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Oposição cria Conselho Nacional para transição na Líbia

As forças de oposição líbias anunciaram neste domingo sua intenção de criar um Conselho Nacional com representantes de todas as zonas do país livres do controle político do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder.
Abdelhafiz Hoga, porta-voz da chamada Coalizão Revolucionária do 17 de Fevereiro, afirmou em Benghazi, segunda maior cidade do país e controlada pela oposição, que a missão desse conselho será "dirigir o processo de transição". 
"Não é um governo de transição. Trata-se de um Conselho Nacional que terá sua sede em Benghazi, porque Trípoli não está livre", enfatizou o porta-voz da coalizão, que coordena as ações políticas nas diversas cidades ocupadas pelos oposicionistas do regime de Gaddafi.
Hoga não mencionou quem será o presidente desse órgão nem por quantos membros ele será integrado, mas assinalou que o conselho está agora em processo de formação e que incluirá representantes de todas as cidades.
A oposição líbia garantiu o controle da região oriental da Líbia, inclusive de Benghazi, mas também de outras cidades mais próximas à capital, Trípoli, reduto de Gaddafi.
"Assim que os conselhos locais tiverem conseguido estabelecer a segurança nas diversas cidades livres, o Conselho Nacional terá um trabalho político e se encarregará de dirigir o processo de transição", acrescentou o porta-voz.
Hoga foi perguntado sobre o anúncio feito no sábado à noite pelo ex-ministro da Justiça líbio Mustafa Mohamed Abud Al Jeleil, quem afirmou que a oposição formará um governo de união nacional integrado por civis e militares, e antecipou em três meses as eleições.
"Ele é responsável do que diz. É seu ponto de vista, não o da coalizão", afirmou o porta-voz, afastando-se claramente da iniciativa lançada por Abud Al Jeleil, quem renunciou como titular de Justiça por causa da sangrenta repressão dos protestos populares no país.
"Como serão realizadas eleições em três meses se Trípoli não está libertada?", perguntou-se o porta-voz da coalizão. "Essa será uma questão que será analisada mais adiante". 

CONFLITO
 
A onda de protestos na Líbia teve início no dia 16 de fevereiro em Benghazi, segunda maior cidade do País. Centenas de manifestantes queriam a libertação de um ativista de direitos humanos. Rapidamente a manifestação voltou-se contra o regime e passou a exigir a renúncia de Gaddafi, e pouco depois grupos de defesa do ditador também saíram às ruas.
No dia seguinte outras cidades registraram protestos --Al Bayda, Zentan, Rijban e Darnah-- até que a capital, Trípoli, também fosse tomada por milhares de manifestantes.
Ainda no dia 14 de janeiro, a Revolução do Jasmim levou o ditador da Tunísia, Zine el Abidine Ben Ali, a abandonar o país. Menos de um mês depois, no dia 11 de fevereiro, Hosni Mubarak renunciou ao poder no Egito após comandar o país com mão de ferro durante 30 anos.
Embora em Túnis e no Cairo também tenha ocorrido o uso de violência para conter os protestos, deixando centenas de mortos, a repressão aos civis na Líbia causou revolta às Nações Unidas e a diversos países.
No último dia dos protestos, o governo chegou a enviar caças de guerra a Trípoli com ordens de abrir fogo contra os manifestantes. Alguns pilotos, no entanto, negaram-se a atirar contra seus próprios compatriotas e desertaram, pousando suas aeronaves na ilha de Malta, mesmo que sem autorização das autoridades.

Por Folha