias, 67 anos, paciente renal crônico que esperava há quase dois meses pelo tratamento de hemodiálise, por falta de leito. Ela foi atendida no Pronto-Socorro do Guamá que a encaminhou a um hospital particular para o procedimento, mas não havia leito.
“Eu vim no horário de visita e houve um atraso de meia hora. Era o tempo em que os médicos estavam tentando reanimá-la”, disse o filho mais velho de Raimunda Carvalho, Clementino de Carvalho.
Rosanete Silva ficou ao lado da paciente durante boa parte da internação. “O nefrologista chegou a pedir que a transferissem com urgência, pois estava com insuficiência renal crônica e precisava fazer diálise e lá (Pronto-Socorro da 14) diziam que tinha três aparelhos que não funcionavam no CTI”.
A família recorreu ao Ministério Público Estadual para conseguir um leito para Raimunda. “Mas só conseguimos na terça-feira de noite. Mesmo assim, quando chegamos no Ophir Loyola ficamos uma hora e meia aguardando na ambulância, pois disseram que o leito disponível não era pra ela. Minha avó chorava de dor, e tiramos ela do carro e colocamos na maca umas três vezes, até que a assistente social liberou a internação. Já era quase meia-noite”, lembra Rosanete. “O médico que nos recebeu ainda foi grosseiro e questionou como eu sabia que ela tinha insuficiência renal.”
O promotor dos direitos do idoso do MPE, Waldir Macieira, explicou que o leito foi requisitado sob pena do poder público responder por omissão de socorro de forma criminal e perante o Estatuto do Idoso, que versa sobre a prioridade de atendimento.

MÁQUINAS PARADAS

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), 128 pessoas estão na fila de espera da hemodiálise no município, sendo que apenas 70 são de Belém.
Ainda segundo a Sesma, seis máquinas portáteis de hemodiálise serão instaladas no Pronto-Socorro da 14 de Março) para tratar casos agudos. Só estaria faltando a licitação para a instalação - a previsão de funcionamento é até 15 de março.
A Sesma alerta, no entanto, que as máquinas serão para casos emergenciais e que o tratamento continuado com hemodiálise no Pará é de competência do Estado. O Ophir Loyola e o Hospital de Clínicas são os hospitais de referência para esse tratamento.
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) esclareceu que foi reativada a Câmara Técnica de Nefrologia e retomado o Plano Estadual de Nefrologia para reverter as dificuldades no tratamento de renais crônicos. A Sespa também informou por nota que concluiu ontem a “negociação” com o Hospital Santo Antonio Maria Zaccaria, em Bragança, para colocar em funcionamento as dez máquinas de hemodiálise que estão paradas lá. A Sespa não informou, no entanto, quando as máquinas voltarão a funcionar.
 
 Por Diário do Pará