Aliados atacam Líbia; país pede reunião no Conselho de Segurança
O governo da Líbia pediu por uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), informaram neste domingo (noite de sábado no Brasil) as emissoras de TV árabes Al Jazeera e Al Arabiya. O pedido ocorre após o Pentágono ter confirmado que navios de guerra americanos e britânicos lançaram um ataque a cerca de 20 alvos do sistema integrado de defesa área da Líbia, a primeira etapa da operação internacional Odissey Dawn, algo como Odisseia do Amanhecer.
"A Líbia, como um Estado independente e membro das Nações Unidas, pediu a celebração de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU após a agressão de França, Reino Unido e Estados Unidos contra si", afirmou o departamento de Relações Exteriores.
O comunicado considerada que o ataque realizado neste sábado pelos aliados é "uma agressão que ameaça a paz e a segurança internacionais" e assegurou que foram registradas mortes de civis e danos a hospitais na ofensiva ocidental.
"Esta agressão aérea e marítima teve como alvo várias regiões civis do oeste do país e deixou vítimas civis e danos a hospitais, aeroportos e estradas, entre outros alvos civis", diz o texto.
Segundo o regime líbio, essa agressão deixa sem efeito "a resolução 1.973 sobre a exclusão aérea".
Nesse sentido, o comunicado considera que os ataques das forças aliadas dão à Líbia "o direito de usar sua aviação militar e civil em ações de autodefesa depois que a França [com seus ataques] acabou com a exclusão aérea".
O Conselho de Segurança da ONU aprovou na última quinta-feira (17) uma resolução autorizando a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e o uso de "todas as medidas necessárias" --código para ação militar-- para proteger os civis no país do norte da África. Neste sábado, forças ocidentais lançaram um ataque contra alvos líbios.
O ataque foi focado em bases de defesa aérea no oeste da Líbia, onde estão concentradas as forças do ditador líbio, Muammar Gaddafi. Os alvos incluem bases de ataque de mísseis terra-ar e os sistemas de comunicação das Forças Aéreas. O primeiro ataque foi lançado às 16h e, no total, 112 mísseis foram lançados.
"A maior parte das forças do governo líbio fica nesta região. Foram escolhidas bases que representam ameaça direta ou estavam sendo usadas para atacar o povo líbio", disse o porta-voz do Pentágono, almirante Bill Gortney.
Segundo o porta-voz, mísseis de cruzeiro Tomahawk foram lançados de navios americanos no Mediterrâneo.
O objetivo primário era destruir a defesa de Gaddafi contra os aviões militares que entrarão nas próximas etapas da operação, que tem como objetivo final impor a zona de exclusão aérea no país. A medida foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), na noite de quinta-feira passada.
"Nossa missão é desenhar o espaço de batalha para que nossos parceiros possam executar [a operação]", resumiu.
Gortney diz ainda que as operações visam a evitar ataques das forças do governo contra os rebeldes da oposição e civis, "principalmente em Benghazi", reduto dos rebeldes líbios no leste do país.
O Pentágono diz que a avaliação dos resultados do ataque deve demorar, já que são necessárias entre seis e 12 horas para terem os primeiros dados.
Gortney ressaltou ainda que os EUA não mantêm aviões no país e, em nenhum momento, chegou a enviar forças terrestres ao país africano.
A declaração confirma o que um funcionário americano disse mais cedo à agência Reuters, de que o governo Obama quer limitar seu envolvimento, ao menos nas fases iniciais da crise e que as forças americanas devem focar os esforços na proteção das missões aéreas da França e outros países.
Gortney afirmou ainda que o comando da operação deve passar "nos próximos dias" para a Polônia.
O Pentágono disse ter apoio da comunidade internacional para a ação. Segundo a fonte consultada pela Reuters, participam da operação Itália, Reino Unido, Canadá e França.
Cerca de 25 navios, incluindo três submarinos armados com mísseis Tomahawk, estão estacionados no Mediterrâneo. Cinco aviões de vigilância também estão na área.
Horas antes, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, reforçou o apoio americano à intervenção internacional na Líbia e ressaltou que o objetivo é proteger a população. "Nós temos todas as razões para temer que, se não fizermos nada, Gaddafi vai realizar atrocidades indescritíveis", disse.
POR AR
Mais cedo, um caça francês lançou neste sábado o primeiro ataque internacional contra as forças de Gaddafi, desde que a resolução do Conselho de Segurança sobre a intervenção foi aprovada, na noite de quinta-feira.
O alvo foi um veículo militar líbio, segundo o Ministério de Defesa francês. O porta-voz do ministério, Thierry Burkhard, disse que o ataque foi lançado às 16h45 GMT (13h45 em Brasília), quando o jato atirou contra o veículo militar.
Burkhard não deu mais detalhes sobre o local do ataque ou possíveis vítimas. Ele disse, contudo, que nenhum ataque contra os jatos franceses foi registrado.
O canal de TV árabe Al Jazeera, que cita fontes anônimas, diz que os aviões de guerra franceses já destruíram quatro tanques líbios, no sudoeste da cidade de Benghazi. O relato não foi confirmado.
REAÇÃO DE GADDAFI
O ditador da Líbia afirmou neste sábado que irá armar civis para defender o país do que ele chamou de agressão "colonial, de cruzada" por forças ocidentais.
"Agora é necessário abrir as lojas e armar todas as massas com todos os tipos de armas para defender a independência, unidade e honra da Líbia", afirmou Gaddafi em um discurso transmitido na televisão estatal horas após os ataques terem começado.
"Pedimos para os povos e cidadãos das nações árabes e islâmicas, América Latina, Ásia e África para apoiar o heroico povo líbio para confrontar essa agressão, que apenas aumenta a força, firmeza e unidade do povo líbio."
O ditador ainda afirmou que o Mediterrâneo o norte da África agora são um campo de batalha, e que os interesses dos países na região estarão em perigo a partir de agora, em uma suposta referência às nações que acordaram a intervenção militar.
"Esta é uma agressão imperialista cruzada capaz de desencadear uma guerra cruzada generalizada", disse Gaddafi, que ressaltou que a Líbia usará seu direito de autodefesa previsto pelo artigo 51 da Carta da ONU.
Ele ressaltou ainda que as operações aliadas são "injustificáveis" e "darão nascimento a uma guerra de religiões".
O breve discurso de Gaddafi foi transmitido de forma abrupta pela TV líbia, que havia anunciado o pronunciamento com antecedência. O canal interrompeu sua programação e transmitiu a mensagem de áudio, com uma imagem do palácio do ditador ao fundo --o prédio foi destruído pela aviação americana em 1986. Apenas depois do fim da mensagem o apresentador disse: "Esse era o líder, o senhor da Líbia".
Por Folha