|

Governo aumenta repressão a protestos no Bahrein, mas promete diálogo político amplo

MANAMA - Na tentativa de conter o princípio de revolta popular que, com os confrontos nas ruas nesta sexta-feira, teve um de seus momentos mais violentos, o rei do Bahrein, xeque Hamad bin Isa al-Kahlifa, se comprometeu a abrir um diálogo político "com todas as partes". A tarefa de tentar contornar a crise caberá a Salman Bin Hamad al-Khalifa, seu filho.
Já como emissário do pai, o príncipe falou na TV estatal e exigiu que a calma seja retomada imediatamente. Ele alertou ainda que, se medidas não forem tomadas, as divisões sectárias podem levar o Bahrein a uma guerra civil.
- Eu peço a todos vocês: Por favor, restaurem a calma que eu prometo que haverá um diálogo nacional sem condições e limites. A única condição é que vocês aceitem e respeitem uns aos outros - disse.
A violência explodiu nesta sexta durante o enterro das vítimas da violenta ofensiva militar contra manifestantes xiitas que acampavam na Praça da Pérola, em Manama. A cerimônia foi o pretexto para milhares ignorarem o estado de emergência e lotarem novamente as ruas do centro da capital.
Para evitar novas aglomerações, o Exército reagiu com violência e, segundo testemunhas, teria aberto fogo contra a multidão, deixando pelo menos um morto e 50 feridos.
A ação contra a manifestação pacífica incluiu helicópteros, que teriam disparado contra as pessoas em fuga em meio a nuvens de fumaça causadas por bombas de gás lacrimogêneo. Motoristas de ambulâncias, intimidados pelo governo, foram impedidos de prestar socorro.
O episódio ganhou rápida condenação. Em discurso a milhares de fiéis, um dos principais líderes religiosos xiitas do Bahrein, Issa Qassem, classificou o ataque contra manifestantes como um massacre e disse que, agindo dessa forma, as autoridades do importante aliado dos EUA fecharam as portas para o diálogo.
Na quinta-feira, o Exército assumiu o controle da capital e, em anúncio transmitido pela TV, proibiu a realização de novos protestos, decretando estado de emergência. Desde então, cinco pessoas morreram na repressão - quatro quando os militares atacaram um acampamento de manifestantes em Manama e uma no enterro desta sexta.
Os protestos no Bahrein têm inspiração nas revoltas que derrubaram os ditadores de Tunísia e Egito, que influenciam também vários outros países da região, como Líbia, Iêmen, Jordânia e Marrocos.

País é aliado estratégico dos EUA

Menor país do golfo Pérsico, o Bahrein tem apenas 800 mil habitantes, mas conta com uma importância estratégica enorme. O reino cercado pela Arábia Saudita e pelo Qatar tem uma posição privilegiada que chama a atenção de potências ocidentais, de olho na zona que concentra uma das maiores reservas mundiais de petróleo.
Os Estados Unidos são fortes aliados e usaram suas bases para atacar o Iraque nas duas guerras no país (iniciadas em 1991 e em 2003). Os americanos também mantêm no Bahrein a sede de sua V Frota da Marinha. Apesar das alianças e da riqueza vinda do petróleo, do gás e, mais recentemente, do turismo de luxo, o país enfrenta tensões.
A maioria xiita, que representa 80% da população, é governada há mais de 200 anos pela dinastia sunita da família al-Khalifa. À frente, está o rei Khalifa Hamad bin Isa al-Khalifa, coroado em 2002. O enfrentamento entre as duas etnias está na origem dos atuais protestos no país. 

Por O Globo